sábado, 10 de janeiro de 2015

Um mundo ainda mais desigual em 2014

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O relatório “Credit Suisse 2014 Wealth Report” aponta que 0,7% da população concentra 44% da riqueza mundial, enquanto 69,8% da população mundial detém apenas 2,9% da riqueza

As 400 pessoas mais ricas do planeta ampliaram sua fortuna em 92 bilhões. Agora, 0,7% da população concentra 44% da riqueza mundial, enquanto 69,8% têm acesso a apenas 2,9%


O lucro de multimilionários como o chinês Jack Ma, líder do Alibaba, contrasta com a desigualdade que alargou o abismo entre ricos e pobres neste ano.

As pessoas mais ricas do planeta ficaram ainda mais ricas em 2014, adquirindo pelo menos 92 bilhões de dólares na sua fortuna coletiva, revelou o Índice de Bilionários da Bloomberg. O patrimônio líquido dos 400 multimilionários mais ricos do mundo foi de 4,1 biliões de dólares conforme dados divulgados em 29 de dezembro de 2014.

De acordo a agência de notícias financeira norte-americana, os lucros deste ano acontecem no meio da queda nos preços da energia. A Bloomberg também responsabiliza a “turbulência geopolítica” incitada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que teria favorecido alguns desses multimilionários.

Percentagem de milionários por país de residência

Em 2014, o principal vencedor foi Jack Ma, co-fundador do Alibaba Group Holding Ltd., a maior empresa de comércio eletrónico da China. Ma, um ex-professor de inglês de 50 anos que iniciou a empresa no seu apartamento em 1999, obteve um lucro anual de 25,1 bilhões de dólares, ultrapassando Li Ka-shing, o então homem mais rico da Ásia.
Além de Ma, outros dois ganhadores neste ano foram Warren Buffett e Mark Zuckerberg, nos Estados Unidos. Diretor executivo da empresa Berkshire Hathaway, Buffet obteve lucro de 13, 7 bilhões de dólares. Já o criador do Facebook acrescentou à sua riqueza mais 10, 6 bilhões de dólares nos últimos 12 meses.

Em 2014, Buffet ultrapassou no posto de segundo homem mais rico do mundo o multimilionário mexicano Carlos Slim, que lidera um conglomerado de comunicações. O cargo de mais rico do planeta ainda é do co-fundador da Microsoft Bill Gates, que mantém uma fortuna de 87, 6 bilhões. No Brasil, Jorge Paulo Lemann, o mais rico do país, teve aumento de 3,2 bilhões no seu bolso.

De acordo com o grupo Oxfam, em relatório publicado em outubro deste ano, o número de multi milionários do planeta dobrou desde 2008, quando se deu inicio à crise financeira à escala global. De acordo com o material, as 85 pessoas mais ricas têm o equivalente à metade mais pobre do mundo.

À Agência Brasil, o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst, explicou que entre as causas da desigualdade, que aumenta cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, está o “fundamentalismo do mercado”, que promove um crescimento económico, beneficiando apenas a elite.

O relatório “Credit Suisse 2014 Wealth Report” aponta que 0,7% da população concentra 44% da riqueza mundial, enquanto 69,8% da população mundial detém apenas 2,9% da riqueza. Em 2013 os 0,7% mais ricos concentravam 41% da riqueza mundial.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Kátia Abreu, 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários desde 2003

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Por Igor Felippe

A nova ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PMDB), disse em sua primeira entrevista depois da nomeação que não existe mais latifúndio no Brasil, concedida a Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo (leia aqui). Assim, ela sustenta que não é necessária uma reforma agrária em massa.

Não é o que diz o cadastro de imóveis do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), levantados a partir da auto-declaração (vejam, auto-declaração) dos proprietários de terras entre 2003 e 2010.

Os dados do Incra apontam que aumentou a concentração da terra e a improdutividade nesse período (veja abaixo a tabela).


Os dados mais recentes apontam que 130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em 2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares.

Mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que possuem em média mais de 2.400 hectares.

Ou seja, existem mais latifúndios no Brasil. E estão mais improdutivos.

Os dados demonstram também que o registro de áreas improdutivas cresceu mais do que das áreas produtivas, o que aponta para a ampliação das áreas que descumprem a função social.

O aumento do número de imóveis e de hectares são sinais de que mais proprietários entraram no cadastro no Incra.

Em 2003, eram 58 mil proprietário que controlavam 133 milhões de hectares improdutivos. Em 2010, são 69 mil proprietários com 228 milhões de hectares abaixo da produtividade média.

O censo agropecuário de 1975 foi usado como referência para classificar a improdutividade dessas áreas.

O número de propriedades improdutivas aumentaria se fosse utilizado como parâmetro o censo agropecuário de 2006, que leva em consideração as novas técnicas de produção agrícola que possibilitam o aumento da produtividade.

Os dados demonstram que é possível, sim, a execução de um programa em massa de reforma agrária com a desapropriação dessas áreas, sem ameaçar os grandes produtores agrícolas.

As declarações de Kátia Abreu demonstram que a ministra representa os interesses dos segmentos mais atrasados da agricultura brasileira, que não alcançaram os patamares mínimos de produtividade, desmatam o meio ambiente e utilizam trabalho escravo.

Como esses latifundiários estão fora da lei, que determina que áreas que não cumprem sua função social sejam destinadas para a reforma agrária, precisam de “proteção” política e ideológica para evitar o cumprimento da Constituição.

Eis os interesses que a nova ministra da presidenta Dilma Rousseff defende ao afirmar que não existe mais latifúndio.


Fonte: Revista Fórum