quinta-feira, 31 de julho de 2014

O mito do Intrépido Capitalista Inovador



Nenhum desenvolvimento tecnológico importante se faz sem apoio público (seu celular é exemplo). E a iniciativa privada, inova e pesquisa? Sim, sobretudo formas de manter sua própria hegemonia

Por Leonardo Gomes Nogueira, editor de Supressão dos Costumes Selvagens

Prólogo

Um jovem navega no seu iPhone. Ele mexe em sua tela touchscreen com a mesma desenvoltura com que fala:

- O Estado é ineficiente. É um obstáculo ao desenvolvimento. Não inova. E não incentiva a inovação. É um péssimo empreendedor. Não estou certo? O Estado não é um paquiderme letárgico e incompetente?

Ele indaga para o sistema operacional do seu iPhone (sua única companhia em muito tempo). O sistema operacional fêmea reconhece a sua voz prontamente. Após uma busca (velocíssima) em seu banco de dados, a voz feminina responde parafraseando Caetano Veloso:

- Como você é burro. Que coisa absurda. Isso aí que você disse é tudo burrice. Burrice.


A cena anterior, se isso não ficou claro, é ficcional. Mas qualquer semelhança com a realidade NÃO é mera coincidência. Declarações do tipo são frequentes. Mas não se sustentam no mundo real. É apenas um sinal de burrice menos evidente. Ou, no caso de alguns, má-fé.

As tecnologias que tornam o iPhone o que ele é só foram possíveis graças ao financiamento estatal em pesquisas. No caso, bancadas pelo governo dos Estados Unidos.

Tela sensível ao toque (touchscreen), sistema operacional ativado por comando de voz e o GPS (Sistema de Posicionamento Global; que fornece ao aparelho celular a sua posição, por exemplo, em relação ao seu paquera). Tudo isso só foi possível por causa do suporte do Estado em pesquisas.

A Apple, a “criadora” do iPhone, aliás, só existe por causa do financiamento inicial do governo dos Estados Unidos. A grana que possibilitou os primeiros passos da companhia veio de um programa de investimento em pequenas empresas (o “Small Business Investment Company”).

O Google, que o nosso personagem burro usava enquanto conversava com a máquina, existe somente porque o governo dos EUA financiou a empreitada. A pesquisa que resultou na tecnologia que permite que a busca do site funcione foi bancada pela Fundação Nacional da Ciência (NSF, na sigla em inglês).

Esses e outros exemplos estão no livro “O Estado Empreendedor”, da economista Mariana Mazzucato. O livro foi lançado no ano passado e destroça a ideia de que a iniciativa privada seria o grande responsável por pesquisas que moldam o mundo atual e futuro e o Estado um mero parasita dos agentes privados.


Em entrevista concedida ao programa Milênio (do canal Globo News) no ano de 2013, Mazzucato lembra que, nos EUA, três a cada quatro medicamentos com novas entidades moleculares foram criados graças ao aporte de dinheiro público nas pesquisas (por meio dos Institutos Nacionais de Saúde; NIH, na sigla em inglês).


Remédios com novas entidades moleculares são os mais inovadores e revolucionários (ou seja: aqueles que tratam das doenças mais complexas). E o custo para o desenvolvimento desse tipo de fármaco é muito alto.

O curioso, diz a economista na entrevista concedida ao Milênio, é que o lucro resultante dessas inovações fica, na maioria dos casos, somente nas mãos das empresas privadas.

Poderíamos resumir dessa forma: o poder público financia pesquisas (dividindo ou, muitas vezes, pagando integralmente o custo desses estudos) e o principal beneficiário é o setor privado.

Nenhuma novidade: socializa-se o risco da pesquisa (que pode, ao final de muitos anos de trabalho, não gerar nenhum benefício) e privatiza-se o lucro (quando a pesquisa é bem sucedida, é claro).

Na mesma entrevista, Mariana Mazzucato faz algumas sugestões para que o Estado recupere, em parte, o dinheiro investido em pesquisas que tenham sucesso. A economista cita o caso da Finlândia.

A Sitra, um fundo público de inovação, amparou a Nokia em suas pesquisas na área de telecomunicações. Depois, ficou com parte do lucro da empresa para investir em diferentes estudos. Outra ideia sugerida pela economista é que o governo seja o dono das patentes dessas pesquisas e defina a maneira como se dará o seu uso.

No Brasil, a situação é parecida. A maioria das empresas que faz pesquisa de verdade, com raríssimas exceções, é (Petrobras) ou eram estatais (Embraer); ou conseguem financiamento para os seus estudos por meio de dinheiro público.

Um caso recente é o da Polaris. Empresa de São José dos Campos, no interior de São Paulo, que desenvolveu uma microturbina aeronáutica graças aos recursos do Finep (um fundo de pesquisa ligado ao governo federal).


De acordo com Luis Klein, um dos diretores da Polaris, apenas cinco empresas fabricam turbinas aeronáuticas em todo o mundo. O modelo em menor escala desenvolvido pela empresa brasileira é ainda mais raro: somente uma corporação, a francesa Turbomeca, hoje dominaria essa tecnologia.

No link a seguir, pra quem tiver interesse, entrevista concedida por Klein ao repórter Marcelo Cabral. Ela foi publicada em dezembro de 2013 no site da revista Época Negócios.


A iniciativa privada inova e pesquisa? Claro que sim. Sobretudo formas de manter a sua hegemonia.



quarta-feira, 30 de julho de 2014

Ode à Gaza - Resista, Gaza. Resista!



Por Nagham Salman*, Tradução do Diário Liberdade


Resista, Gaza. Resista!


Há anos vemos Gaza resistindo à ocupação e à agressão israelense... e à covardia dos líderes árabes... Gaza é palestina de identidade e de pertença... E resiste, não porque a autoridade nela seja a do Hamas. Resiste porque é Palestina! Resiste porque o povo acredita em sua liberdade e em seu direito de existir e de viver. Gaza é forte por seu povo, por sua luta pela sobrevivência.

Um povo que respira o ar da vida rodeado do odor da morte...

Só em Gaza as crianças morrem antes que os homens, e os que sobrevivem não têm nem infância nem sonhos, enquanto seus velhos não envelhecidos choram ao lado de mulheres sem desejos.

Gaza, a cidade-faixa-rodeada que tudo sacrifica para lutar pela liberdade e contra os crimes e o terrorismo sionista...

Sinto muito, Gaza. Porque enquanto estás sitiada, os árabes estão ocupados seguindo os "tuítes" e os comentários no Facebook, as sequelas do Mundial, e os programas e telenovelas do Ramadan...

Sinto muito, Gaza, porque os líderes árabes se contentam com a denúncia e a condenação na temporada de verão sufocante...

Sinto muito, Gaza, porque a resistência contra a ocupação seja considerada terrorismo, e porque se esquece que a ocupação não se acaba sem resistência.

Sinto muito, Gaza, porque tenhamos nos acostumado à notícia da morte de teu povo...

Sinto muito, Gaza, porque não podemos sequer te prometer a paz...

Sinto muito, porque não tenhas outra opção senão resistir aos crimes, com o mar mediterrâneo atrás de ti e o inimigo em sua frente.

Sinto muito, Gaza, porque enquanto nós recolhemos os brinquedos de nossos filhos, tu recolhas os restos dos pequenos corpos dos vossos...

Te pedimos desculpas, Gaza, por estar tão sozinha defendendo a dignidade humana.



*Nagham Salman é especialista em Oriente Médio.

terça-feira, 29 de julho de 2014

As origens da divisão da Palestina

As origens da divisão da Palestina

Por Lucien Gauthier

No século XVI a Palestina, como a maior parte dos territórios Árabes, se encontra sob o controle da “Sublime Porta” (o Sultão da Turquia). O Império Otomano trouxe o Próximo Oriente Árabe para as províncias administradas por pachás (governadores). O poder do Império turco tende a esgotar-se nos séculos XVII e XVIII, em proveito do poder das autoridades locais que, sem questionar a supremacia do sultão, adquirem uma grande autonomia, que não deixam de utilizar as “potências” (Grã Bretanha, França, Rússia, Áustria-Hungria) em sua competição mútua.


Do Império Otomano…

O controle dos mercadores europeus sobre a vida econômica do Império Otomano se ampliou à medida que declinava a Sublime Porta, para chegar a um estágio em que as potências européias se beneficiavam de enormes privilégios.Numa situação de uma Europa, caracterizada por um desenvolvimento do capitalismo (e da expansão colonial), a ocupação territorial do Próximo e Médio Oriente pelas “potências” esteve, pois, precedida por uma penetração econômica que levou à dissolução das estruturas sociais atrasadas do Império Otomano. Assim, já em 1849, o Egito (parte do Império Otomano) dependia da Grã Bretanha em cerca de 41% de suas importações e de 49% de suas exportações. A dominação financeira que expressava o passo ao estágio Imperialista da economia capitalista se materializava no endividamento crescente, a tal ponto que a dívida otomana se elevava em fins do século XIX a 200 milhões de libras esterlinas. A princípios do século XX se constituiu o “Conselho de Administração da Dívida Pública Otomana”, dominado pelos credores europeus, que com seus 9 mil empregados (em 1912) se arrogou praticamente o arrendamento dos ingressos fiscais do Império Turco. O Império Otomano era, como disse o czar da Rússia, “o enfermo da Europa” e as “potências” tentavam repartir seus despojos. Porém, contra os apetites da França e Rússia em particular, a Grã Bretanha se opôs ao seu desenvolvimento, considerando que um Império Otomano, ainda que débil, consistia numa melhor garantia para preservar a “ordem”, a estabilidade (já que a “dificuldade está em saber o que há para colocar em seu lugar”, declarava um político britânico, Lord Stanley) e proteger a rota das Índias do apetite dos rivais. A política britânica buscava manter o “status quo” no Próximo Oriente e impedir que outras potências interviessem ali, na medida do possível. Em 1839, a Grã Bretanha ocupou Adén para proteger a rota das Índias e lançou seus navios contra os piratas do Golfo Pérsico para proteger a navegação comercial, e chegou de fato a exercer um domínio sobre os diferentes governadores do Golfo. Entretanto, a França desembarcou na Síria em 1860 para “proteger” a comunidade cristã de “conflitos religiosos” com os drusos (conflitos que o exército otomano acabava de parar…) provocados pelas “potências” (erigindo-se os franceses como defensores dos cristãos maronitas, os ingleses dos drusos, os russos dos ortodoxos…), o poder de Constantinopla teve que aceitar a criação de uma província autônoma na região do monte Líbano – dentro do Império Otomano – dirigida por um governo cristão (as tropas francesas permaneceram ali até 1971).


