sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12 sinais de que você está criando seu filho para ser escravo

12 sinais de que você está criando seu filho para ser escravo

Por Marcos Rezende

Você parou para observar o que está passando na televisão quando o seu filho a está assistindo? Ou já parou para refletir nos motivos que levaram um novo shopping a ser erguido perto da sua casa? Ou mesmo já se questionou sobre a real razão para a pré-escola dizer que está preparando o seu filho para o mercado de trabalho?
Não é novidade para ninguém que a organização da sociedade possui o formato de uma pirâmide onde os que estão na base sustentam aqueles que estão no topo. Enquanto no topo existem poucos lugares, na base existem muitos para serem ocupados, sendo "natural" que quem esteja em cima queira manter aqueles que estão em baixo onde estão para não perderem suas posições no topo.
Não é uma questão de maldade, mas de pura física onde dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, manifestando a lei da escassez que rege a vida da maioria das pessoas, seja aquelas que estão no topo ou na base.
Apesar de nascermos livres, durante a construção da nossa personalidade (da infância a fase adulta) vamos nos identificando progressivamente com essa lei e ficando cada vez mais “parados” conforme ela se torna a realidade do nosso modo de agir.
Não importa se nossa origem é uma família com muito ou pouco dinheiro. O que define se uma pessoa é escrava ou não é a maneira como ela lida com o mundo: se obedecendo a lei da escassez ou a lei da abundância.
Obedecendo a lei da escassez, nós temos medo e culpa. Medo do desconhecido (futuro, relações ou oportunidades) e culpa pelo passado (o que não foi feito, o que deu errado ou o que fizeram conosco). Agimos como vítimas e sempre estamos sofrendo por algo. Por isso precisamos atacar. Quem está em cima ataca quem está embaixo e quem está embaixo ataca quem está em cima.
Mas o que importa para o desenvolvimento pleno do ser humano e da humanidade não é que nossos filhos escalem a pirâmide social, se tornem pessoas ricas habitando o topo da pirâmide e mantenham as pessoas que estão embaixo afastadas das suas posições. O importante é que eles se libertem dessa pirâmide e das “regras naturais” contidas na sua estrutura.

Qual opção lhe parece a mais adequada?

A) Quero que meu filho seja pobre e triste.

B) Quero que meu filho seja pobre e feliz.
C) Quero que meu filho seja rico e triste.
D) Quero que meu filho seja rico e feliz.
E) Quero que meu filho seja livre e, portanto, sempre feliz.

Com quatro filhos, me ocupo bastante do pensamento sobre a criação, educação e escolarização das crianças, pois percebo vários problemas ocorridos nestes três aspectos ao longo da minha formação. Tive que trabalhar bastante para conseguir me libertar de algumas crenças, medos e valores que não desejo que o filho de ninguém possua e que me motivaram a vir aqui trazer à tona abaixo, alguns sinais de que nós podemos estar transformando nossos filhos em escravos ao invés de pessoas livres.
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Você matriculou seu filho em uma escola que o prepara para o mercado de trabalho

Ou uma que vai do maternal ao vestibular. Não importa. Se o seu filho está matriculado em uma escola que o prepara para o mercado de trabalho, você está preparando o seu filho para o passado e não para o futuro, para o mundo que vai existir daqui a 20 anos quando ele sair da escola. Você está preparando seu filho para se encaixar no mundo e não para criar um mundo para ele.

Você leva seu filho no shopping para passear

Shopping não é para passear. Shopping é para comprar ou então se distrair para comprar ainda mais. O objetivo do shopping é vender mais e por isso é tão importante para seus proprietários agregar serviços como praças de alimentação e espaço para as crianças com brinquedos eletrônicos e pequenos parques dentro dos seus estabelecimentos. Quanto mais próximas dos shoppings as crianças estiverem, melhor retorno financeiro o shopping terá no longo prazo. O impacto deste mau hábito pode levar seu filho a sempre querer consumir para se manter feliz.

Você permite que ele tenha mais coisas que o necessário

Presentes são as distrações do presente. Com milhares de roupas, tênis e brinquedos seu filho começa a perceber que fica feliz sempre que recebe alguma coisa nova e molda a sua cultura para isso. Desta forma, quando ele ficar triste novamente e não enxergar nada de novo à sua volta, acreditará que está com esse mau humor porque não tem nada novo para se distrair. Desde cedo eduque seu filho a compreender que ele não depende de coisas para ser mais feliz. No dia que seu filho fracassar e não tiver coisa alguma, se sentirá ainda mais infeliz por não tê-las e levará ainda mais tempo para retomar seu rumo.

Você acredita que ajuda seu filho quando executa tarefas simples pra ele

Dar comida na boca, amarrar o sapato, abotoar a camisa, dar banho, entre outras tarefas simples são coisas que os pais estão fazendo por mais tempo pelos seus filhos. Quando eles crescerem e estiverem adultos o mundo cobrará deles independência e disposição para realizar tarefas fora de suas zonas de conforto se eles quiserem se libertar. Tendo sido criado em uma redoma seu filho terá que lutar ainda mais para conquistar as coisas que deseja.

Você ensina seu filho a valorizar as coisas pelas marcas que elas carregam

Não basta comprar um caderno, precisa ser um caderno de uma determinada marca ou com um determinado motivo daquele desenho animado ou daquele filme que ele tanto adora. Não seja tolo. Você está agindo justamente da forma que o dono da marca daquele filme quer que você aja. Que tal explicar para o seu filho que o caderno sem marca nenhuma tem a mesma utilidade que o caderno com marca e que ele pode ser até melhor em qualidade que o outro. Ensine-o a valorizar as coisas pelo real valor delas e não pela marca que a coisa carrega. O significado de sucesso não é medido pela capacidade de adquirir acessórios das marcas mais caras como se fossem badges da vida real.

