sábado, 25 de agosto de 2012

Nossa Avenida vai além do Carnaval

foto:divulgação


Um dos candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, divulgou, recentemente, suas propostas para mudanças no Carnaval carioca. Leia abaixo, na íntegra, o texto sobre suas ideias para tornar a maior festa do mundo, ainda melhor.
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A partir dos anos de 1960, quando as escolas de samba assumiram o protagonismo do carnaval do Rio de Janeiro e instauraram uma espécie de nova ordem momesca, o desfile das grandes agremiações ganhou o status de “Maior Espetáculo da Terra”. Foi uma metamorfose natural e processual, reflexo de uma cidade que também jamais parou de se transformar. Acabaram sendo “descobertos” redutos e bambas no balanço do trem ou na carona do então recém-inaugurado túnel Rebouças, aproximando classes e bairros. De lá pra cá, o Rio de Janeiro assistiu à construção do Sambódromo (1984) e à criação da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), em 1985, que conferiram avanços significativos rumo à dita “profissionalização”, entregando ao espetáculo o público multidiverso e as vultosas cifras atualmente movimentadas. Entretanto, a partir do afastamento quase completo do poder público da organização dos desfiles (movimento iniciado há cerca de 20 anos), os valores culturais do que se leva à Avenida – fundamentalmente, as bases e a razão para a existência do “show” atual –, foram deixados de lado.


Muito além da característica comercial e turística, a folia carioca apresenta formação e função essencialmente culturais. Se existe o atual panorama de destaque econômico e midiático – o que engloba até mesmo a transmissão televisiva para outros países –, foi porque foram encontrados referenciais sólidos de crescimento: os rituais, símbolos, ícones, personagens, marcas identitárias e, até mesmo, culinária própria. O samba e suas escolas não têm apenas função recreativa, mas reforçam também nossa memória coletiva e, principalmente, afetiva. As feijoadas, os encontros nas quadras, nas ruas e a grande reunião anual na Avenida dos Desfiles, Marquês de Sapucaí, são espaços para a celebração e transmissão de saberes populares, algo de que a engrenagem comercial contemporânea – por mais que muitos não percebam –, também necessita para sobreviver.


Em qualquer cidade, a competência para a gestão do carnaval acontece na esfera municipal. No Rio de Janeiro, a história ganha novos personagens e as fontes de recursos financeiros ultrapassam os limites domésticos, alcançando dotações estaduais e federais. Esta característica é absolutamente compreensível, tendo em vista que a folia ultrapassou, inclusive, as fronteiras nacionais. Contudo, exige do poder um controle maior dos investimentos e recursos que, na esteira da festa, circulam por aqui. Além disso, há um controverso “anexo” à administração do “negócio” público: o comando é “compartilhado” com uma instituição privada, a Liesa. Alçada à condição de representante das escolas, a entidade foi ainda mais longe e também passou a dar todas as cartas do desfile, responsabilizando-se – entre outras funções –, até mesmo pela comercialização de ingressos (que podem ser adquiridos apenas em dinheiro vivo a partir de reservas feitas por telefone ou fax) e escolha dos julgadores. Ora, são estes vazios de influência pública que, aos poucos, têm minado aspectos importantes inerentes à folia. Vale ressaltar que desde 1935 o Estado cuida e incentiva financeiramente as escolas.


Assim como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos possuem órgãos próprios de planejamento, o carnaval carioca, por suas dimensões, necessita, também, de um tratamento nos mesmos moldes. Com algum exagero, para fins de exemplificação didática, é como se fizéssemos um Mundial de Futebol a cada mês de fevereiro ou março. Se, de maneira absoluta, o volume de recursos aplicado cresce a cada ano, por que a prestação de contas da subvenção ainda não é realizada de maneira satisfatória? Além disso, se o dinheiro público e a verba ligada aos direitos de transmissão (exclusiva) de televisão atingiram um patamar de cerca de R$ 5 milhões para cada escola (suficientes para a preparação de um carnaval competitivo), como explicar a corrida desenfreada por enredos patrocinados? Que legado deixaremos para a manutenção de uma festa cuja resistência está calçada em pilares que vêm sendo derrubados?


Para 2013, grande parte das agremiações do Grupo Especial já anunciou seus temas, quase todos patrocinados. O festival Rock In Rio, a Coréia do Sul, os criadores da raça de cavalos Mangalarga Marchador e os proprietários da Revista Caras são alguns dos novíssimos mecenas que irão expor suas marcas na Avenida, condicionando propostas temáticas única e exclusivamente à filigrana comercial. Eis o reflexo de um poder público que se limita a administrar os recursos como balcão de negócios, já que a prefeitura não garante o papel de influência sócio-cultural representado por uma de nossas maiores riquezas simbólicas. Ora, faz-se necessária a atuação de um órgão municipal (Subsecretaria) dedicado a pensar a folia carioca durante todo o ano, espelhando a importância alcançada por este evento com nuances tão particulares, e que influencia o conjunto da formação social carioca. Quando uma empresa ou pessoa física apresenta uma proposta para obter apoio financeiro – seja diretamente através de dinheiro governamental, ou obtendo autorização para captar em troca de isenção fiscal –, este projeto é analisado pelo ente público, e sua relevância é considerada para que os recursos ou isenção sejam concedidos. Basicamente, busca-se aqui processo semelhante para o carnaval.