Várias revoltas árabes contra a Sublime Porta são sustentadas e animadas pelas potências – para debilitá-la, não para derrubá-la – pois quando o governador do Egito Mehmet Alí, sobre a base de um desenvolvimento real do Egito, derrota os exércitos otomanos. As tropas russas acodem em ajuda do Império Otomano, e Grã Bretanha e França obrigam Mehmet Alí a abandonar suas conquistas sírias. Depois da infrutífera tentativa do governador (pachá) de transformar o Egito em uma potência industrial, o país caiu sob uma crescente dependência da Grã Bretanha. Tanto mais quando, desde a abertura do Canal de Suez, em 1869, o Egito ocupa um lugar central para a Grã Bretanha. O endividamento e a crise financeira egípcia impõem ao neto e sucessor de Mehmet Alí, lsmael, a venda da parte egípcia do canal ao governo britânico, que se converte, assim, no principal acionista, porém o déficit subsiste. Dois anos mais tarde, o “caixa da divida” (franco-britânica) toma a seu cargo as finanças do Egito. Em 1881, ante uma revolta iniciada por oficiais do exército egípcio, que se estendeu a todo o povo, Grã Bretanha interveio bombardeando Alexandria e ocupando militarmente o país, de maneira supostamente temporária: essa ocupação não acabará até 1956. O Sudão foi conquistado em 1898 pelos britânicos através de feroz repressão.Por sua parte, sob a máscara do clero russo, o czar multiplica as compras de terras na Palestina, mostrando ao kaiser da Alemanha que sustenta e anima a colonização de terras na Palestina por meios moderados. Finalmente, o movimento sionista1, que nasceu na Europa Oriental, organizou as primeiras ondas de pioneiros judeus da Europa, instalando-se, no final do século XIX, na Palestina, com a intenção explícita – contrária à atitude da comunidade judia de 20 mil pessoas que residiam já na Palestina desde o século XIV – de colonizá-la: “Fomentar, por princípio, a colonização da Palestina por judeus operários agrícolas, trabalhadores em construção civil e de outros ofícios” (resolução do 1º Congresso Sionista Mundial, de Basiléia, em agosto de 1897). Porém o movimento e perspectivas sionistas (um “estado judeu” para o que se pensou inicialmente em territórios da América Latina, logo em Uganda e finalmente na Palestina) são amplamente minoritários entre as massas judias da Europa que, em grande parte, se encontram dentro das organizações socialistas, como a organização operária judia, o Bund, que combate com vigor o sionismo. Como assinalam A. Gresh e D. Vidal (Palestina 1947, uma Divisão Abortada, Edition Complexe):

“O sionismo se alimentou na Europa central e oriental da conjugação de três fenômenos próprios do século XIX: a decomposição da estrutura feudal dos impérios czaristas e austro-húngaro que minou os fundamentos sócio-econômicos da vida judia, as condições da evolução capitalista que bloquearam o processo de proletarização e de assimilação, e a escalada brutal do anti-semitismo mais violento que precipitou centenas de milhares de judeus ao caminho do exílio…

Em direção à Palestina? Não, na maior parte para a América. Dos 2 ou 3 milhões de judeus que estiveram entre 1882 e 1914 na Europa Central, menos de 70 mil se instalaram na Terra Santa e. muitas vezes com caráter muito passageiro. Os dirigentes sionistas não a ignoravam. Nem a miséria de seus correligionários submetidos ao czar, nem a discriminação de todo tipo, nem sequer os pogroms bastavam para transportá-los massivamente para a Palestina. Entretanto, com o apoio de uma grande potência… Assim, o criador da organização sionista ressaltou ante o sultão, além da contribuição que podia considerar para as finanças otomanas, a ajuda que os judeus palestinos podiam representar para sufocar a “ameaça de uma insurreição árabe”.

Uma mensagem destinada a Bismark assinalava que “a implantação de um povo neutro na rota mais curta para o Oriente pode ter uma imensa importância para a política oriental da Alemanha”. Um povo, além disso, “obrigado quase em todas as partes a incorporar- se aos partidos revolucionários”. Herzl utiliza o mesmo argumento com De Witte e Von Plehve, ministros russos e investigadores dos pogroms: “Se, se instala na Palestina uma colônia do povo judeu, os elementos radicais se veriam obrigados a tomar parte no movimento”, em caso contrário, “a frustração dessas esperanças modificaria toda a situação”, em proveito dos“partidos revolucionários”… vãs tentativas: a Palestina judia será britânica ou não será… A condição, não obstante, de convencer (a Grã Bretanha) de que o projeto sionista corresponde ao seu interesse, e não nas distantes regiões africanas ou latino-americanas, que em um tempo se tiveram em consideração, mas sim, no melhor lugar, a Palestina. (Págs. 42-43). De entrada, o movimento sionista, minoritário entre as massas judias, se subordina às potências capitalistas oferecendo-lhes uma massa de manobra para a sua conquista, especialmente a Grã Bretanha que aparece como a potência mais importante.

…à dominação britânica

Com efeito, o período da Primeira Guerra Mundial veio a ser o do submetimento do Império Otomano às “potências”. Em vésperas daquela, se estima que as inversões européias no Próximo Oriente se elevaram a 24 milhões de libras esterlinas, no caso da Grã Bretanha, 3.300 milhões de francos por parte da França e 1.800 milhões de francos no que concerne à Alemanha (nesse mesmo período a dívida otomana já passava os 63 milhões de libras). Porém, ao mesmo tempo, aparecem e se desenvolvem a maior parte das organizações árabes nacionalistas que querem libertar-se do jugo otomano, e em geral da dominação estrangeira. Em 1906, os britânicos, reprimem brutalmente uma rebelião no Egito. A situação que se cria no Império Otomano exige às “potências” irem mais longe no controle da região. Em 1914, o Egito passa a ser protetorado britânico, mostrando que a influência inglesa se estende na região do Golfo. Em 1917, tem lugar a ocupação da Mesopotâmia e a “declaração Balfour” por onde a Grã Bretanha prevê e prepara a dominação da Palestina, todavia, recordemos, parte do Império Otomano. Em 1916, estoura a rebelião dirigida por M. Kemal, na Turquia, que abolirá o Império da Sublime Porta e fundará a “República da Turquia”. Na Península Arábica, o potentado árabe Ibn Saúd, instigado pelos britânicos, empreende suas primeiras conquistas contra o Império Otomano (aliado do austro-húngaro e da Alemanha na Primeira Guerra Mundial). Ao finalizar a Primeira Guerra Mundial, o Império otomano, derrotado, é desmembrado. A França ocupa a Síria em 1920, em 1926, o Iraque é submetido a mandato britânico, e em 1927 as conquistas de Ibn Saúd são “reconhecidas” pela Grã Bretanha. Assim, como o Tratado de Versalhes havia multiplicado na Europa, e em particular na região balcã-danubiana, “diques de estados vassalos”, na expressão do IV Congresso da IC, seu equivalente para o Império Otomano, o Tratado de Sévres, multiplicou os “protetorados” no Próximo Oriente. Pois se a Grã Bretanha havia sustentado e mantido a unidade do Império Otomano com todas as suas forças durante decênios, esta posição se fez insustentável desde 1913 e impossível depois da Primeira Guerra Mundial: o desmembramento do Império Otomano estava na ordem do dia. Esta balcanização do Próximo e Médio Oriente se concretizou nos acordos secretos franco-britânicos de 1916, conhecidos com o nome de negociações “Sykes-Picot”, concluídas em conformidade com a Rússia czarista. A Grã Bretanha exercia já um protetorado de fato no Egito e no Golfo Arábico-Pérsico. Lord Kitchener, amo do Egito, planejava romper a região meridional da Síria até Jaifa e Acre para formar ali uma unidade territorial separada, sob o controle britânico. Mostrando, ao futuro coronel Lawrence (agente e mercenário britânico no centro da “rebelião árabe” contra os turcos), na ocasião de sua visita à Palestina em 1911, escrevia que seria melhor “que os judeus colonizassem o país o quanto antes possível”.

A dominação imperialista

Os acordos secretos Sykes-Picot foram feitos públicos pelos bolcheviques em 1917, após a queda do antigo regime.

“Desde princípios de 1916, tiveram lugar em Londres conversações entre os diplomatas Mark Sykes e Georges Picot. Concluíram no mês de março com um protocolo ratificado por seus governos como parte de um futuro arranjo anglo-franco-russo, conhecido com o nome de acordo Sykes-Picot. Segundo este protocolo, a Ásia Árabe (mais a península arábica) ficava dividida em cinco zonas: zona azul e zona vermelha, sob controle direto da França (azul) e da Inglaterra (vermelha); zona rodeada de azul e zona rodeada de vermelho aonde se reconheceria a soberania Árabe que se conservam zonas de interesses francês e inglês. Finalmente, uma zona marrom que considerava a Palestina, menos Jaifa (que se reservava à Inglaterra) e que ficaria submetida o controle internacional. Estes acordos ignoravam por completo as aspirações nacionais Árabes. Mediante um jogo hipocritamente diplomático, as zonas rodeadas de azul e vermelho (Síria e Mesopotâmia) se reservavam para protetorado das duas potências. Quanto à cláusula de internacionalização da Palestina, M. Sykes a havia aceitado por duas razões: era preciso ter em conta os interesses da Rússia, protetorados ortodoxos, que tinha intenção de estar presente em Jerusalém, e cuja participação no acordo estava prevista, porém, sobretudo era preciso opor uma barreira às ambições da França, que pretendia exercer seu controle sobre a “Síria histórica”, que compreendia o Líbano, como também a Palestina. Esta barreira era a internacionalização da região, a que os franceses não podiam, razoavelmente opor-se.

Porém, esta solução não satisfazia o governo britânico, seduzido pela idéia do “bastião Palestino”. Lloyd George qualificou o acordo endossado pelo seu predecessor de “documento estúpido”. M. Sykes reconheceu que não estava orgulhoso dele. Para modificar a seu favor a cláusula palestina, a Inglaterra necessitava da limitação sionista. Assim pois, não há que surpreender-se do zelo sionista que manifestou a partir desse momento, nem do papel capital que desempenhou M. Sykes, com o apoio de seu governo, ante Weiszmann e seus amigos (a Organização Sionista Mundial), induzindo-os a que apresentem ao gabinete da guerra uma versão aceitável do que iria converter-se na declaração Balfour”. (A declaração Balfour. As origens de Israel, por J. P. Alen).

Assim, deliberadamente o imperialismo britânico buscará utilizar o movimento sionista, facilitando a imigração judia para a Palestina contra as massas Árabes, seguindo a velha consigna de dividir para vencer, e para assegurar sua hegemonia regional contra seu “aliado”, o imperialismo francês, já que “a questão chave é a das zonas de influência (francesa no norte, inglesa no sul), já que seu estatuto não pré-julga os territórios Árabes que ficaram submetidos às ditas influências. Em uma palavra, os britânicos podem considerar que os acordos Sykes-Picot deixam a porta aberta a seu projeto de reino(s) árabe(s).Já que a Grã Bretanha deseja anexar a região de Bassora. ambicionada pelo Império das Índias.Aspirava também instituir um poder árabe no lugar do que exerce o sultão otomano. Isto iria acompanhado da instauração na península arábica e a meia luna fértil. de estados árabes “clientes da Grã Bretanha”. (Atlas dos Povos do Oriente, págs. 57-58, La Decouverte). Em segredo, o chefe Hussein, de Meca, aceita as propostas anglo-francesas. Membro do clã dos hachemitas da tribo do Profeta, os britânicos pretendem utilizá-lo como contrapeso religioso e simbólico frente ao sultão otomano e para canalizar em seu proveito a luta dos povos, reunindo-os sob a bandeira de uma suposta “nação árabe”. Proclama a “rebelião árabe” em maio de 1916, generosamente alimentada com fundos da Grã Bretanha e apoiada militarmente pela Grã-bretanha e França. Os britânicos tomam Bagdá em março de 1917. Durante o verão, as forças árabes mandadas por um filho de Hussein, Faisal, operam no sul da atual Jordânia contra os otomanos. Em dezembro, os britânicos estão em Jerusalém. Entretanto, o Ministro dos Assuntos Exteriores da Grã Bretanha, A. Balfour, em uma carta a Lord Rothschild (a carta preparada conjuntamente pelos dirigentes da Organização Sionista Mundial e M. Sykes – teve oito projetos entre julho e novembro) anuncia: “o governo de sua Majestade considera favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um Estado nacional para o povo judeu”, afirmando assim as pretensões britânicas com respeito à Palestina, teoricamente zona neutra internacional, segundo os acordos Sykes-Picot. Já que, além do chamamento do Ministro Balfour à constituição de um “Estado nacional judeu”, a Grã Bretanha afirmava assim o desejo de estender seu domínio sobre o conjunto dos territórios da Palestina, ligando com ele o Egito aos territórios do Iraque e da península arábica, até à Índia. Os exércitos britânicos iriam demonstrar isso na prática. As operações decisivas na Síria começam em setembro de 1918. As forças britânicas permitem Faisal entrar em Damasco em primeiro de outubro. Um mês mais tarde, a Síria está sob o controle britânico. Depois do armistício firmado com os otomanos (trinta de outubro de 1918), os britânicos continuam avançando. Estendiam sua influência em detrimento da França. Esta se vê obrigada a ceder Mosul e Palestina aos britânicos, e descobre que, da Síria, os britânicos não lhe concediam mais que a administração do litoral sírio-libanês. A Síria interior é confiada a Faisal. Este firma um protocolo de acordo com o líder sionista Weiszmann, considerando aos sionistas e a declaração Balfour como um repúdio dos acordos Sykes-Picot e se coloca sob o controle da Grã Bretanha (o artigo 9 do acordo firmado em 3 de janeiro de 1919 por Faisal e Weiszmann precisa: “qualquer diferença que puder surgir entre as partes contratantes se submeterá ao arbítrio do governo britânico”), o que constitui uma arma eventual contra as ambições francesas.