Você não ensina seu filho a receber doações

Conheço pais que não admitem que seus filhos recebam uma peça de roupa ou um tênis de uma outra criança só porque aquilo que era recebido já tinha sido usado. Não existe coisa mais digna e natural do que aprender a receber. Isso, inclusive é até mais importante que aprender a dar porque para receber você precisa ser humilde e nobre. Ensine-o a receber doações e ele se tornará livre por acreditar que o mundo dá as coisas para ele ao invés de visualizar um mundo cheio de perigos e apuros onde todos só pensam em tirar-lhe as coisas.

Você faz da alimentação por frutas e legumes algo pontual

O natural para o ser humano é comer frutas, legumes e verduras, enquanto refrigerantes, doces e outras guloseimas não é natural. Estes últimos “alimentos” é que devem ser apresentados ao seu filho como um evento pontual. Não há problema comer doces, biscoitos e bolos uma vez ou outra se o hábito da criança for comer coisas saudáveis, mas fazer da alimentação saudável algo esporádico é transformar o próprio filho em colecionador de problemas de saúde no futuro.

Você o deixa ver televisão

Assista televisão com o seu filho durante uma hora e notará nas entrelinhas uma série de comerciais educando-o a permanecer escravo do sistema. Enquanto mulheres feministas brigam pelos seus direitos nas ruas, um comercial de um brinquedo infantil, treina meninas para o consumo vendendo uma caixa registradora que aceita cartão de crédito de brinquedo onde sua filha pode fazer compras à vontade na lojinha da amiga. Desligue a televisão e veja o seu filho libertar a imaginação com amigos imaginários, pistas de corrida feitas com caixas de papelão ou simplesmente cantando a esmo dentro de casa.

Você não educa seu filho com uma medicina preventiva

Medicina preventiva é alimentação somada ao conhecimento do próprio corpo. Além de receberem alimentos ruins para o corpo, os pais não incentivam seus filhos a conhecerem suas dores e seus próprios males, curando toda e qualquer perturbação com algum medicamento invasivo que inibe o sintoma, mas não acaba com o problema. O autoconhecimento começa pelo conhecimento do nosso próprio corpo.

Você incentiva que seu filho tenha ídolos

Ter ídolos nos escraviza tanto quanto ter algozes. Tendo ídolos, seu filho começa a competir com outras crianças para medir se aquilo que idolatra é melhor ou pior que aquilo que os outros idolatram, seja uma personalidade, um atleta, um time de futebol, um músico, etc. Ele coloca todas as suas expectativas naquela pessoa, saindo de si para querer se tornar o outro o que normalmente termina em uma grande frustração quando ele verifica que o outro possuía as mesmas idiossincrasias que ele.

Você ensina as suas crenças para ele

Religião, trabalho, riqueza, modo de vida, enfim, você deposita no seu filho toda a sorte de crenças e medos cultivadas em você tirando a capacidade dele mesmo refletir sobre o que serve e o que não serve para ele. Você não ensina filosofia para ele e não o faz questionar e observar que talvez você e ele estejam errados a respeito das suas certezas. Que existem outras religiões diferentes da sua no mundo, assim como outros tipos de trabalho, outras formas de gerar riqueza e também outras maneiras de viver. Esclareça para o seu filho que a forma como você vive e a maneira como você pensa é a sua maneira, mas não a mais correta. Não ate-o a amarras que o deixem presos em qualquer área da vida. Leve-o a sua religião, ensine-o sobre ela, mostre a forma como você trabalha e a sua maneira de gerar riqueza. Traduza tudo isso e o seu modo de vida como apenas mais um modo de se viver, mas fortaleça-o para que ele faça a sua própria busca, deixando claro que irá lhe abraçar no caminho de volta pra casa.

Você não coloca em prática o que ensina para ele

E o principal e mais violento sinal de que você está criando o seu filho para seu escravo acontece quando você demonstra para ele que não se esforça para se libertar colocando em prática aquilo que ensina para ele.
  • Você continua indo ao shopping para passear.
  • Você continua vendo televisão.
  • Você continua torcendo para o seu time do coração com fanatismo.
  • Você cultua marcas, nomes e famosos.
  • Você se coloca como vítima da vida.
Você pode ter errado em tudo, mas não pode se dar o direito de errar em não assumir os próprios erros para acertar. Temos que ensinar esta nobreza para os nossos filhos se quisermos que eles se libertem desta pirâmide social na qual a maior parte da sociedade está inserida para viver a sua própria vida da maneira que ele acredita ser a ideal.
Entendo que alguns sinais colocados aqui afetam estruturalmente as suas crenças, mas te convido a fazer um exame em cada uma delas para verificar porque elas realmente existem em você e como elas podem estar moldando a vida que você tem hoje. Se você está preso, liberte-se e leve seus filhos junto, pois se todos os pais fizerem isso, libertaremos o mundo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

“Forças Armadas devem um pedido de perdão à sociedade brasileira”


Rosa Cardoso, integrante da Comissão da Verdade, fala sobre os trabalhos da comissão que entrega relatório final em dezembro

