segunda-feira, 6 de maio de 2013

O terrorismo israelense e o conflito sem solução na Síria



Estes últimos atos de terrorismo israelense são, no entanto, medidos para irritar Assad, presidente da Síria, e forçá-lo a retaliar, causando dois efeitos perigosos para si e para a Síria.

Por Raphael Tsavkko Garcia

Os recentes ataques aéreos israelenses contra alvos sírios, inclusive nas proximidades de Damasco, capital do país árabe, coroados com constantes invasões do espaço aéreo sírio só podem ser chamados por um nome: Terrorismo.

O último ataque com mísseis nas proximidades de Damasco tinha como objetivo, afirmam fontes israelenses, um carregamento de mísseis iranianos destinados ao Hezbollah libanês e são injustificáveis por três razões principais.

 

Em primeiro lugar, não há qualquer prova de que tal carregamento, que se encontrava nos arredores de Damasco, a centenas de quilômetros da fronteira libanesa, iria para o Hezbollah ou qualquer outro grupo, o que nos leva ao segundo ponto, que é o fato de não ser da alçada israelense intervir, sem mandato internacional, dentro da Síria, em carregamentos militares, mesmo que este fosse efetivamente destinado ao Hezbollah.

Caberia ao governo libanês se movimentar contra a iniciativa se fosse de sue interesse e não Israel se imiscuir nos assuntos de dois Estados soberanos.

Terceiro ponto é a hipocrisia que chama atenção no caso, quando Israel e aliados (notadamente EUA) financiam e mesmo equipam guerrilhas islâmicas anti-Assad na Síria, intervindo indevidamente e mesmo ilegalmente em um conflito interno sírio, buscando desestabilizar o governo central.

E desestabilizar é o que Israel faz de melhor, haja visto as invasões ilegais ao Líbano no passado, levando à morte centenas de civis com bombardeios "cirúrgicos" a alvos supostamente militares, em geral escolas, hospitais e residências. Além disso, não podemos esquecer as pressões políticas aos vizinhos, a insistência por parte de Israel em manter o controle sobre as Colinas de Golã (território sírio ao norte de Israel) e que Israel manteve por anos o controle sobre porção significativa do sul do Líbano.

 

Estes últimos atos de terrorismo israelense são, no entanto, medidos para irritar Assad, presidente da Síria, e forçá-lo a retaliar, causando dois efeitos perigosos para si e para a Síria.

De um lado, Israel explora a batida tática de dividir para conquistar, ou seja, enquanto a Síria busca se defender dos ataques de diversos grupos guerrilheiros e terroristas, com o maior deles, a Frente Al-Nusra, ligado à Al Qaeda e sendo pesadamente financiado pelos EUA, Israel pressiona para que Assad abra uma nova frente, conta Israel. Este conflito, aliás, tem ainda o entusiasmo da Arábia Saudita que, como os EUA, financia a Frente al-Nusra e a Al Qaeda.

Mesmo a preocupação em se defender das agressões israelenses impõe um dilema a Assad, que teria de desviar atenção e recursos para se defender. Do outro lado, e como consequência, Israel provoca sabendo que qualquer reação síria seria pequena em comparação ao poderio militar israelense e que, caso atacada, ganharia ainda mais apoio internacional, ou ao menos dos EUA e União Europeia, fazendo-se de vítima, no que continua sendo o principal recurso do teatro retórico vitimista israelense.

Os EUA continuam em sua posição comodista e cúmplice. De um lado apoiam a Al Qaeda na Síria, do outro defendem e garantem sustentação à retórica e aos ataques israelenses. De quebra, conseguem, via propaganda, acusar o Irã de estar ligado, mesmo que indiretamente, por ser o responsável por suprir a Síria e o Hezbollah de mísseis.

Israel mantêm-se confortável, atacando um inimigo livremente, fazendo sua economia bélica girar e, caso haja resposta, poderão intervir mais diretamente contra um inimigo histórico.

Tanto Obama quanto representantes do Reino Unido manifestaram seu apoio ao "direito israelense de se defender", sem explicar de que forma Israel estaria se defendendo ao atacar a síria em sua capital e sem qualquer tipo de provocação.

É a velha desculpa dos "ataques preventivos" que serviram para justificar ataques, invasões e guerras americanas pelo oriente médio sem que houvesse efetivamente nenhum perigo aos EUA ou qualquer aliado.
A crise síria não tem solução fácil e, na verdade, sequer tem uma solução, se isto pressupõe uma saída pacífica ou que resulte em menos derramamento de sangue.

Uma vitória de grupos ligados aos EUA, Israel, Arábia Saudita e a Al Qaeda - acreditem, não há contradição nesta aliança - provavelmente abririam caminho para um banho de sangue imenso, com perseguições às minorias cristãs, drusas e alauítas (grupo ao qual pertence Assad) e uma crise humanitária sem precedentes aliada à possível imposição de um regime islâmico no país.

 

Isto, bem ao gosto dos EUA e Israel, poderia facilitar uma intervenção e imposição de governo simpático aos interesses "ocidentais", como no Iraque (que, por sua vez, continua em franca escalada violenta). A acusação - até o momento infundada - por parte de Israel de que a Síria teria armas químicas vai nesta direção, na preparação do terreno para uma invasão.

Uma vitória de Assad significaria a perseguição aos remanescentes dos grupos que lutaram para derrubá-lo e talvez um recrudescimento do regime, assim como um aumento de animosidade contra Israel e a ampliação do financiamento do Hezbollah e outros grupos anti-Israel.


 
Os caminhos para a vitória de um ou outro lado são todos sangrentos, violentos e extremamente complicados e mesmo improváveis. E a situação se complica quando, em uma guerra civil, diversos interesses estrangeiros colidem e resultam em terrorismo e declarações veladas de guerra.


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