“No entanto, os britânicos terminam por colocar-se de acordo com os franceses em novembro de 1919; suas tropas evacuam as zonas sírio-libanesas que os acordos Sykes-Picot haviam assinalado à França. Faisal aceita tratar com esta última, porém, o Conselho Geral Sírio proclama, em março de 1920, um reino unido da Síria e lhes oferece sua Coroa. No mês seguinte a França e Grã Bretanha decidem a repartição dos “mandatos” [NLDR: a Sociedade de Nações (SDN) precedente da ONU, que Lênin qualificava de “cova de ladrões”, “confiou” às potências vitoriosas “mandatos” sobre os territórios, sobre a base do desmembramento do Império Otomano]: Síria e Líbano para uma, Palestina e Iraque para a outra. É o fim do projeto da Grande Síria. Em julho, as forças francesas esmagam os sírios. Faisal se refugia na Palestina. Na Palestina os elementos pró-sionistas da Administração britânica jogam suas cartas com êxito e estabelecem eles mesmos o término do mandato em 1920.Conseguem que a França ceda a Galiléia e a bacia alta do Jordão como desejam os sionistas. No entanto, a Transjordânia lhes escapa. Administrada por Faisal, até meados de 1920, se converte depois em “resnullius”. Abdallah, irmão de Faisal, se instala ali em novembro de 1920 com a intenção de intervir na Síria, contra a opinião dos sionistas, que queriam incorporar a orla esquerda do Jordão à Palestina. Os britânicos aproveitam a ocasião, e, em março de 1921, nomeiam Abdallah, governador da “Transjordânia”. (Atlas dos Povos do Oriente, pág. 58).

Cortando a carne das nações, dividindo e desmembrando os povos – criação artificial da Transjordânia sob o mando de um Emir às ordens dos britânicos, por exemplo, separado do resto da Palestina onde a Grã Bretanha favorece aos sionistas e a imigração judia dirigida contra as massas árabes – procura o imperialismo assegurar seu domínio sobre as massas, com a colaboração dos sionistas e dos potentados locais. Em todos os territórios situados sob o mandato, a repressão foi extremamente brutal. De 1920 a 1926, os generais franceses Gourauid, Waygand e Sarrail aplicaram na Síria uma verdadeira ditadura militar e uma repressão sangrenta contra as massas árabes que se sublevaram em várias ocasiões, e provocaram conflitos procurando separar a população cristã dos muçulmanos. No Iraque, em fins de 1919, se desenvolveu uma verdadeira revolta contra os britânicos que explodiu durante o verão de 1920, na Thawra (a rebelião iraquiana), contra a instauração do mandato. Depois da sangrenta repressão, os britânicos decidiram substituir a administração direta por um regime árabe indo buscar Faisal, designado rei do Iraque, que sobe ao trono em agosto de 1921. Assim, os britânicos mantém o “mandato”. Igualmente na Palestina, se desenvolve uma intensa agitação contra o “mandato” britânico e a colonização sionista, com as sublevações de 1920, 1921 e 1929, também reprimidas ferozmente pelas tropas britânicas com a ajuda das milícias sionistas. É preciso que a “ordem” impere em toda a região, a fim de assegurar sua exploração e pilhagem. Não faz falta recordar que as riquezas petrolíferas do Oriente Médio têm desempenhado um papel determinante na atitude das potências. Já em 1908, concessionários britânicos descobriram uma primeira bolsa no Irã e Iraque. Assim mesmo, as negociações franco-britânicas sobre a divisão do Oriente Próximo giraram, em boa medida, em torno a sorte da antiga Turkish Petroleum Company. Em 1931, a Standard Oil dos EUA, descobre petróleo em Bombaim e obtém, em 1933, uma concessão que abarca o conjunto da Arábia Saudita. Era um acontecimento de enorme importância, cujo alcance não foi estimado em toda a sua amplitude até depois de 1945.

Em direção à divisão da Palestina

Em 1880, a Palestina pertence ao imperialismo otomano. Naquela época estavam assentados ali 25 mil judeus, em sua maior parte judeus espanhóis-sefarditas, instalados na Galiléia no século XVI. (Com efeito, grande parte dos judeus expulsos da Espanha pelos “Reis Católicos” no século XVI, encontraram refúgio no Império Otomano, em particular na Bósnia e Tessalônica, naquela província turca, mas também da Palestina, Iraque e Síria). O argumento dos sionistas “um povo sem terra (os judeus) para uma terra sem povo (Palestina)” não resiste um minuto à verdade histórica. Em sua obra A História Oculta do Sionismo, Ralph Schoenman estabelece:

“Ao final do século XIX, havia na Palestina mil povos ou aldeias. Jerusalém, Haifa, Gaza, Yaffa, Nablús, Acre, Jericó, Ramle, Hebrom e Nazaré eram cidades florescentes. As colinas estavam laboriosamente tratadas. Canais de irrigação sulcavam todo o território. Os jardins de limoeiros, as oliveiras e cereais da Palestina eram conhecidos em todo o mundo. O comércio, o artesanato, a indústria têxtil, a construção e a produção agrícola eram prósperas. 

Os relatos dos viajantes dos séculos XVIII e XIX estão plenos de datas, bem como de informes acadêmicos publicados quinzenalmente no século XIX pelo Fundo Britânico para a Exploração da Palestina. Na realidade, foi precisamente a coesão social e a estabilidade da sociedade o que levou a Lord Palmerston a propor premonitoriamente, em 1840, quando a Grã Bretanha estabeleceu o consulado em Jerusalém. a fundação de uma colônia judaica européia para “preservar os interesses mais gerais do Império Britânico”. A sociedade palestina. ainda padecendo da colaboração dos latifundiários feudais com o império otomano, era produtiva e culturalmente diversa, com um campesinato muito consciente de seu papel social. Os camponeses e a população palestina estabelecem uma distinção clara entre os judeus que viviam entre eles, e os colonizadores que sobrevieram, já que em 1820 os 20 mil judeus de Jerusalém se integravam totalmente na sociedade palestina. 

Quando, em 1886, os colonos de Petah Tíkrah trataram de expulsar os camponeses de sua terra, chocaram-se com uma resistência organizada, porém os trabalhadores judeus e os povos e comunidades vencidos não sofreram nenhuma conseqüência. Quando os armênios que escaparam do genocídio turco se estabeleceram na Palestina foram bem recebidos. Esse genocídio foi defendido por Vladimir Jabotinsky e outros sionistas em seu afã por lograr o apoio turco. 

Na verdade, até à Declaração Balfour (1917), a resposta palestina aos colonizadores sionistas foi imprudentemente tolerante. Na Palestina não havia nenhum ódio organizado contra os judeus, ninguém organizava massacres como os do czar ou anti-semitas polacos, não surgiu nenhuma reação simétrica pelo lado palestino contra os colonos armados que utilizavam da força para expulsar os palestinos de suas terras. Nem sequer as reações espontâneas que expressavam a raiva dos palestinos contra os constantes roubos de suas terras eram dirigidos contra os judeus como tais”.

Em fins do século XIX e princípios do século XX, começaram as ondas de imigrantes judeus sob os efeitos dos pogroms. “As autoridades otomanas temem que a imigração judaica reforce ainda mais a influência européia, pois apenas tem meios para opor-se a ela. A primeira onda (1882-1903) provém sobretudo da Rússia. A segunda (1904-1914) da Rússia e Polônia.” (Atlas dos Povos do Oriente, pág. 85). Em 1919, depois dessas duas ondas de imigração, estavam assentados na Palestina 60.000 judeus (muitos dos imigrados partiram de novo, em particular para os EUA), de um total de 800 mil habitantes. A saída dos judeus da Europa Oriental não encaixa com os planos dos sionistas: emigram para a Europa Ocidental e EEUU. Porém, em 1936, já são 400 mil, e em 1947, 600 mil. Este crescimento foi resultado da nova onda de imigração, protegida pelas disposições do “mandato”. Com efeito, o documento adotado pela SDN em 24 de julho de 1922, que confiava o mandato sobre a Palestina à Grã Bretanha, precisa:

“O mandatário assumirá a responsabilidade de instituir no país um estado de coisas político, administrativo e econômico. capaz de assegurar o estabelecimento do estado nacional para o povo judeu (art. 2).

(…) A administração da Palestina facilitará a imigração judaica em condições convenientes e de acordo com o organismo judaico mencionado no artigo 4. Estimulará o estabelecimento intensivo dos judeus nas terras do país, incluídos os domínios do Estado e as terras sem cultivar (art. 6)”.

Os diferentes imperialismos, ao fecharem suas fronteiras aos judeus que fugiam da Alemanha nazista, os canalizavam até a Palestina. Protegido pelas disposições do “mandato”, o estado nacional para o povo judeu se administra por si mesmo, com seu sistema de ensino, sua estrutura econômica, sua milícia, a Haganah, que chegará a converter-se em um exército. Logo que os imigrantes judeus instalam-se nas cidades, seu autogoverno tem como política a aquisição de terras. Como explica o poeta e ensaísta palestino Ghasan Kanafani (citado no livro de Ralph Schoenman):

“Apesar de que uma grande parte do capital judeu se destinara a áreas rurais, e apesar da presença de forças militares britânicas e da imensa pressão exercida pela máquina administrativa em favor dos sionistas, estes lograram somente resultados mínimos em relação à colonização da terra. No entanto, prejudicaram seriamente a situação da população árabe rural. A propriedade da terra urbana e rural por parte de grupos judeus passou de 300.000 dunums (26.800 hectares) em 1929 a 1.251.000 dunums (112.000 hectares) em 1930. A terra adquirida era insignificante desde o ponto vista de uma colonização massiva e da solução do “problema judeu”. A expropriação de um milhão de dunums – quase um terço da terra cultivável – conduziu a um grave empobrecimento dos camponeses árabes e dos beduínos. Em 1931. 20.000 famílias camponesas haviam sido expulsas pelos sionistas. Além disso, no mundo subdesenvolvido e em particular no mundo árabe, a vida agrícola não é somente um modo de produção, como também uma forma de vida social, religiosa e ritual. Por isso, a colonização, além de retirar a terra, estava destruindo a sociedade árabe rural”.