Por Dario Pignotti,
Dizem que Rosa Cardoso está entre as pessoas a quem Dilma Rousseff escuta com  mais atenção quando necessita de uma opinião sobre Direitos Humanos. A presidenta sabe da lealdade de sua advogada defensora durante a ditadura a quem designou como integrante da Comissão da Verdade que em dezembro apresentará seu informe final. A doutora Cardoso não desperdiça o tempo: trabalha a pleno vapor para concluir o relatório sobre os crimes da ditadura, que chama de “fábrica” de mentiras, instalada há 50 anos com a derrubada do presidente João Goulart.
Apesar de sua agenda saturada de compromissos, Rosa conversou durante uma hora com a Carta Maior, período no qual não evitou nenhum tema, abordando todos de um modo direto, como quando, por exemplo, se referiu à atitude omissa dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica frente aos delitos perpetrados por seus colegas de armas nos anos de chumbo.
“Primeiro quero dizer que até hoje as Forças Armadas devem um pedido de perdão à sociedade brasileira, com o que estariam assumindo uma posição civilizada e democrática, que é, afinal de contas, o que se espera dos militares no século 21. Lamentavelmente, até agora, não recebemos nenhum sinal, nenhuma mensagem, que nos indique que haja algum desejo, por parte dos militares, de pedir desculpas. Assim como a Rede Globo, respondendo a motivos diversos e oportunistas, inclusive a razões de mercado, fez uma autocrítica (sobre sua cumplicidade com os militares), é preciso que as Forças Armadas façam uma autocrítica política sobre seu comportamento”.
Ela prossegue:
“Até hoje os militares escondem o que ocorreu, nas escolas militares segue se estudando uma versão fantasiosa do que aconteceu. Chama a atenção a capacidade que têm de fabricar histórias e de mantê-las ao longo do tempo. Devem deixar de dizer coisas inverossímeis. Eles continuam com a farsa do suicídio de Vladimir Herzog e a versão absurda de que Rubens Paiva morreu em um enfrentamento. A Constituição de 46 fez com que as Forças Armadas assumissem um papel como poder moderador, uma visão que ainda perdura na corporação. Volta e meia algum general enuncia essa ideia. O general Leônidas Pires ainda repete que as Forças Armadas não deveriam estar submetidas ao poder civil”.
Anistia, Barbosa e STF
Há cerca de um ano, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, disse a correspondentes estrangeiros que era a favor que, em algum momento, fossem revisados os alcances da Lei da Anistia, um assunto sobre o qual houve posições divergentes dentro da própria Comissão da Verdade. Rosa Cardoso avalia:
“A mudança de posição do STF sobre a auto-anistia vai depender muito da mobilização da sociedade. Se a mobilização for importante, isso pode contribuir para que haja uma mudança de posição dos ministros. Há ministros sensíveis à opinião pública. Em minha opinião, essa mobilização poderá ocorrer a partir da apresentação do informe da Comissão que ocorrerá em dezembro. Não sei se o STF vai dar esse passo sobre a auto-anistia em 2014, ano do cinquentenário do golpe. Talvez dê, talvez não dê. Mas não considero adequado que, neste momento, os integrantes da Comissão da Verdade iniciem uma luta contra a auto-anistia no STF. Mas creio que, necessariamente, dentro das considerações finais de nosso relatório, deve se recomendar o cumprimento de uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a qual somos obrigados a cumprir, que questiona essa auto-anistia”.
A advogada prossegue:
“A Corte Interamericana se pronunciou sobre o Araguaia, dizendo que o Brasil tem que punir os crimes de lesa humanidade que são imprescritíveis, como a tortura, a desaparição e o ocultamento de cadáver. Os trabalhos da Comissão terminam em dezembro. Ia ser até maio. Nosso desafio é enfrentar todas as tarefas e realiza-las, principalmente escutar as vítimas, dar-lhes voz, escutar todas as pessoas interessadas, ver todo o material nos arquivos estaduais e no Arquivo Nacional. É preciso trabalhar na elaboração das recomendações enlaçando o passado e o presente, a revisão dos currículos das escolas públicas, das escolas militares, das escolas de polícia. Temos que fazer audiências exemplares porque não podemos cumprir todos os casos dos torturadores. Temos que aprofundar a investigação sobre a Casa da Morte de Petrópolis, que era um centro de extermínio. Talvez tenha sido o mais importante centro de extermínio. Temos que fazer uma audiência na Casa da Morte, uma audiência no Araguaia, uma audiência sobre o Riocentro, que é o exemplo mais claro das farsas montadas”.
Washington, 1964: converter o Brasil e um Vietnã
Rosa Cardoso falou também sobre o golpe de 1964:
“O golpe foi realizado pela elite militar, não por todos os militares, mas muitos dos que participaram da deposição do presidente Goulart em 64 haviam participado em outras conspirações que serviram como ensaio. Por exemplo, a que se fez contra Getúlio Vargas. É preciso lembrar que Getúlio se suicidou para evitar um golpe. Mais tarde, os militares quiseram impedir que Juscelino assumisse o governo. Houve outra tentativa de golpe quando se quis impedir que Goulart assumisse em 1961”.
“Na Comissão da Verdade, estamos revisitando o golpe. É importante a reconstrução desde uma ótica própria, revisar essa ditadura tão longa que deixou tantas marcas profundas. A recente liberação de documentos e a possibilidade de reconstruir a história oral ouvindo as vítimas permitem que abordemos outros ângulos. Cada vez fica mais evidente a participação no golpe a partir da penetração norte-americana desde o final da Segunda Guerra, compreender a visão estratégica que os Estados Unidos tinham acerca do Brasil e o que queriam do Brasil. Desde os anos 50, os Estados Unidos exigiam posições e pressionavam os governos brasileiros para que se alinhassem a Washington. Os EUA chegaram a planejar uma guerra civil, como a das duas Coreias, ou a do Vietnã, contando com o apoio de alguns membros das forças de segurança. Interessava a eles dividir o país. Isso quebraria a hegemonia do Brasil na América Latina. Chegaram a escolher Minas Gerais como estado independente do resto”.
Obama e Kissinger
Rosa Cardoso nos recebeu em um escritório simples, sem adornos ou móveis suntuosos, pertencente à Presidência da República. Ela desmente a ideia, propalada na imprensa tradicional, de que a ditadura é uma peça do passado e, como exemplo de sua atualidade, conta que o governo de Barack Obama não prestou apoio à Comissão da Verdade, seguramente pressionado por grupos de interesse e ex-líderes como Henry Kissinger, de larga e suspeita amizade com o chanceler Azeredo da Silveira (1974-1979) e, sobretudo, fiador do Plano Condor.
“Nós pedimos formalmente documentos aos Estados Unidos, por meio do Itamaraty, no início de nossa atividade como Comissão da Verdade, e até hoje não recebemos nenhuma resposta. Pensamos que na visita da presidenta Dilma (prevista para outubro do ano passado) seria possível apresentar outra vez o pedido, creio a presidenta estaria de acordo em respaldar essa solicitação, mas a viagem foi suspensa em protesto contra a espionagem dos Estados Unidos. Seja como for, creio que em alguns meses será propício pedir novamente documentos aos EUA e seja possível se chegar a um entendimento para que o próximo governo possa retomar esse requerimento também”.
“Você pergunta por que é tão demorada a liberação de papeis sobre a ditadura brasileira, que é a caixa preta do período do Condor. Essa talvez seja uma manobra protelatória para proteger personagens vivos. É uma suposição, mas é uma suposição racional imaginar que se proteja personagens como Kissinger. É claro que isso é possível. Nós temos documentos que não deixam dúvida sobre isso (a cumplicidade de Kissinger com o Plano Condor). Até agora conhecemos muito poucos documentos sobre a operação Condor, resta muito por conhecer sobre a participação de Kissinger nessa rede terrorista. O Plano Condor é o momento mais revelador do terrorismo de estado, em um plano que revela claramente a índole da ditadura. Seguramente há documentos secretos muito importantes. Tive acesso a alguns papeis publicados por uma professora norte-americana que mostra o quanto Kissinger sabia e estava envolvido”.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Como se constrói uma mentira de protestos na Venezuela