O imperialismo britânico impulsionou a desestabilização da economia palestina, concedendo um estatuto privilegiado ao capital judeu; lhes destinando 90% das concessões na Palestina, permitindo que os sionistas tomassem o controle da infra-estrutura econômica. Se estabeleceu um código de trabalho discriminatório contra a força de trabalho árabe, que derivou num desemprego em grande escala. Por isso, desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a “rebelião árabe”, incitada pelos britânicos contra o Império Otomano, deixou de sujeitar-se aos turcos como objetivo, para dirigir-se contra os novos colonizadores; a realidade social e nacional que há por trás dessas palavras se manifesta: se trata da resistência das massas palestinas empobrecidas contra o colonialismo e o imperialismo, contra os acordos Sykes-Picot, contra o “mandato” e a declaração Balfour. Os primeiros choques importantes tiveram lugar em maio de 1921, entre manifestantes sionistas e árabes. O alto comissário britânico, sir Herbert Samuel, que forma parte dos diplomatas ingleses pró-sionistas, se inquieta e, em seu memorandum ao governo britânico, sugere que se subordine a imigração judaica “à capacidade econômica do país de absorver novas chegadas, a fim de que os imigrantes não privem de seu trabalho a nenhum setor da população atual”. Em agosto de 1929, novos enfrentamentos provocam 113 mortes entre os judeus e 67 entre os árabes. Em um segundo memorandum publicado em outubro de 1930, Londres estima que “não diminuiu a margem de terras disponíveis para a colonização agrícola” e recomenda controlar a imigração. Palavras desmentidas pelos fatos e questionadas em uma carta do primeiro-ministro trabalhista MacDonald ao dirigente da Organização Sionista Mundial Weismann. Com efeito, em princípios do ano de 1920, se desenvolveu uma terceira onda de imigração de judeus do leste da Europa e, de fato, é canalizada para a Palestina depois de que, em 1924, o governo americano faz votar uma lei que restringe toda imigração aos EUA, “ao mesmo tempo em que o governo polaco toma medidas econômicas anti-judaicas. Isto provoca uma quarta onda mais importante que as precedentes.Porém, logo o fluxo se reduz até o ponto de que entre 1927 e 1929 deixam a Palestina mais judeus do que entram. A recuperação da imigração data de 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder. Além dos judeus polacos e de outros países da Europa central, a quinta onda inclui numerosos judeus alemães. Em 1936 se assentam 400.000 judeus na Palestina, a grande maioria azkenazes (judeus de tradição cultural germânica e muitos de língua yiddish)”. (Atlas dos Povos do Oriente, págs. 85-86). A oposição toma a forma de violentas manifestações de rua em 1931 e nos anos seguintes. Em 1936, os britânicos, com a ajuda das milícias sionistas, reprimem ferozmente uma greve geral de 6 meses, enquanto o mufti e os senhores feudais árabes, subordinados ao imperialismo britânico de quem obtinham seu poder, ajudam de modo decisivo ao imperialismo. O Alto Comitê Árabe, dirigido pelos potentados feudais palestinos, chama a suspender a greve em resposta a um pedido de Ibn Saúd da Arábia, do primeiro-ministro iraquiano, Nuri Said, e do Emir da Transjordânia, Abdallah que suplicam aos seus “filhos palestinos que confiem nas boas intenções dos nossos amigos britânicos, que têm assegurado que haja justiça”. Justiça? A Comissão Peel (7 de julho de 1937) fez uma proposta que consiste em dividir a Palestina em três zonas: um estado Árabe, um estado judeu e uma zona sob o mandato britânico. A Agência Judaica (ramo palestino da Organização Sionista Mundial) aceita estas conclusões com uma reserva quanto às dimensões do estado judeu. O Alto Comitê Árabe as rechaça. Ressurgem os motins: “Londres volta a pôr a repressão na ordem do dia. Vai ser feroz. As tropas inglesas, a polícia do mandato reforçada com milhares de voluntários judeus, a Haganah, o Irgun, os homens dos Nashashibi (“Partido da Defesa” do clã árabe dos Nashashibi, apoiado pela Grã Bretanha) rivalizam em assestar os golpes mais terríveis aos insurretos com a benção dos Estados Árabes pró-britânicos e dos clãs palestinos. O movimento árabe palestino não se recuperará por muito tempo dos milhares de mortos, dos inumeráveis presos e deportados, da desagregação de partidos e sindicatos”. (Palestina 47, Uma Divisão Abortada. A. Gresh e D. Vidal, pág. 55). A ordem não se restabelecerá até 1939. Na véspera da Segunda Guerra Mundial, o discurso de abertura do Congresso Pan-Árabe na Síria dizia: “A Grã Bretanha deve mudar sua política na Palestina, se não o faz, estaremos livres para nos alinharmos com outras potências Européias, cujas políticas lhe são contrárias”. Estes propósitos alarmam os dirigentes britânicos. Londres publica em 17 de março de 1939 seu último livro branco: Independência da Palestina (sem divisão) ao cabo de 10 anos, limitação da imigração judaica para 75 mil pessoas por ano. Os árabes rechaçam o acordo, enquanto Ben Gurión denuncia a “maior das traições”. Uma vez que o exército nazista foi contido em El Alamein em 1942, e depois do giro que representou Stalingrado, em 1943. a questão palestina voltou à ordem do dia para os britânicos. De novo se coloca a questão da divisão da Palestina entre um estado judeu, zonas árabes agregadas à Transjordânia do Emir Abdallah, fiel aos britânicos, que dirige seu exército e seu estado, e uma zona em torno de Jerusalém sob o controle britânico. No final da guerra, em 1945, o Partido Trabalhista ganha as eleições. Sete meses antes, durante sua Conferência Nacional, os trabalhistas propõem “o levantamento das medidas que limitavam a imigração de judeus e a adoção de medidas para alentar os árabes a ir-se, à medida que os judeus se instalem”. Os partidos “socialistas” da II Internacional jogaram, assim, um papel nada desprezível no desenvolvimento da colonização sionista. Além do mais, muitos dirigentes sionistas são membros da Internacional Socialista. Em todo o Próximo e Médio Oriente, o imperialismo procura manter seu controle recortando e dividindo os povos entre judeus e árabes, e a estes últimos entre cristãos e muçulmanos. Uma vez no poder, sob o impulso de Bevin, secretário do Foreign Office, o governo trabalhista suavizará um pouco as normas proclamadas no livro branco, sem satisfazer as exigências dos sionistas, que empreenderam ações terroristas contra as tropas britânicas. O desembarque de um contingente francês em Beirute, em maio de 1945, provocou distúrbios em Alepo, em 29 de maio. As tropas bombardearam Hons, Hamas e Damasco. Diante desta situação, o Foreign Office pressionou, apoiado pelos EUA, e a França teve que evacuar o Líbano e Síria em 1946. Porém, o germe da discórdia semeada pela França iria perdurar: desde então, o Líbano iria viver sob um regime confessional baseado na manutenção dos feudos locais dos grandes proprietários cristãos muçulmanos (esta camada que, com seu clã, representava menos de 20% da população concentrava 80% das rendas do país). Durante os anos de 1945-1947, se desenvolveu uma ampla ação operária no Egito. Em janeiro de 1946, 7 mil operários têxteis iniciaram uma greve no Cairo, que se estendeu durante as semanas seguintes, com a aparição de comitês operários que fazem um chamamento à greve geral, chamamento que a direção sindical viu-se obrigada a apoiar. Já em 1946, se desenvolveu uma onda de greves entre os ferroviários, seguidos de uma greve geral, contra a chegada da comissão anglo-americana de investigação da Palestina, uma greve de solidariedade dos trabalhadores da Iraque Petróleo, e unia greve dos trabalhadores iranianos de Abadan. Em novembro de 1946, o aniversário da declaração Balfour dá lugar a uma nova greve geral. A agitação prossegue em 1947, no porto de Bassora, culminando em protestos massivos contra o projeto de manter as bases britânicas.

“Um informe governamental de outubro de 1945 recorda que o Oriente Médio é uma região vital para os britânicos. Sobretudo pelo petróleo. Entre 1939 e 1948, a região passa da produção da oitava parte do petróleo mundial para produzir a quarta parte. Além disso, o Oriente Médio, por causa do Canal de Suez e das bases militares do Mediterrâneo oriental, representa uma ligação chave em todo o sistema de comunicação do império. Nunca pareceu tão grande a autoridade da pérfida Albión… Enganosa aparência. Primeiro, o Iraque e Egito constituem estados independentes. A Transjordânia chegará ao mesmo estatuto na primavera de 1946. Um movimento nacionalista em pleno auge questiona energicamente os Tratados que os ligam ao soberano britânico. Somente Chipre e Palestina seguem sob o controle total da metrópole. O destino depende da cooperação dos estados árabes com os que há que congraçarse e aos que convêm não desestabilizar com uma política demasiadamente favorável aos sionistas. Por sua vez, é importante conservar o domínio da Palestina, território em que dispõe de tropas no caso de distúrbios graves no Egito ou em outras partes.” (Palestina 47, Uma Divisão Abortada, pág. 63).

Porém, ao término da 2ª Guerra Mundial, o predomínio americano se expressa plenamente. Em agosto de 1945, os Estados Unidos interrompem brutalmente os empréstimos com que contribuíam no esforço bélico. O contingente de 1 milhão e meio de soldados britânicos é insustentável. Os Estados Unidos condicionam um empréstimo durante o verão de 1946, à aplicação de uma política de austeridade. A partir da Conferência aliada de Potsdam, de julho de 1945, Truman, novo presidente americano, pede a Churchill, primeiro-ministro, que levante as restrições à imigração judaica à Palestina. A partir de 1942, Washington havia tomado uma parte importante no organismo de coordenação do desenvolvimento econômico, do Oriente Médio estabelecido pela Grã Bretanha. Os Estados Unidos haviam estado durante muito tempo ausentes dessa região. São as companhias petroleiras norte-americanas as que introduzem o seu pais no Oriente Próximo: aquisição de uma participação de 25% no Iraque Petróleo, controle de Bahrein, da Arábia Saudita. A parte dos Estados Unidos na produção de hidrocarbureto no Oriente Médio passará de 13,9%, em 1938, a 55%, em 1948. É o ponto de partida da intervenção americana. Se constitui uma primeira comissão anglo-americana sobre a Palestina cujos resultados são aceitos pela Grã Bretanha, porém rechaçados por Truman: “Não podemos prescindir dele”, disse Attlee, primeiro ministro britânico, falando do empréstimo que negocia com os Estados Unidos. Se forma uma segunda comissão anglo-americana, suas propostas se discutem no parlamento nos dias que seguem a explosão da sede da administração britânica na Palestina – atentado do lrgún que provoca a morte de cem pessoas. O governo britânico rechaça a proposta dos militares de guerra total contra os sionistas, e propõe um novo plano de divisão sob o seu controle. Truman rechaça de novo. Nesse final de ano de 1946, Londres se dispõe a anunciar sua saída das Índias; as negociações sobre a retirada do Egito fracassaram: levantes no Cairo e Alexandria obrigaram o rei Faruk a rechaçar o protocolo de acordo com a Grã Bretanha. Entretanto, durante o inverno de 1947. a Grã Bretanha sofre escassez de víveres e de carvão e o império está próximo da guerra. Em uma declaração no Parlamento, Bevin declara sobre a Palestina: “Decidimos pedir às Nações Unidas que preconizem uma solução”. A Grã Bretanha cedia diante dos Estados Unidos.