A política polarizada da Venezuela está outra vez no centro de notícias da imprensa, com manifestações pró e antigoverno, com até agora, quatro mortos: um apoiante do governo; um manifestante da oposição; um policia; e um morto cuja origem não está determinada.



Mas a imprensa está a noticiar como se TUDO fosse "prova" da repressão pelas forças do governo.
Praticamente TODAS as imagens que estão a ser publicadas são imagens repetidas, de outros "eventos". A atual "crise" está sendo integralmente inventada pelo "jornalismo".

Haverá quem não se lembre as manifestações/contra-manifestações no Palácio Miraflores em 2002, no início do golpe, que teve vida curta, contra Hugo Chávez.

Houve 19 mortos naquele dia. Sete deles estavam na manifestação pró-Chávez; sete na manifestação anti-Chávez; e cinco eram simples pessoas que assistiam. Houve também no total 69 feridos. 38 na manifestação pró-Chávez, 17 na manifestação da oposição, e 14 eram repórteres ou não conotados com nenhuma das partes.

TODOS esses mortos e feridos foram apresentados como vítimas de Chávez – pela oposição e por quase a totalidade dos veículos da imprensa internacional. Como se Chávez tivesse ordenado aos militares e a militantes pró-Chávez que atirassem contra os comícios da oposição. Como se vê acontecer novamente hoje, a única coisa que se prova é que, então, o lado do governo é campeão em errar o alvo.

No que tenha a ver com a Venezuela, a imprensa internacional nem sequer se dá ao trabalho de fingir alguma "objetividade".

A Venezuela é ameaça direta e declarada contra a ordem da hegemonia, caracterizada hoje por estados latino-americanos domesticados, ditaduras emergentes apoiadas pelos EUA os quais, todos, aceitam como bons meninos e boas meninas as políticas econômicas neoliberais.

Com petróleo suficiente para poder dizer "não" a tudo isso, a Venezuela criou sua própria parceria contra a hegemonia, a ALBA-TCP. E internamente, enquanto só se ouve falar dos racionamentos de papel higiênico e da inflação, sucedem-se avanços substanciais em várias frentes, já há vários anos – a pobreza continua a diminuir, há avanços notáveis na educação, na redução da mortalidade infantil, e veem-se passos rápidos na direção da igualdade, saúde materna e infantil, e proteção ao meio ambiente.

Ninguém lerá uma palavra acerca disso na imprensa estrangeira que sediada na Venezuela.
Só se ouve falar e lê-se sobre os sofrimentos da oposição. Diariamente somos bombardeados com mentiras, repetidas no Facebook, no twitter etc(...), e que não raras vezes, são repetidas até à exaustão por órgãos informativos considerados "sérios", como a CNN .