A ONU organiza a divisão

O genocídio perpetrado durante a II Guerra Mundial pelo nazismo – 6 milhões de pessoas assassinadas –, expressão do que significa o imperialismo para a humanidade, dizima as populações judaicas da Europa, e pressiona para que centenas de milhares de sobreviventes fujam. Este genocídio se realizou em meio à indiferença e ao silêncio de todos os beligerantes, tanto do imperialismo como da URSS. E nenhum estado abriu suas fronteiras aos perseguidos. A IV Internacional empreendeu diante da guerra uma campanha internacional em defesa dos judeus alemães e, ao fim da guerra, pela abertura das fronteiras aos judeus que fugiam da Europa, em particular, nos Estados Unidos e na Austrália, com Atos e manifestações. Ao acabar a II Guerra Mundial, frente ao auge revolucionário que se produziu, os acordos de Yalta entre o imperialismo e o Kremlin pretendia preservar, contra a vontade das massas, a dominação do imperialismo. Pretendiam manter a dominação sobre os povos coloniais e avivar também os problemas nacionais na Europa. A conseqüência são deslocamentos massivos da população. Nesse caos europeu, o imperialismo, que necessita do sionismo para os seus projetos no Oriente Médio, canaliza, para isso, centenas de milhares de refugiados, que saem de uma das páginas mais sombrias da história contemporânea, até a Palestina, desembaraçando- se de toda a responsabilidade na matança nazista, para utilizá-los como parapeito contra os povos do Oriente Médio. Enquanto se desintegrava o edifício Colonial dos imperialismos francês e britânicos e se desenvolvia a resistência e as lutas dos povos, o imperialismo americano se encontrava na necessidade de inaugurar o quanto antes, seu papel de imperialismo mais poderoso. Sucessivamente, o sultão turco e seu aliado, o kaiser Guilherme II e logo, os britânicos, jogaram com os sionistas para garantir sua dominação. A nova situação que se abre no dia seguinte da II Guerra Mundial, a ordem de Yalta com o novo lugar dos Estados Unidos em escala mundial, permitiram – mediante um acordo com o Kremlin – criar “legalmente” Israel com uma votação na ONU. Havendo-se submetido desde o principio às exigências do imperialismo, os dirigentes sionistas deram ao movimento sionista um tempo menor entre os judeus. uma perspectiva nova com a criação de um aparato de estado baseado no apoio do imperialismo americano. Isso articulou o sionismo como uma força em defesa dos interesses imperialistas na região. Diante do afundamento da dominação britânica no Oriente Médio, da vontade dos povos da região de emancipar-se e da incapacidade dos potentados árabes para estabilizar a situação nessa região estratégica, os Estados Unidos deve ocupar a posição que a Grã Bretanha tem que abandonar. Para ele o sionismo deverá ser estruturado na forma de um exército, de um estado, e já não como simples colonos armados, que têm inclusive uma milícia, para poder responder a qualquer questionamento da “ordem” na região. Portanto, o imperialismo necessita, por sua vez, apoiar-se nos dirigentes árabes, para recortar artificialmente os estados, cuja fragilidade é manifestada frente ao movimento de massas e, por outro lado, um estado que seja cabeça de ponta direta do imperialismo. O estado de Israel, portanto, não nasce do desenvolvimento nacional que culmina na constituição de um estado, mas de uma decisão da ONU sob a égide dos Estados Unidos e do Kremlin. Em 14 de maio de 1947, A. Gromiko se pronunciava na tribuna da ONU por um“estado judeu-árabe único com direitos iguais para os judeus e os árabes”, porém precisa: “Se esta solução resultar irrealizável devido às relações cada vez mais tensas entre os judeus e os árabes (…), então teria que estudar uma segunda solução (…) que incluísse a divisão em dois estados independentes, um estado judeu e um estado árabe”. Após o barulho causado pelos britânicos sobre o fim de seu mandato na Palestina, por maioria de 2/3 (o que inclui a França que num primeiro momento havia se abstido e mudou o voto pela pressão dos Estados Unidos), os delegados da ONU decidiram pela divisão, em 29 de novembro de 1947. Em 30 de novembro, se iniciam os enfrentamentos entre os sionistas e os árabes. A Liga Árabe monta um exército. Porém, persiste o desacordo: o Cairo se pronuncia contra urna intervenção militar. Aman contra um governo palestino e quer – contra o parecer de Egito e Síria – anexar as partes árabes à Transjordânia. Uns dias antes, em 17 de novembro de 1947, dez dias antes da votação na ONU, Abdallah, emir da Transjordânia, tem uma entrevista secreta com Golda Meir, novo chefe político da Agência Judaica, para consertar “uma divisão que não o humilhe aos olhos do mundo árabe”. Os britânicos estabelecem um acordo com o emir Abdallah, por meio de Glubb Pachá, chefe da Legião Árabe, exército transjordânico (que não é senão John Glubb, militar britânico) que garante a anexação dos territórios árabes da Palestina por parte de Aman após a divisão. Os combates se estenderam ao conjunto da Palestina, não na forma de um conflito tradicional, senão da guerra, de guerrilha. Em novembro de 1947, o Partido Comunista – até então anti-sionista – mudou de nome e passou a chamar- se Partido Comunista de Eretz Israel (Grande Israel). Em 19 de dezembro de 1947, os dirigentes sionistas e o Kremlin firmam um acordo de armamento que será ratificado em janeiro de 1948 por Moshe Sherlak e A. Gromiko em Nova York. A Checoslováquia se encarrega de entregar o armamento para as milícias sionistas (dos 19 milhões de dólares gastos para armar os sionistas, 11 eram da Checoslováquia). Nos Estados Unidos, em dois anos, se coletaram 100 milhões de dólares para financiar o esforço bélico. Em abril de 1948, a Haganah passa para a ofensiva, atacando vários povoados. Com a “luz verde” da Haganah, seu rival de direita, o Irgún, ataca o povoado de Deir Yassin, abatendo, a sangue frio, 250 habitantes, principalmente mulheres e crianças, depois de conquistar a vila. O massacre e a propaganda que fazem deste ato, empurram ao êxodo os palestinos. Mais de 350 mil abandonam seu lar antes do um de junho. (Se pode ler o horripilante relato de testemunhas que Ralph Shoenman inclui no capitulo IV de seu livro). Várias regiões são assim conquistadas. No final de abril, oficiais da Haganah e da Legião Árabe se põem de acordo para evitar enfrentamentos entre elas. Golda Meir voltou a entrevistar-se em 10 de maio com o rei Abdallah e, em carta a Ben Gurión, escreve: “Nossa entrevista foi amistosa. Parecia preocupado. Não negou nossos acordos e encontros precedentes, de que ele tomasse o controle da parte árabe, porém, hoje é um entre os 5 países árabes”. Exposto à pressão da opinião pública, incomodado pela onda de refugiados, o emir toma posições públicas falsas para ir mais longe no acordo com os sionistas. Com o acordo dos EEUU (em 23 de abril, por telegrama Truman anunciou que reconhecerá o estado tão pronto seja proclamado), os dirigentes sionistas proclamam em 14 de maio de 1948: “Em virtude do direito natural do povo judeu e da resolução das Nações Unidas, proclamamos a criação do estado judeu da Palestina, que tomará o nome de Israel”. O estado é reconhecido pelos Estados Unidos, pela URSS etc. Em 15 de maio, os homens do major Glubb, a Legião Árabe, atacam. No mesmo momento, o emir Abdallah recebe uma mensagem do presidente sírio no sentido de atrasar a invasão. Por outro lado, o emir Abdallah havia modificado na véspera o plano de combate, para concentrar-se em Jerusalém e a Palestina central (em uma palavra, os “territórios árabes”, da divisão), já que “o rei Abdallah, de sua parte, trabalha sobre os planos que não variam um triz, somente evoluem as condições para a sua realização. Apostando durante um tempo por entendimento com os sionistas, se resigna a guerra por razões regionais e internas, não para anular a divisão da Palestina, mas sim para remodelála a seu gosto: o rei deseja ardentemente anexar-se a parte da Palestina atribuída pela ONU ao estado árabe, se possível o Neguev e sobretudo, Jerusalém. Londres o assegura: na falta de um acerto amistoso, faz votos para que seus aliados capturem uma parte da Palestina, particularmente o Neguev (Palestina…, pág. 47)”. Sob a pressão americana e as ameaças cada vez mais diretas, a Grã Bretanha, deixa de enviar armas à Transjordânia em maio-junho, e depois chegará a suspender o envio de 500 mil libras trimestrais a Abdallah, para obriga-lo a aceitar o cessar fogo. Entretanto, os combates se eternizam e se equilibram – nos encontramos longe das guerras relâmpagos – na ONU, os Estados Unidos se pronunciam por um cessar-fogo acompanhado de sanções. Em 28 de maio, Austin, representante americano, denuncia os estados árabes que “violam a lei internacional”, enquanto que no dia seguinte Gromiko denuncia “uma série de operações militares desencadeadas por um grupo de potências contra o estado judeu”.

“Se o exército israelense, uma semana depois da invasão, acolhe de imediato a proposta de cessar fogo, é porque a disputa trás prejuízo aparente para ele. Teme que os frutos já logrados se percam por completo (…). Os exércitos árabes, pelo contrário. se sentem de vento em popa(…). Se bem que os americanos e os soviéticos se dão por satisfeitos com esta trégua, sua ambição vai muito mais longe, uns e outros examinam a guerra em curso na presença de sua estratégia para o Oriente Próximo e para o mundo”. (Palestina 47, págs. 179-180).

Unia nova comissão da ONU, dirigida pelo sueco Bernadotte, dá conta das suas conclusões em 27 de junho: remodelação do plano de divisão. Nada de Estado árabe, Jerusalém, o Neguev e os territórios árabes da Palestina serão entregues à Transjordânia de Abdallah, enquanto a Galiléia Ocidental será para Israel. A política dos dirigentes árabes, potentados feudais burgueses, não se guia em absoluto pela “causa palestina”, mas sim pela defesa de seus próprios interesses, quer dizer, pela preservação da ordem imperialista de que dependem. Através da guerra só procuram remodelar em seu proveito a divisão, contra os sionistas em quem vêem competidores diretos e ameaçadores, mercenários do imperialismo. Durante a trégua se envia mais armamento a Israel, em particular aviões (Messerchmidts apreendidos ao exército alemão por Praga). O exercito israelense passa ao ataque em 9 de julho de 1948. Desta vez conta com 75 mil soldados contra os 40 mil dos estados árabes. Retirada da primeira linha, a Legião Árabe da Transjordânia se concentra na defesa de Jerusalém, facilitando o avanço relâmpago do exército israelense que só freia em Jerusalém, defendendo assim, as posições de Abdallah. Israel anexa a Galiléia central, que a ONU dera ao Estado árabe. Quando chega outra trégua, os árabes só conservam 330 km2 quadrados do Estado judeu, versão ONU, mais o Neguev, de todo seu território original. Israel ocupa 201 dos 219 povoados árabes e toma posse de 1300 quilômetros quadrados de territórios árabes, 3 grandes cidades e 112 povoados. Na ocasião da segunda trégua, o mediador da ONU, Bernadotte, recomenda que se integre a Galiléia a Israel, em troca de Neguev, e precisa: “Existem motivos imperiosos para fusionar os territórios Árabes da Palestina e Transjordânia.” Britânicos e transjordânios aceitam, egípcios e israelenses não. Os responsáveis sionistas exigem o fim da missão. Em 17 de setembro, dois militares israelenses de uniformes, imobilizam o carro de Bernadotte e o matam à queimaroupa. Em 15 de outubro, o exército israelense lança uma nova ofensiva, utilizando massivamente sua supremacia aérea recém conseguida graças aos envios Tchecos de aviões do exercito alemão vencido. Chegado o armistício, as cifras são 15 mil palestinos mortos e 800 mil exilados. Seu “estado” versão ONU, está despedaçado: Galiléia para Israel, Cisjordânia para Abdallah, a faixa de Gaza conserva certa “autonomia”, porém sob tutela egípcia. Israel ocupa então um terço de território a mais do que o previsto no plano de divisão da ONU. Os EUA concedem um empréstimo de 10 milhões de dólares para Israel, contanto que o “bloqueio do leste se mantenha firme do nosso lado”. No Conselho de Segurança, os russos atuam “como se fossem nossos emissários”, se felicita Sherlok, ministro israelense de Assuntos Exteriores. Egípcios e israelenses firmam um primeiro armistício em 23 de fevereiro de 1949, um mês depois com o Líbano, e em 20 de julho de 1949 com o novo governo militar sírio. Começa a grande divisão entre Tel Aviv e Aman às costas dos palestinos.

“Tudo está disposto para um acordo israelense-hachemita preparado desde tempos atrás pelas conversações secretas do rei com os representantes da Agência Judaica, mas também pelo acordo prático durante os últimos meses. Também durante a operação israelense contra o Egito, em outubro, a Legião Árabe se acantona sem tocar em armas. A criação, em Gaza, em 23 de setembro, de um “governo de toda a palestina”, e depois a eleição do mufti como presidente do Conselho Nacional tem assombrado as relações entre os países árabes. Como resposta. o soberano hachemita convoca em 2 de outubro, em Aman, um congresso palestino. Os dirigentes árabes se deparam com o movimento nacional palestino esmagado na prática (…) (Abdallah) recebe em várias ocasiões a uma delegação israelense.

Em troca de modificações na região de Hebron, o estado judeu recebe uma faixa de território de 3 quilômetros de extensão por 90 quilômetros de largura, para garantir as comunicações entre o centro do país e a Galiléia. A nova fronteira separa numerosos povos árabes de suas terras (…). Finalmente, o ponto mais importante. mantido em segredo: a luz verde para a anexação da Cisjordânia por Aman.” (págs. 196- 197. Palestina 47).