Vamos aos factos;

Aqui estão alguns policias brutais, com belos chapéus e colarinho de pele, provavelmente para se protegerem do frio de 30ºC de Caracas.

Aqui policias BÚLGAROS (possivelmente em visita a Caracas).


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Uma Fotografia de um manifestante Chavista... mas tirada o ano passado. (reparem nas datas)

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Agora uma fotografia verdadeira, mas tirada na ARGENTINA.

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Uma fotografia tirada no CHILE.

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Esta fotografia é brutal sem duvida, mas a cadeia de televisão norte americana CNN foi obrigada a admitir que a mesma foi tirada em SINGAPURA.

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Esta têm origem na GRÉCIA.

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Uma fotografia tirada no EGIPTO, durante as manifestações da Revolução da Primavera Árabe.

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Uma imagem que é originária das HONDURAS. Recem nascidos em cestos como se fosse na Venezuela e com a indignação "que revolução é esta?"

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Aqui temos uma das minhas preferidas... uma procissão religiosa, "noticiada" como protesto anti-governo na Venezuela.

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A comunicação social influencia o povo, compete-nos a nós desmascararmos esta vergonha.

O fascismo neoliberal, apoiado pela administração americana, cria estas montagens para com elas retirar proveitos, tentando mobilizar um golpe de estado para derrubar Nicolás Maduro, presidente da Venezuela eleito democraticamente pelo povo, mas que por não ser subserviente do capitalismo e dos americanos, sofre, sem qualquer pudor, este tipo de calunias que se tornam virais ao circularem, como disse anteriormente, nas redes sociais e em meios de comunicação fantoches, como a CNN.Esta é a  grande farsa que a "comunicação social" está a construir para um país, a Venezuela, mas não é a Venezuela real.Avante Venezuela livre.


Fonte: Diário Liberdade

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Venezuela: um filho das elites prega abertamente o golpe

Ligado à oligarquia e petroleira, criticado até mesmo pela oposição
 conservadora, Leopoldo Lopez quer depor a qualquer custo governo eleito democraticamente …


Por Rodrigo Vianna, em seu blog
O perfil é o de um típico mauricinho do Leblon. Ou dos Jardins. Um coxinha – como se costuma dizer agora. Só que um coxinha perigoso. Leopoldo Lopez é criticado até por setores da oposição – por ter decidido sozinho chamar os jovens às ruas pra derrubar o governo eleito da Venezuela. Hemrique Capriles, o outro líder da oposição, quer usar as ferramentas legais para derrotar o chavismo. Lopez quer o golpe.
Ele teve prisão decretada. Os EUA pressionam para que não seja detido. Por que? Lopez é apontado como homem de confiança, na Venezuela, do ex-presidente colombiano Alvaro Uribe – de extrema-direita.
Quando se diz que a elite venezuelana não aceita o que Chavez fez, tirando a estatal petroleira (PDVSA) das mãos de famílias que usavam a estatal como propriedade privada, a definição cai como uma luva para Leopoldo Lopez“Ex-prefeito do munícipio de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos, vem de uma das famílias da elite venezuelana, ligada ao setor industrial e petroleiro.”
A definição acima está em reportagem produzida não por algum jornal chavista, mas pela site da inglesa BBC. Confira a seguir
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por Claudia Jardim, na BBC Brasil
Popular, carismático, imprevisível, arrogante e sedento de poder. Essas são algumas das características que analistas e líderes políticos costumam usar para definir Leopoldo López, o mais novo inimigo público do governo venezuelano de Nicolás Maduro.
Referência da ala radical da oposição venezuelana, López está sendo procurado pela Justiça venezuelana. A polícia chegou a fazer buscas em sua casa neste domingo, mas ele não estava lá.
O opositor não é visto em público desde quarta-feira, quando milhares de estudantes sairam às ruas, liderados por ele, para exigir uma mudança de governo.
No entanto, ele divulgou um vídeo neste domingo, dizendo ser inocente e desafiando as autoridades a prendê-lo durante uma marcha que ele convocou para a terça-feira.
“Não tenho nada que temer, não cometi nenhum delito, sou um venezuelano comprometido com nosso país, como nosso povo. Se há alguma decisão legal de me prender, estarei pronto para assumir essa perseguição e essa decisão infame por parte do estado”, disse.
Ele é acusado de ser o autor intelectual da onda de protestos violentos que tomou a capital do país nos últimos dias. As marchas se tornaram mais violentas na quarta-feira, quando três homens foram mortos durante um protesto contra o governo. Maduro acusa López de incitar a violência, enquanto a oposição afirma que os homens foram assassinados por milícias pró-governo.
“López ordenou que todos esses jovens violentos, treinados por ele, destruíssem metade de Caracas e então resolveu se esconder”, disse o presidente. “Se entregue, seu covarde!”
‘Golpe’
López se converteu na mais nova dor de cabeça do ex-candidato presidencial e governador Henrique Capriles – líder do setor moderado da coalizão opositora – desde que decidiu colocar em prática o plano chamado “A saída”. Apoiado pelo movimento estudantil, o plano consiste em intensificar a onda de protestos no país até levar o presidente à renúncia.
“Ainda acreditam que devemos esperar até 2019 (fim do mandato de Maduro) para sair deste regime?”, questionou López, em seu perfil no Twitter, ao convocar os protestos.
Essa declaração foi interpretada pelo governo como um chamado a um golpe de Estado.
A escalada de violência que tem marcado o tom dos protestos nos últimos dias preocupa aos “moderados” da oposição. Um dos membros da Mesa de Unidade Democrática (MUD) afirmou à BBC Brasil que o setor moderado da oposição tentou dissuadir López de sua “aventura” com os estudantes.
Conservador, vinculado aos partidos de direita da região, López é visto como um “maverick” – jargão político para definir quem desobedece as linhas do partido – na avaliação do analista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela. “López tem um estilo muito personalista, pouco institucional. Ele está sempre em permanente busca de protagonismo”, afirmou Romero.
A seu ver, a polêmica decisão de levar a população às ruas para promover uma mudança de governo é uma manobra que tem como objetivo “ambições pessoais”, mas que pode levar à crise toda a coalizão opositora. “Leopoldo é um dirigente que neste momento está promovendo danos importantes à oposição democrática”, afirmou.
Sua habilidade em promover rupturas entre aliados políticos também foi destacada com preocupação por um conselheiro político da embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Em documento desclassificado de 2009 vazado pelo Wikileaks, Robin D. Meyer, qualificou a López como uma “figura divisora da oposição, arrogante, vingativo e sedento de poder”, diz o documento que tinha como enunciado “O problema Leopoldo”.
A historiadora Margarita López Maya caracteriza a López como um político “audaz, ambicioso e carismático”. Em sua opinião, ele é capaz de capitalizar os anseios da juventude que não vê saídas, se não o protesto, como mecanismo de pressão para debilitar o chavismo.
“Levá-lo prisão seria convertê-lo em um mártir e ele seria catapultalo a uma candidatura presidencial”, avaliou a historiadora.
Entre os jovens que estão protestando nas ruas, López é visto como um ícone da rebelião anti-chavista e um potencial presidenciável. “Se ele for preso, o movimento estudantil irá às ruas defender sua liberdade. Compartilhamos com ele a visão de que é preciso mudar esse governo. Vamos continuar nas ruas até a renúncia do presidente”, afirmou à BBC Brasil o dirigente estudantil Daniel Alvarez.
Carreira
Ex-prefeito do município de Chacao (2000-2008), López, de 43 anos, vem de uma das familias da elite venezuelana, ligada ao setor industrial e petroleiro.
Como prefeito, participou ativamente dos protestos que culminaram no golpe de Estado que derrocou brevemente o governo Chávez. Desde então, não pode se desvincular do rotulo de “golpista”, atribuido pelo governo e seus seguidores.
Em 2008, uma acusação de mau uso de recursos públicos, como prefeito de Chacao, fez com que o político fosse inabilitado politicamente pela justiça da Venezuela. Essa decisão do tribunal, impediu que lider opositor se projetasse como potencial candidato presidencial.
Formado em Harvard, sua carreira politica começou no partido Primeira Justiça, o mesmo de Capriles. Um racha interno o levou a abandonar o grupo. Ele então se filiou ao partido conservador Um Novo Tempo, onde permaneceu pouco tempo, até fundar seu atual partido Voluntad Popular.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Virando o Mito da Corrupção de Cabeça Para Baixo