Isto se porá em prática em 24 de abril de 1990. No “Estado Judeu” desenhado pela ONU havia 219 povoados e 4 cidades árabes. Em 1 de junho de 1948, l80 destes povoados foram evacuados e 240 mil árabes foram obrigados a partir. Ao que há de se acrescentar os 152 mil que saíram dos 70 povoados e as três cidades (Yalta, Jenin e Acre) do “Estado Árabe” que estão sob controle da Haganah. As cifras oficiais da ONU falam de “381 mil pessoas deslocadas”. Na realidade, a crueldade dos combates, a barbárie da ação das milícias sionistas, como no povoado de Deir Yassin, provocam a ruína de centenas de milhares de palestinos. Com a criação do Estado de Israel, isto se converte em uma estratégia deliberada de expulsão: mais 300 mil palestinos são expulsos. Enquanto, aos palestinos que permanecem nas zonas controladas por Israel, durante o verão de 1948, o exército proíbe toda a colheita. Isto obriga aos camponeses da Galiléia e de Neguev a fugir. Em Jaifa, aonde permanecem mais de 3 mil árabes cristãos, o exército procede a um reagrupamento que a própria municipalidade judaica de cidade denunciará como a criação de “guetos”. As violências são de tal calibre que A. Cizling, dirigente sionista “de esquerda”, membro do Mapamn protestou em 17 de novembro no Conselho de Ministros:“Agora alguns judeus se comportam como nazistas e todo meu ser se estremece”.Só são palavras, a repressão continua selvagemente. Depois do armistício, os dirigentes sionistas respondem com uma negativa ao mediador da ONU que sugere a “volta” de uma fração dos palestinos. Uma resolução do Conselho de Segurança propõe hipocritamente organizar esta “volta” que o Estado de Israel nunca aplicará. Malik, o delegado da URSS no Conselho de Segurança, estima que um “estudo prolongado da questão palestina nas Nações Unidas, nos dá todas as razões para crer que a culpa e a responsabilidade de todas as privações e sofrimentos dos refugiados árabes corresponde ao governo do Reino Unido e às autoridades militares britânicas no Oriente Próximo”. Em Moscou, o “radicalismo” anti-britânico lhe serve para deixar a salvo a Israel e aos Estados Unidos. A chegada maciça dos imigrantes judeus – 350 mil – entre o 15 de maio de 1948 e finais de 1949 – impunha as expulsões dos árabes. Uma lei sobre “as propriedades abandonadas” torna possível a confiscação dos bens de toda pessoa ausente. Porém, entre os últimos meses de 1948 e o princípio de 1949, cinqüenta mil árabes voltam ao seu lugar contra o vento e a maré. Em setembro, segue havendo 170 mil árabes que são cidadãos israelenses de segunda, submetidos até 1965 ao controle militar. Os outros quase 1 milhão passaram a viver na Cisjordânia e Gaza, na Jordânia, no Líbano ou na Síria, em acampamentos miseráveis.

Notas

Sobre o origem, a história e a política do movimento sionista, é interessante ler“La Historia Oculta del Sionismo” de Ralph Schoenman, disponível em inglês. francês e espanhol.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Os dez mitos sobre o conflito palestino-israelense

Fonte: Alba TV

Tradução do espanhol: Natália Forcat


Jeremy R. Hammond, analista político independente que foi galardoado com o prêmio Projeto Censurado ao melhor jornalismo investigativo, explica um por um os mitos sionistas que ouvimos todos os dias na propaganda israelense.


Mito 1: Judeus e árabes sempre estiveram em conflito na região


Embora os árabes eram a maioria antes da criação do estado de Israel na Palestina, houve sempre judeus na região. Os palestinos judeus, em maior parte, conviviam bem com seus vizinhos árabes. Isso começou a mudar com o surgimento do movimento sionista, porque os sionistas rejeitaran o direito dos palestinos à autodeterminação e queriam que a Palestina fosse deles para criar um “Estado judeu”, em uma região onde os árabes eram maioria e possuíam a maior parte das terras.

Por exemplo, depois de uma série de conflitos em Yafa (Jaffa) em 1921, nos quais morreram 47 judeus e 48 árabes, os ocupantes britânicos realizaram uma investigação e concluíram que “não há nenhum antissemitismo no país, seja racial ou religioso”. De fato, os ataques contra as comunidades judaicas foram o resultado do medo dos árabes do declarado objetivo sionista de apreensão de território. Quando a violência irrompeu de novo em 1929, o relatório da Comissão Shaw, britânica, observou que “em menos de dez anos, os árabes realizaram três ataques graves contra os judeus. Nos 80 anos anteriores a esses ataques, não houve nenhum caso registrado de incidentes semelhantes”. Representantes de todas as partes do conflito emergente testemunharam perante a comissão que, antes da Primeira Guerra Mundial, “judeus e árabes viviam juntos, se não de forma amigável, pelo menos com tolerância, uma qualidade que é quase desconhecida na Palestina atual.” O problema é que “o povo árabe da Palestina está unido, agora, em sua demanda por um governo representativo”, mas os sionistas e seus benfeitores britânicos negam a eles esse direito.

O relatório britânico Hope-Simpson de 1930 relatou, da forma semelhante, que os moradores das comunidades judaicas não-sionistas na Palestina tinha relações amistosas com seus vizinhos árabes. “É muito comum ver um árabe sentado na varanda de uma casa judaica”, disse o relatório. “A situação é completamente diferente nas colônias sionistas.”


Mito 2: As Nações Unidas criaram o Estado de Israel


A Organização das Nações Unidas foi envolvida quando o Mandato Britânico tentou lavar suas mãos da volátil situação que suas políticas ajudaram a criar e buscou se livrar do problema Palestina. Para isso, eles pediram que as Nações Unidas assumissem o problema.

Desta forma foi criada a Comissão Especial da ONU sobre a Palestina (UNSCOP) com a missão de analisar a questão e fornecer recomendações para resolver o conflito. A UNSCOP não tinha nenhum representante de qualquer país árabe e, ao final, publicou um relatório onde rejeitava explicitamente o direito dos palestinos à autodeterminação. Ao rejeitar a solução democrática do conflito, a UNSCOP propus que a Palestina fosse dividida em dois estados, um árabe e um judeu.

A Assembleia Geral da ONU apoiou a UNSCOP na Resolução 181. Muitas vezes se afirma que esta resolução “divididiu” a Palestina, o que forneceu um argumento legal aos líderes sionistas para a posterior declaração da criação do Estado de Israel, ou alguma variante destas reivindicações. Todas essas alegações são falsas!

A Resolução 181 apenas aprovou o relatório e as conclusões da UNSCOP enquanto recomendações. Não é preciso dizer que para que a Palestina fosse oficialmente dividida, esta recomendação deveria ter sido aceita por judeus e árabes, algo que não aconteceu.

Além disso, as resoluções da Assembléia Geral não são considerados juridicamente vinculativas (apenas as resoluções do Conselho de Segurança são). E, aliás, a ONU não tinha autoridade para tomar o território de um povo e entregar a outro, e qualquer resolução que estabelecesse essa divisão teria sido nula em qualquer caso.


Mito 3: Os árabes perderam uma oportunidade de ter seu próprio Estado em 1947


A recomendação da ONU de dividir a Palestina foi rejeitada pelos árabes. Hoje, muitos comentaristas dizem que essa rejeição foi uma “oportunidade” perdida pelos árabes de ter seu próprio estado. Mas, considerar aquilo como uma “oportunidade” para os árabes é evidentemente ridículo. O plano de partilha não foi de modo algum uma “oportunidade” para os árabes.

Em primeiro lugar, como já comentamos, os árabes eram a maioria na Palestina na época, enquanto os judeus constituíam cerca de um terço da população, e isso graças à imigração em massa da Europa (em 1922, o censo britânico mostrava que os judeus representavam apenas 11 % da população).

Além disso, as estatísticas de propriedade das terras de 1945 mostraram que os árabes possuíam mais terras do que os judeus em cada um dos distritos da Palestina, incluindo Jaffa, onde os árabes possuía 47 por cento da terra e judeus apenas 39 por cento (Yafa se gabava de ser o distrito com o maior percentual de terras pertencentes a judeus). Em outros distritos, os árabes possuíam uma parcela ainda maior da terra. O caso mais extremo era o de Ramallah, onde os árabes possuía 99 % da terra. Em toda a Palestina, os árabes possuíam 85 % da terra, enquanto os judeus eram proprietários apenas de um 7 %, uma situação que permaneceu inalterada até a criação do Estado de Israel.

Apesar destes fatos, a recomendação da partilha da ONU propôs a entrega de mais da metade do território palestino para os sionistas para a criação do seu “Estado judeu”. Não era razoável esperar que os árabes aceptassem tamanha proposta injusta.

Alguns comentaristas políticos dizem hoje que a recusa dos árabes em aceitar que parte do seu território lhes fosse tirado, em base à negação explícita do direito de auto-determinação, representou uma “oportunidade perdida”. Este julgamento demonstra uma ignorância espantosa das raízes do conflito ou falta de vontade de examinar honestamente a história.

Também é bom lembrar que o plano de partilha foi rejeitado por muitos líderes sionistas. Entre os que apoiaram a ideia, como foi o caso de David Ben-Gurion, o seu raciocínio era que se tratava de uma medida pragmática em direção ao seu objetivo, que era conquistar toda a Palestina para o “Estado judeu”, o que poderia, eventualmente, ser alcançado, pela força das armas.

Quando pela primeira vez levantou a ideia de partição, Ben-Gurion escreveu que “depois que nos tornemos uma força poderosa, como resultado da criação do estado, vamos abolir partição e nos expandir para toda a Palestina”. O Estado judeu “terá de preservar a ordem” (se os árabes não se submetem) “com metralhadoras, se necessário.”



Mito 4: “Direito à existência” de Israel

O fato de que este termo é usado somente em relação a Israel é instrutivo quanto à sua legitimidade, como é uma exigência que se dirige aos palestinos, que são os que devem reconhecer o “direito à existência” de Israel, enquanto ninguém exige que Israel reconheça o “direito à existência” de um Estado palestino.

As nações não têm direitos. As pessoas têm. O marco adequado para o debate é o direito dos povos à autodeterminação. A partir deste ponto de vista, é evidente que não são os árabes que têm negado esse direito judeus, mas os judeus que negaram esse direito aos árabes. A terminologia israelense sobre “direito de existir” é constantemente empregada para esconder esse fato.

Como já dissemos, Israel não foi criada pela ONU, senão que foi fundada em 14 de maio de 1948, quando os sionistas unilateralmente e sem autoridade legal, declararam a existência de Israel, sem especificar as fronteiras do novo Estado. Em um instante, os sionistas declararam que os árabes já não eram os donos da sua própria terra; agora pertencia aos judeus. Em outro instante, os sionistas declararam que a maioria árabe da Palestina era agora cidadãos de segunda classe no novo “Estado judeu”.

Não é necessário dizer que os árabes não aceitaram passivamente esses fatos no terreno. Os países árabes vizinhos declararam guerra ao regime sionista, com o objetivo de evitar esta injustiça tão grave contra a maioria dos habitantes da Palestina.

Deve-se ressaltar que os sionistas não tinham direito a maior parte das terras declaradas como parte de Israel. Esse direito era dos árabes. Portanto, esta guerra não foi, como se costuma dizer, um ato de agressão por parte dos Estados árabes contra Israel. Na verdade, os árabes interviram na defesa dos direitos da população árabe da Palestina, para impedir que os sionistas se apoderassem ilegal e injustamente das terras e privassem dos seus direitos à população árabe. O ato de agressão foi a declaração unilateral da criação de Israel pelos líderes sionistas e a violência exercida para impor esse objetivo, tanto antes como depois da declaração.

Durante a guerra que se seguiu, Israel implementou uma política de limpeza étnica. Cerca de 700 mil palestinos árabes foram expulsos ou fugiram de suas casas por medo de massacres, como o que tinha acontecido na aldeia de Deir Yassin, pouco antes da fundação do Estado de Israel. A estes palestinos não lhes foi permitido retornar aos seus lares e terras, apesar de seu “direito de retorno” ser reconhecido e codificada no direito internacional.

Os palestinos jamais aceitarão exigência de Israel e seu principal benfeitor, os Estados Unidos, de que reconheçam o “direito à existência” de Israel. Se o fizessem, isso significaria que Israel teria “direito” de roubar terras árabes, enquanto os palestinos não teriam nenhum direito a elas. Isso significaria, efetivamente, que Israel tinha o “direito” a realizar a limpeza étnica da Palestina, enquanto os árabes não tinham o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade em suas próprias casas e em suas terras.

O uso constante do termo “direito de existir” tem um propósito: esconder a realidade de que são os judeus que negaram aos árabes o seu direito à autodeterminação, e não vice-versa, e tentar legitimar os crimes israelenses contra os palestinos, tanto os do passado como os do presente.



Mito 5: Os países árabes ameaçaram Israel com a aniquilação, em 1967 e 1973


A verdade é que foi Israel quem disparou o primeiro tiro na Guerra dos Seis Dias. Nas primeiras horas da manhã do 5 de junho de 1967, Israel lançou seus soldados para um ataque surpresa contra o Egito (na época, República Árabe Unida) e dizimou a força aérea egípcia, enquanto a maioria de seus aviões ainda estavam no chão.