mapa-transparencia-internacional

Por Jason Hickel

A Transparência Global publicou recentemente seu último Índice de Percepção da Corrupção (IPC), apresentado num atraente mapa mundial no qual as nações menos corruptas são alegremente marcadas em amarelo e as mais corruptas numa mancha vermelha estigmatizante. O IPC define corrupção como “o mal uso do poder público para benefício privado”, e baseia suas informações em 12 instituições diferentes, incluindo o Banco Mundial, a Freedom House e o Fórum Econômico Mundial.
Quando vi o mapa pela primeira vez fiquei chocado com o fato de a maioria das áreas em amarelo ser de países ocidentais ricos, incluindo os EUA e a Inglaterra, enquanto que o vermelho cobre quase todo o Sul global, com países como Sudão, Afeganistão e Somália marcados em tons ainda mais escuros.
Esta divisão geográfica encaixa-se perfeitamente com as opiniões dominantes, que vêem a corrupção como a praga do mundo em desenvolvimento (por exemplo, as imagens clichês de ditadores na África e subornos na Índia). Mas esta narrativa estaria correta?
Muitas organizações internacionais de desenvolvimento afirmam que a persistência da pobreza no Sul global é em grande parte causada pela corrupção entre funcionários públicos. Em 2003, este debate deu origem à criação de uma Convenção na ONU que afirmava que, apesar da corrupção existir em todos os países, este “fenômeno do mal” é mais destrutivo no Sul global, onde seria um “elemento chave da má performance da economia e um enorme obstáculo à melhoria da pobreza e ao desenvolvimento”.
Só há um problema com esta teoria: ela simplesmente não é verdade.
Corrupção, Estilo, Superpoder
Segundo o Banco Mundial, a corrupção na forma de suborno e roubo por membros do governo, que é o alvo principal da Convenção da ONU, custa entre 20 e 40 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento. É bastante dinheiro. Mas é uma porção extremamente pequena – apenas 3% – do total de fluxos ilícitos que vazam dos cofres públicos. Sonegação de impostos, por outro lado, soma mais de 900 bilhões por ano, dinheiro que corporações multinacionais roubam de países emergentes através de práticas como a avaliação incorreta de preços [trade mispricing].
Este enorme fluxo de saída de riqueza é facilitado por um obscuro sistema financeiro que inclui paraísos fiscais, empresas fantasmas, contas anônimas e fundações falsas, com a Cidade de Londres no coração disso tudo. Mais de 30% do investimento global estrangeiro é agenciado através de paraísos fiscais, que escondem atualmente 1/6 do total da riqueza privada mundial.
Esta é uma causa gigantesca – fundamental, na verdade – da pobreza no mundo em desenvolvimento, e no entanto não consta na definição usual de corrupção. Está ausente da Convenção da ONU, e raramente aparece na agenda de organizações de desenvolvimento internacional, se é que alguma vez apareceu.
Com a Cidade de Londres no centro de uma rede global de paraísos fiscais, como a Inglaterra pode ser vista como limpa pelo IPC?
O fato de que Londres seja imune a muitas das leis democráticas da Inglaterra, e livre da vigilância do Parlamento, torna a questão ainda mais problemática. Como resultado deste status especial, Londres manteve diversas tradições antiquadas e plutocráticas. Considere o seu processo eleitoral, por exemplo: mais de 70% dos votos para as eleições nos Conselhos não são de moradores, mas de empresas – bancos e empresas financeiras em sua maioria. Quanto maior a corporação, mais votos ela possui, com as maiores chegando a ter 79 votos cada. Isto eleva a “personalidade corporativa” tipo norte-americana [US-style corporate personhood] a um outro patamar.
Sejamos honestos: este tipo de corrupção não é totalmente fora de lugar num país em que a família real é dona de 120 mil hectares de terra e consome cerca de 40 milhões de libras dos fundos públicos a cada ano. E há também o Parlamento, no qual a Casa dos Lordes é preenchida não por eleição, mas por indicação, com 92 assentos herdados por famílias aristocratas, 26 reservados para os maiores líderes religiosos do país, e dúzias de outros à venda para multi-milionários.
Nos EUA, a corrupção é só um pouquinho menos evidente. Embora os assentos do Congresso ainda não estejam disponíveis para compra, a decisão Cidadãos Unidos vs FEC permite às corporações gastar quantidades ilimitadas de dinheiro em campanhas para certificarem-se de que seus candidatos serão eleitos, uma prática justificada sob o manto Orwelliano da “liberdade de expressão”.
O Fator Pobreza
A Convenção da ONU tem razão em dizer que a pobreza em países em desenvolvimento é causada pela corrupção. Mas a corrupção com a qual nós deveríamos estar mais preocupados tem suas raízes nos países marcados em amarelo no mapa do IPC, não em vermelho.
Os paraísos fiscais não são o único culpado. Sabemos que a crise financeira de 2008 foi causada pela corrupção sistêmica de funcionários do governo dos Estados Unidos intimamente ligados aos interesses de Wall Street. Além da transferência de trilhões de dólares dos cofres públicos para bolsos privados através dos socorros aos bancos [bailouts], a crise varreu um naco enorme da economia global. Teve um efeito devastador nos países emergentes, secando as demandas por exportações, causando ondas massivas de desemprego.
Uma história similar pode ser contada sobre o escândalo Libor na Inglaterra, quando grandes bancos londrinos conspiraram para fraudar as taxas de juro de modo a tragar, muito além do litoral britânico, cerca de 100 bilhões de libras. Como poderia qualquer um destes escândalos não ser definido como “o mal uso do poder público para benefício privado”? Subornos e desvios de verba no mundo em desenvolvimento parecem provincianos quando comparados ao alcance global deste tipo de corrupção.
Mas esta é somente a ponta do iceberg. Se nós realmente quisermos entender como a corrupção impacta a pobreza em países emergentes, precisamos começar observando as instituições que controlam a economia global, como o FMI, o Banco Mundial e a OMC.
Durante as décadas de 1980 e 1990, as políticas que estas instituições impuseram ao Sul global, na esteira do Consenso de Washington, causaram uma queda de quase 50% no crescimento da renda per capita. O economista Robert Pollin estimou que, durante este período, países emergentes perderam cerca de 480 bilhões de dólares por ano em PIB. Seria difícil exagerar a devastação humana que estes números representam. No entanto, corporações ocidentais se beneficiaram enormemente deste processo, ganhando acesso a novos mercados, mão-de-obra barata e matérias-primas, e novas aberturas para a circulação de capital.
Estas instituições disfarçam-se como mecanismos de governança pública, mas são profundamente anti-democráticas; por isso conseguem safar-se mesmo que suas políticas violem o interesse público de forma tão direta. O poder de voto no FMI e no Banco Mundial são distribuídos de modo que, juntos, os países emergentes – a vasta maioria da população mundial – possuem menos de 50% dos votos, enquanto o Tesouro dos EUA tem poder de veto. Os líderes destas instituições não são eleitos, mas escolhidos pela Europa e os EUA, e entre eles há muitos oficiais militares e executivos de Wall Street.
Invertendo a Culpa
Se estes padrões de governança fossem adotados em qualquer nação do Sul global, o Ocidente logo gritaria “corrupção!”. Mas esta corrupção é normalizada nos centros de comando da economia mundial, perpetuando a pobreza nos países em desenvolvimento, enquanto a Transparência Internacional desvia a nossa atenção.
Mesmo se decidirmos nos concentrar na corrupção localizada em países emergentes, temos que reconhecer que ela não existe num vácuo geopolítico. Muitos dos ditadores mais famosos da história – como Augusto Pinochet, Mobutu Sese Seko, e Hosni Mubarak – foram sustentados pelo constante fluxo de ajuda do Ocidente. Hoje, não são poucos os regimes entre os mais corruptos do mundo que foram instalados ou apoiados pelos EUA, entre eles o Afeganistão, o Sudão do Sul, e os guerreiros da Somália – três dos lugares mais escuros no mapa do IPC.
Isto levanta uma questão interessante: o que é mais corrupto, a ditadura miúda ou o superpoder que a instala? Infelizmente, a Convenção da ONU ignora, de forma conveniente, estas dinâmicas, e o mapa do IPC nos leva a acreditar incorretamente que a corrupção de cada país está restrita às suas fronteiras nacionais.
A corrupção é com certeza uma das maiores causas da pobreza. Mas se quisermos levar este problema a sério, o mapa do IPC não nos ajuda muito. A maior causa da pobreza em países emergentes não é o suborno e a roubalheira localizada, mas a corrupção que é endêmica ao sistema de governança global, a rede de paraísos fiscais, e os setores bancários de Nova York e Londres. É hora de virar o mito da corrupção de cabeça para baixo e começar a demandar transparência onde ela é realmente necessária.