É quase obrigatório que os comentaristas descrevam esse ataque como “preventivo”. Mas para que tivesse sido “preventivo”, deveria ter havido, por definição, uma ameaça iminente de agressão egípcia contra Israel. Mas não havia.

É comum afirmar que a retórica belicosa do presidente Nasser, o bloqueio do Estreito de Tiran, o movimento de tropas na Península do Sinai e a expulsão das forças de paz da ONU em seu lado da fronteira, constituíam em seu conjunto, esta ameaça iminente.

No entanto, os serviços de inteligência de os EUA e Israel avaliaram, naquele momento, que a probabilidade de que Nasser atacasse era realmente baixa. A CIA considerou que Israel tinha esmagadora superioridade militar e que, em caso de guerra, derrotaria as forças árabes no espaço de duas semanas; e, em uma semana, se Israel atacasse primeiro, que é o que realmente aconteceu.

Há que ter em mente que o Egito tinha sido vítima de uma agressão por parte de britânicos, franceses e israelenses na “Crise do Canal de Suez” em 1956, depois que o Egito nacionalizou o Canal de Suez. As três nações agressoras conspiraram para fazer a guerra contra o Egito que levou à ocupação israelense da Península do Sinai. Sob pressão dos EUA, Israel retirou-se do Sinai em 1957, mas o Egito não tinha esquecido da agressão.

Além disso, o Egito tinha formado uma aliança com a Síria e a Jordânia, um compromisso mútuo para ajudar uns aos outros em caso de guerra com Israel. Jordânia tinha criticado Nasser por não manter essa promessa após o ataque israelense à aldeia de Samu (na Cisjordânia) no ano anterior, e sua retórica era uma clara tentativa de recuperar sua posição no mundo árabe.

Nasser estava à defensiva e não tinha a menor intenção de lançar uma ofensiva contra Israel. Isto foi apontado por algumas personalidades israelenses. Abraham Sela, por exemplo, do Centro Shalem, observou: “A acumulação de forças egípcias no Sinai não era devido a um plano de ofensiva, e as instruções defensivas de Nasser assumiam explicitamente que Israel atacaria primeiro.”

O primeiro-ministro israelense Menachem Begin reconheceu que “em junho de 1967, tivemos uma chance. A concentração de tropas egípcias nas proximidades do Sinai não provam que Nasser estava realmente prestes a nos atacar. Temos de ser honestos com nós mesmos. Nós decidimos atacá-lo “.

Issac Rabin, que também seria mais tarde primeiro-ministro de Israel, admitiu em 1968 que “Eu não acho que Nasser queria guerra. As duas divisões que ele mandou para o Sinai não eram suficientes para lançar uma guerra ofensiva. Ele sabia disso e nós sabíamos disso. ”

Os israelenses também reconheceram que sua própria retórica, naquele momento, sobre a “ameaça” de “aniquilação” que representavam os estados árabes, era pura propaganda.

O Geral Chaim Herzog, comandante geral e primeiro governador militar da Cisjordânia ocupada após a guerra, admitiu que “não havia perigo de aniquilação, os quartéis gerais israelenses nunca acreditaram que havia esse perigo.”

O Geral Ezer Weizman, disse algo semelhante: “Nunca houve qualquer perigo de extermínio. Essa hipótese nunca foi considerada em uma reunião formal”.

O chefe de Estado-maior Haim Bar-Lev, admitiu: “Nós não estivemos ameaçados de genocídio na véspera da Guerra dos Seis Dias e nunca pensamos nessa possibilidade.”

O ministro israelense da Habitação, Mordechai Bentov, também reconheceu que “toda a história do perigo de extermínio foi inventada e se exagerou a posteriori para justificar a anexação de novos territórios árabes”.

Em 1973, no que os israelenses chamam de “Guerra do Yom Kippur”, Egito e Síria lançaram uma ofensiva surpresa para recuperar o Sinai e as Colinas de Golã, respectivamente. Esta ação combinada é popularmente descrita em relatos contemporâneos como uma “invasão”, ou um ato de “agressão” contra Israel.

No entanto, como já foi observado, após a guerra de junho de 1967, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 242, que pedia que Israel se retirasse dos territórios ocupados. Não é preciso dizer que Israel recusou-se a fazê-lo e continuou a violar o direito internacional de forma contínua desde então.

Durante a guerra de 1973, Egito e Síria “invadiram” seus próprios territórios, que estavam, então, ocupados ilegalmente por Israel. A idéia de que esta guerra foi um ato de agressão árabe pressupõe que a Península do Sinai, as Colinas de Golã, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza eram territórios israelenses. Isto é, obviamente, uma suposição grosseiramente falsa que demonstra a natureza absolutamente prejudicial e tendenciosa das análises hegemônicas quando se trata do conflito árabe-israelense.

Essa falsa narrativa se encaixa com o relato mais amplo, igualmente falacioso, de Israel como uma “vítima” da intransigência e agressão árabes. Esta narrativa, quase nem questionada no Ocidente, deturpa completamente os fatos.



Mito 6: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU pede retirada israelense apenas parcial


A Resolução 242 foi adotada depois da guerra de junho de 1967 e pedia a “retirada das forças armadas israelenses de territórios ocupados no recente conflito.” Embora a versão israelense goze de grande popularidade, não tem credibilidade.

A tese central deste argumento é que a ausência da palavra “os” antes “territórios ocupados”, nesta cláusula, significa que não fazia referência a “todos os territórios ocupados”. Basicamente, este argumento baseia-se na lógica ridícula que, uma vez que a palavra “os” foi omitida na cláusula, podemos entender que isso significa que se estava pensando em “alguns territórios ocupados”.

Gramaticalmente, a ausência da palavra “os” não tem efeito sobre o significado desta cláusula, que fala de “territórios”, no plural. Um teste decisivo é o seguinte: é um território que foi ocupado por Israel na guerra de 1967? Se a resposta for sim, então sob a lei internacional e da Resolução 242, Israel é obrigado a retirar-se desse território. Esses territórios incluem os Altos de Golã sírios, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

A versão francesa da resolução, tão autêntica quanto a inglesa, contém o artigo definido e uma maioria dos membros do Conselho de Segurança deixou claro durante as deliberações que a sua compreensão da resolução era que se exigia a retirada completa de Israel de todos os territórios ocupados.

Além disso, é impossível conciliar [a versão israelense] com o princípio de direito internacional citado no preâmbulo da resolução sobre “a inadmissibilidade da aquisição de territórios pela guerra.” Dizer que a ONU pensava que Israel poderia manter alguns dos territórios ocupados durante a guerra seria ir contra esse princípio.

Poderiamos continuar abordando outras falácias lógicas associadas a este argumento frívolo, mas como é um absurdo à primeira vista, seria supérfluo.



Mito 7: A ação militar israelense contra os seus vizinhos só pretende defender Israel do terrorismo

Os fatos dizem o contrário. Tomemos, por exemplo, a devastadora guerra israelense contra o Líbano, em 1982. Como foi fartamente documentado pelo analista político Noam Chomsky em sua épica análise “The Fateful Triangle”, esta ofensiva militar foi realizada sem nenhum pretexto.

Embora você possa ler relatos contemporâneos insistindo que esta guerra foi travada em resposta ao constante bombardeio no norte de Israel pela OLP, que estava então refugiada naquele país, o fato é que, apesar das provocações israelenses continuas, a OLP respeitou o cessar-fogo em vigor, com poucas exceções. Ademais, em cada um destes casos, foi Israel que desrespeitou o cessar-fogo primeiro.

Entre as provocações israelenses que ocorreram no início de 1982, temos os ataques e afundamentos de barcos de pesca libaneses e centenas de violações às águas territoriais libanesas. Israel também cometeu milhares de violações do espaço aéreo libanês, mas nunca conseguiu obter da OLP uma resposta que servisse como casus belli para a planejada invasão ao Líbano.

Em 9 de maio, Israel bombardeou o Líbano, o que provocou finalmente a resposta da OLP, que lançou foguetes e fogo de artilharia contra Israel.

Em seguida, um grupo terrorista liderado por Abu Nidal tentou assassinar o embaixador israelense em Londres, Shlomo Argov. Embora a mesma OLP havia estado em guerra com Abu Nidal, que tinha sido condenado à morte por um tribunal militar do Fatah em 1973, e apesar do fato de que Abu Nidal não tinha seu quartel geral no Líbano, Israel usou isso como uma desculpa para bombardear os campos de refugiados de Sabra e Shatila, matando 200 palestinos. A OLP respondeu atacando assentamentos no norte de Israel. Mas o Estado judeu não conseguiu obter o tipo de resposta de grande escala que estava esperando para usar como casus belli para a invasão planejada.

Como sugerido pelo estudioso israelense Yehoshua Porath, a decisão de Israel de invadir o Líbano, longe de ser uma resposta aos ataques da OLP, “veio do fato de que o cessar-fogo havia sido respeitado.” Porath escreveu no jornal israelense Haaretz que “a esperança do governo é que a debilitada OLP, sem uma base logística e territorial, retorne ao terrorismo anterior. [...] Assim, a OLP perderia parte da legitimidade política que havia conquistado [...] e se eliminaria o perigo de que se desenvolvam, entre os palestinos, elementos que poderiam constituir um negociador legítimo de futuros acordos políticos”.

Outro exemplo, desta vez tomado da Operação Chumbo Fundido, que aconteceu entre 27 de Dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. Antes que Israel atacara a população sitiada e indefesa da Faixa de Gaza, Tel Aviv tinha chegado a um acordo de cessar-fogo com o governo de Gaza, o Hamás. Contrariamente ao que se acredita, foi Israel, e não o Hamás, que terminou o cessar-fogo.

Os meios de comunicação ocidentais disseram que a Operação Chumbo Fundido foi em resposta ao lançamento de “milhares” de foguetes do Hamás contra Israel, que teria violado, dessa forma, a trégua.

A verdade é que, desde o início do cessar-fogo em junho até o 04 de novembro, o Hamás não disparou nenhum foguete, apesar das inúmeras provocações israelenses, suas operações repressivas na Cisjordânia e os ataques de soldados israelenses contra os habitantes de Gaza na fronteira, que deixaram várias pessoas feridas e ao menos um morto.

Em 4 de novembro de 2008, a Israel violou novamente o cessar-fogo com o lançamento de ataques aéreos e uma incursão terrestre em Gaza que causou várias mortes. Hamás finalmente respondeu com disparos de foguetes, o que levou a contínuos ataques de ambas as partes. A trégua tinha acabado.

Apesar da evidente má-fé de Israel, o Hamás ofereceu renovar o cessar-fogo, já que o período de validade terminava oficialmente em dezembro. Israel rejeitou a oferta e lançou uma punição coletiva violenta contra o povo de Gaza.

Como relatado pelo Centro de Informações de Inteligência e Terrorismo de Israel, a trégua “trouxe um período de relativa calma à população do Negev ocidental”, com 329 foguetes e ataques com morteiros, “a maioria deles durante o mês e meio depois 04 de novembro “, quando Israel já tinha de fato violado e terminado a trégua. Isso contrasta fortemente com as 2.278 ataques com foguetes e morteiros nos seis meses anteriores à trégua. Até 04 de novembro, o centro disse que “o Hamás tomou o cuidado de manter o cessar-fogo.”

Se Israel quisesse reduzir a ameaça de ataques de militantes palestinos não deveria ter terminado o cessar-fogo, que teria significado uma redução drástica deste tipo de ataques, incluindo a eliminação de todos os realizados pelo Hamás. Mas, ao contrário, Israel recorreu à violência, o que, como era facilmente previsível, causou uma maior ameaça de ataques de represália em larga escala por grupos palestinos.

Além disso, embora Israel poderia dizer que os meios pacíficos tinham se esgotado e precisava usar a força militar para defender sua população civil, não foi claramente o que aconteceu. Em vez disso, Israel atacou deliberadamente civis em Gaza com ataques sistemáticos e ataques intencionalmente indiscriminados e desproporcionais em áreas residenciais, hospitais, escolas e outros locais onde havia população civil protegida pelo direito internacional.