N.E.  Tradução por Antonio Engelke. Original em inglês http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2014/01/flipping-corruption-myth-201412094213280135.html

link para o “mapa da corrupção”: http://cpi.transparency.org/cpi2013/results/

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Resumo da história sobre a morte do cinegrafista na manifestação



Por Samuel Braun

Os 10 passos de uma história que não deve nada ao carro explodido pela ditadura no RioCentro.

1 - Fabio se entrega voluntariamente à polícia, acompanhado de um advogado particular.

1.A - Nenhum manifestante (ou PM) se entregou até hoje, em nenhuma manifestação.

1.B - Fabio não estava foragido, nem procurado, ele resolveu se apresentar 'voluntariamente'.

2 - Seu advogado é o mesmo que fez a defesa de ex-vereador miliciano preso em penitenciaria federal.

2.A - O miliciano preso é irmão de outro miliciano preso, Jerominho, do mesmo partido (PMDB) do governador e do prefeito, alvos dos protestos.

2.B - Quando defendia o miliciano, responsável pela morte de diversas pessoas em chacinas, este advogado não entregou seu cliente em nenhuma delegacia.

3 - Advogado denuncia, através de seu assistente, o deputado Freixo como ligado aos atos criminosos em apuração.

3.A - Após fazer questão de comunicar esta versão ao delegado e registrá-la, voltou atrás. Não antes de toda mídia dar ampla divulgação.

3.B - Freixo concorreu contra Eduardo Paes e se constituiu como único candidato forte de oposição ao atual governo.

4 - Fabio alega que apenas entregou o artefato, que outra pessoa o detonou, mas não sabe quem foi.

4.A - Fabio repentinamente conhece alguém, que conhece alguém que sabe nome, apelido e CPF deste que teria acendido o artefato.

4.B - O tal denunciante não é revelado, e o advogado é que assume a responsabilidade pela denúncia.

5 - O advogado Jonas denuncia à polícia quem teria sido o detonador do artefato. A estratégia da defesa de Fabio é responsabilizar Caio, negro de cabelo curto e duro.

5.A - As imagens apontam um rapaz claro, cabelos lisos e volumosos.

5.B - Polícia vai a caça de Caio na casa de sua família. Jonas, o advogado denunciante vai junto.

6 - Partem num avião um delegado do Rio, o advogado denunciante e a imprensa para prenderem Caio na Bahia, após sua família ser pressionada a entregá-lo.

6.A - Caio é preso pelo delegado e pelo advogado denunciante. Um trunfo para a defesa de Fabio.

6.B - Inexplicavelmente, o advogado de Fabio, denunciante e auxiliar na captura, vira defensor TAMBÉM de Caio.


7 - Jonas, que não entregou Natalino, mas entregou Fabio, acusou e prendeu Caio agora defende Caio contra Fabio e Fabio contra Caio.

7.A - a polícia aceita que um advogado da parte ré participe de uma operação policial.

7.B - Autoridade policial aceita, sem estranhamento, que advogado de um réu que denunciou outro e auxiliou na prisão deste siga como defensor deste.

8 - Jonas, o advogado que faz prisões, e a Globo, que teve permissão pra cobrir com exclusividade a operação (porque, porque?) dizem que Caio afirmou que "políticos aliciam para manifestações".

8.A - Caio não assinou nenhuma declaração nesse sentido. Um vídeo mostra que ele disse claramente que pessoas são convocadas (não aliciadas) e que é papel da polícia investigar quem convoca (portanto, não acusou ninguém, muito menos políticos).

9- Senadores do PT, PRB e PP (aliança dos governos municipal e estadual, foco dos protestos) apresenta projeto que tipifica manifestação e greve como terrorismo. Outro senador do mesmo partido sobe na tribuna exigindo urgência na aprovação.

9.A - Secretário de Segurança do Rio apresenta projeto para Congresso (!!!) para tipificar também crime de desordem e incitação a desordem pública.

9.B - Imprensa, liderada pela Globo, exige maior repressão policial e jurídica ao que chama de atentado à liberdade de imprensa.


10 - Instituições democráticas, partidos de esquerda, militantes e personalidades ligada aos governos apoiam a cruzada acima.

10.A - Em se aprovando os projetos, todas as atividades dos sindicatos, entidades estudantis e movimentos sociais serão considerados terrorismo e desordem pública.

10.B - Santiago foi a 10ª pessoa morta em decorrência das manifestações, a primeira por conta de manifestantes. Das outras 9, nem o nome se sabe direito.


Fonte: Página do Facebook