Como observou Richard Goldstone, um respeitado jurista internacional que foi responsável pela investigação da Operação Chumbo Fundido da ONU, os meios pelos quais Israel realizou esta operação não foram consistentes com seus objetivos declarados, mas foram mais indicativos de um ato deliberado de castigo coletivo contra a população civil.


Mito 8: Deus deu essa terra para os judeus, por tanto os árabes são os ocupantes


Por mais que se debata sobre as evidências no terreno, nada vai convencer muitos judeus e cristãos sionistas que Israel pode ter feito algo errado, pois por trás de suas ações eles veem a mão de Deus e as suas políticas são, na verdade, de acordo a eles, a “vontade de Deus”. Acreditam que Deus deu a terra da Palestina, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ao povo judeu e, portanto, Israel tem um “direito” de tirá-la à força dos palestinos, que, em sua opinião, são os reais ocupantes ilegais do território.

É possivel simplesmente recorrer às páginas de seus próprios livros sagrados para mostrar a falácia dessa e crenças similares. Os cristãos sionistas gostam de citar passagens bíblicas como as seguintes para apoiar suas crenças sionistas:

Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló separou-se dele: De onde você está, olhe para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre. Tornarei a sua descendência tão numerosa como o pó da terra. Se for possível contar o pó da terra, também se poderá contar a sua descendência. Percorra esta terra de alto a baixo, de um lado a outro, porque eu a darei a você. (Gênesis, 13:14-17)

O Senhor apareceu a Isaque e disse: Não desça ao Egito; procure estabelecer-se na terra que eu lhe indicar. Permaneça nesta terra mais um pouco, e eu estarei com você e o abençoarei. Porque a você e a seus descendentes darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a seu pai, Abraão. (Gênesis 26:2-3).

Ao lado dele [...] estava o Senhor, que lhe disse: Eu sou o Senhor, o Deus de seu pai Abraão e o Deus de Isaque. Darei a você e a seus descendentes a terra na qual você está deitado. (Gênesis 28:13).

Mas sionistas cristãos esquecem convenientemente outras passagens que fornecem mais contexto para entender essa aliança, como as seguintes:

Obedeçam a todos os meus decretos e leis e pratiquem-nos, para que a terra para onde os estou levando para nela habitarem não os vomite. (Levítico 20:22)

Mas, se vocês não me ouvirem e não colocarem em prática todos esses mandamentos, e desprezarem os meus decretos, rejeitarem as minhas ordenanças, deixarem de colocar em prática todos os meus mandamentos e forem infiéis à minha aliança, [...] Se apesar disso tudo vocês ainda não me ouvirem, mas continuarem a opor-se a mim, então com furor me oporei a vocês, e eu mesmo os castigarei sete vezes mais por causa dos seus pecados. [...] Desolarei a terra ao ponto de ficarem perplexos os seus inimigos que vierem ocupá-la. Espalharei vocês entre as nações e empunharei a espada contra vocês. Sua terra ficará desolada, e as suas cidades, em ruínas. (Levítico 26:14-15, 27-28, 32-33).

Então o Senhor irritou-se sobremaneira contra Israel e os expulsou de sua presença, restando apenas a tribo de Judá. [...] Até que o Senhor tirou a Israel de diante da sua presença, como falara pelo ministério de todos os seus servos, os profetas; assim foi Israel expulso da sua terra à Assíria até ao dia de hoje. (Reis II, 17 : 18, 23).

Depois de ter feito tudo isso, pensei que ela voltaria para mim, mas não vol­tou. E a sua irmã traidora, Judá, viu essas coi­sas. Viu [...] também que dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei embora, por causa de todos os seus adultérios. Entretanto, a sua irmã Judá, a traidora, também se prostitu­iu, sem temor algum. (Jeremias 3:7-8).Sim, na Bíblia, o Senhor, o Deus de Abraão, de Isaac e Israel, disse aos hebreus que a terra pode ser seu … se eles obedecessem seus mandamentos. No entanto, como a Bíblia conta a história, os hebreus não obedeceu e se rebelaram contra o Senhor geração após geração.

O que os sionistas judeus e cristãos omitem dos seus argumentos bíblicos em favor da ocupação israelense é que o Senhor também disse aos hebreus, incluindo a tribo de Judá (da qual descendem os “judeus”), que iria jogá-los fora da terra se quebrassem o pacto rebelando-se contra os seus mandamentos, que é precisamente o que acontece na Bíblia.

Assim, o argumento teológico para o sionismo não é apenas uma bobagem do ponto de vista laico, mas também é uma completa invenção a partir de uma perspectiva bíblica, o que representa uma rebeldia contra o Yahvé e sua Torá e contra os ensinamentos de Jesus, o Messias do Novo Testamento.




Mito 9: Os palestinos rejeitam a solução de dois Estados, porque eles querem destruir Israel

Em uma enorme concessão a Israel, os palestinos aceitaram há muito tempo uma solução de dois estados. Os representantes eleitos do povo palestino na OLP de Yasser Arafat reconheceram, desde os anos 70, o Estado de Israel e aceitaram uma solução de dois Estados. Apesar disso, a mídia ocidental continuou dizendo na década de 90 que a OLP rejeitou essa solução e em vez disso, queria varrer Israel do mapa.

Este padrão tem se repetido desde que o Hamás venceu as eleições palestinas em 2006. Embora a organização islâmica há anos aceitou a realidade do Estado de Israel e demonstrou a sua vontade de aceitar um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, junto o Estado de Israel, é praticamente obrigatório para grande mídia ocidental, ainda hoje, dizer que o Hamas rejeita a solução de dois Estados e, de fato, procura “destruir Israel”.

No início de 2004, pouco antes de ser morto por Israel, o fundador do Hamás, xeque Ahmed Yassin, declarou que o Hamás aceitaria um Estado palestino ao lado de Israel. Desde então, o Hamás tem repetido uma e outra vez a sua vontade de aceitar uma solução de dois Estados.

No início de 2005, o Hamás divulgou um documento afirmando que seu objetivo era alcançar um estado palestino ao lado de Israel, com base nas fronteiras de 1967.

O líder exilado do bureau político do Hamas, Khaled Meshaal, escreveu no The Guardian de Londres, em janeiro de 2006, que o Hamás estava “pronto para alcançar uma paz justa.” Ele escreveu que “nunca reconheceremos o direito de qualquer potência a roubar-nos nossa terra e negar nossos direitos nacionais. [...] Mas se você estão disposto a aceitar o princípio da trégua de longo prazo, estamos preparados para negociar os termos.”

Durante a campanha eleitoral de 2006, o líder do Hamas em Gaza, Mahmoud al-Zahar disse que a organização islâmica estava disposta a “aceitar o estabelecimento de nosso estado independente na área ocupada em 1967″, um reconhecimento tácito do estado de Israel.

O primeiro-ministro eleito, o líder do Hamás, Ismail Haniyeh, disse em fevereiro de 2006 que o Hamas aceitava “o estabelecimento de um Estado palestino “dentro das “fronteiras de 1967″.

Em abril de 2008, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter reuniu-se com líderes do Hamás e, em seguida disse que a organização islâmica “aceitaria um Estado palestino com as fronteiras de 1967″ e também “aceitaria o direito de Israel a viver em paz com seu vizinho. “O “objetivo final” do Hamás era “ver Israel com fronteiras atribuídas em 1967, ao lado de um Estado palestino.”

Naquele mesmo mês, o líder do Hamás, Meshaal, disse: “Temos oferecido uma trégua se Israel se retirar para as fronteiras de 1967, uma trégua de dez anos, como prova de reconhecimento.” E em 2009, disse que o Hamás “aceitou um Estado palestino nas fronteiras de 1967.”

A mudança do Hamás, da rejeição total da existência do Estado de Israel a aceitar o consenso internacional de uma solução de dois Estados é em grande parte um reflexo da vontade do povo palestino. Uma pesquisa de opinião pública realizada em abril do ano passado, por exemplo, descobriu que três em cada quatro palestinos estavam dispostos a aceitar uma solução de dois Estados.


Mito 10: Estados Unidos é um mediador honesto e tem procurado a paz no Oriente Médio

Deixando de lado a retórica, os EUA sempre apoiaram as políticas de Israel, incluindo a ocupação ilegal e outras violações do direito internacional humanitário. Apoia as políticas criminais de Israel financeira, militar e diplomaticamente.

A administração Obama, por exemplo, já declarou publicamente que se opõe à política de assentamentos de Israel e tem “pressionado” ostensivamente Israel a congelar suas atividades de colonização. No entanto, logo depois Washington anunciou que não cortará a ajuda financeira e militar a Israel, ainda que desafie as leis internacionais e continue a construir assentamentos. Esta mensagem foi perfeitamente compreendida pelo governo de Netanyahu, que continua sua política de assentamentos.

Para citar outro exemplo simples, tanto a Câmara dos Deputados e do Senado dos EUA aprovaram resoluções declarando abertamente seu apoio à operação israelense Chumbo fundido, apesar do fluxo contínuo de informações atestando a prática de crimes de guerra por parte de Israel.

O dia em que o Senado dos EUA aprovou sua resolução “reafirmando o firme apoio dos EUA a Israel em sua batalha contra o Hamás” (8 de Janeiro de 2009), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha emitiu uma declaração exigindo que Israel permitisse o auxílio às vítimas do conflito, já que Israel tinha bloqueado todos os acessos aos palestinos feridos, o que constitui um crime de guerra sob a lei internacional.

No mesmo dia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, emitiu uma declaração na qual condenava Israel por atirar contra um comboio da ONU que transportava ajuda humanitária para Gaza causando a morte de dois funcionários da ONU, dois fatos que constituem crimes de guerra. O dia em que a Câmara dos Representantes aprovou sua própria versão da resolução, a ONU anunciou que teve que interromper seu trabalho humanitário em Gaza devido aos ataques israelenses que tinham sofrido os seus trabalhadores, comboios e instalações, incluindo clínicas e escolas.

O apoio financeiro de EUA a Israel supera os 3.000 milhões de dólares por ano. Quando Israel lançou sua ofensiva militar para punir a população civil indefesa de Gaza, seus pilotos de aeronaves tripulavam aviões de combate F-16 e helicópteros Apache vendidos pelos EUA, desde os quais jogavam bombas, também fabricadas pelos EUA, bem como munições equipadas com fósforo branco, o que é proibido pelo direito internacional.

O apoio diplomático dos EUA aos crimes de Israel tem sido expresso no uso de seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Quando Israel travou sua guerra devastadora contra a população civil e infra-estrutura do Líbano, no verão de 2006, os EUA vetaram uma ressolução de cessar-fogo.

Quando Israel lançou sua operação Chumbo Fundido, os EUA atrasaram a aprovação de uma resolução pedindo o fim da violência e, em seguida, uma vez que permitiram a votação, se abstiveram.

Quando o Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou oficialmente as conclusões e recomendações da investigação dirigida por Richard Goldstone, sobre os crimes de guerra cometidos durante a Operação Chumbo Fundido, os EUA responderam anunciando a sua intenção de bloquear qualquer iniciativa que tivesse como objetivo a adoção dessas conclusões e recomendações do Conselho de Segurança. O Congresso dos EUA aprovou uma resolução rejeitando o relatório Goldstone porque denunciou a prática de crimes de guerra por parte de Israel.

Através de seu apoio, incondicional na prática, a Israel, os EUA têm impedido a adoção de medidas destinadas a aplicar uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino. O chamado “processo de paz” consistiu, por muitas décadas, a rejeição de EUA e Israel à autodeterminação do povo palestino e o bloqueio de qualquer estado palestino viável.


_____________________________________________
Sobre o autor:


Jeremy R. Hammond é um analista político independente, que foi galardoado com o prémio de melhor Project Censored jornalismo investigativo. É um dos fundadores da Foreign Policy Journal e autor Ron Paul vs Paul Krugman: vs austríaco A economia keynesiana em que a crise financeira ea rejeição da Palestina Autodeterminação: A luta pela Palestina e as raízes do conflito árabe-israelense. Atualmente, ele está preparando um outro livro sobre o papel dos EUA hoje no conflito israelo-palestino.

Tradução ao espanhol: Javier Villate mantém Dissent blog com artigos, resenhas e traduções sobre a Palestina, Israel e no Oriente Médio. Você pode segui-lo no Twitter como @ bouleusis