Para receber a subvenção, é fundamental que os enredos (inclusive os patrocinados) apresentem grande valor cultural. Caso, portanto, opte pela exaltação direta ou indireta a marcas comerciais, a escola não deverá receber verba pública. Esta proposta não se trata, de forma alguma, de uma tentativa de dirigismo temático, e, sim, de uma busca pela gestão criteriosa de recursos para que as agremiações não se tornem meros veículos de propaganda para empresas privadas. Além do que já ocorre com o turismo, a prestação de contas, negociação de cotas de patrocínio e os aspectos não comerciais (culturais) devem ser "cuidados" por quem foi escolhido nas urnas para comandar a cidade. Desde a sua criação, a Liesa teve fundamental participação no crescimento dos desfiles, mas sua autonomia – quase 30 anos depois –, merece questionamento.


Se a prefeitura, por exemplo, construiu 14 barracões na Cidade do Samba, por que a instituição fixou em 12 o número de participantes do Grupo Especial? Como justificar os gastos municipais com dois galpões não ocupados por alegorias e adereços? O novo órgão municipal irá cuidar de todas as relações que envolvem as escolas de samba, internas e externas. Por exemplo, como representantes de comunidades, as agremiações não devem ter “donos”. Filho do povo e, portanto, da democracia, o samba prescinde de qualquer tipo de monopólio, inclusive do televisivo, este que tem prejudicado a qualidade das recentes transmissões. Nos dia a dia dos barracões, já que a formação de mão de obra especializada para o carnaval é usada para justificar verbas – muitas vezes públicas ou de estatais –, em projetos sociais, é fundamental a fiscalização das relações de trabalho. Afinal, é sabido que em muitos deles os direitos básicos do trabalhador não são respeitados.


Mas o carnaval carioca é muito além da Rua Marquês Sapucaí e seus grandiosos grêmios recreativos. Está nas marchinhas das ruas e salões, nos becos e vielas, no alto e no entorno dos coretos das praças, no mar, na Estrada Intendente Magalhães. É imperativo que o poder público olhe com bastante cuidado para os desfiles do grupo de acesso, garantindo, entre outras ações, a preservação de bandeiras históricas que perderam a força com o passar dos anos. Os grupos C, D e E desfilam sem os holofotes das grandes, mas significam a garantia de força para o festejo que não para de se transformar. Hoje, ainda faltam recursos e condições para a realização do espetáculo das escolas menores. Além disso, o Estado precisa entender de uma vez por todas que escolas de samba e blocos de rua possuem naturezas e propostas distintas. Um projeto da atual gestão da prefeitura em parceria com a Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (AESCRJ), ano após ano, tem condenado à revelia seis escolas do Grupo E a virarem blocos, o que impossibilita a criação de novas agremiações. Nada mais equivocado do que uma transformação estrutural orquestrada de cima para baixo, já que as entidades nasceram a partir de processos comunitários próprios.


Os blocos, aliás – marcas históricas de uma cidade com vocação para festejar –, merecem grande atenção, sobretudo no atual momento de resgate dos antigos carnavais de rua e salão. Eles não apresentam tanta visibilidade midiática (não têm desfiles apresentados em rádio e tevê), mas possuem abrangência gigantesca. Em lugar de serem observados por milhares, são mais inclusivos em termos de participação, parte da mistura própria de um Rio que já foi dos clubes de frevo, dos ranchos, dos corsos, cordões, dos blocos afros, dentre outros, e que pode sim congraçar todas as manifestações espontâneas. A ocupação do espaço público precisa acontecer a partir do equilíbrio entre as regiões – sem privilegiar determinados bairros –, e calçada na estrutura e segurança para todos os brincantes. É preciso deixar explícito que as Ligas e Associações podem e devem seguir com a função de representação das entidades foliãs, mas urge que a prefeitura reassuma seu papel de responsabilidade no fomento e gestão do bem histórico intangível que é o nosso carnaval.


E já que a festa é, fundamentalmente, política cultural e social, que tal reaproximarmos as escolas de samba do público que as entregou liderança e devoção há mais de 50 anos? Na carona da reforma do Sambódromo – que, finalmente, tirou do papel a ideia completa do arquiteto Oscar Niemeyer (arquibancadas espelhadas) –, seria justiça histórica se o projeto original da Avenida fosse todo retomado. Ou seja, as frisas (ou, pelo menos, um lado delas) transformadas em uma autêntica “geral”, com preços populares, para que todos pudessem embarcar na fantasia encerrada em Cinzas e na lágrima do pierrô.


Eis aqui a nossa proposta e Avenida. Uma Avenida que, cá pra nós, vai muito além do carnaval.
Propostas:


Criação da Subsecretaria de Cultura Especial do Carnaval – A Subsecretaria vai assumir a organização do Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, considerado o grande espetáculo do planeta. Serão privilegiados os valores culturais, o julgamento coerente e a correta gestão dos recursos públicos destinados às agremiações.


Subvenção condicionada à relevância cultural dos enredos – Caso uma agremiação opte por retratar uma marca, não deverá receber verba pública. Esta proposta não se trata, de forma alguma, de uma tentativa de dirigismo temático. É apenas a busca pela gestão criteriosa de recursos para que as escolas não se tornem canais de propaganda.


Apoio às agremiações dos grupos de acesso – Mais recursos e estrutura para a realização dos desfiles dos grupos de acesso, que acontecem na Estrada Intendente Magalhães, no bairro do Campinho.


Apoio a todas as instituições carnavalescas – Política que vise ao fomento e à distribuição geográfica de blocos, cordões e quaisquer instituições carnavalescas por toda a cidade, possibilitando a ocupação democrática do espaço público. Importante salientar: escolas de samba não podem ser rebaixadas à condição de blocos, e estes não podem se tornar escolas de samba, por ação de órgãos controladores. Suas naturezas são distintas e possíveis mudanças estruturais devem ser frutos de decisões internas ou comunitárias.


Preservação das entidades foliãs e seus espaços comunitários – O poder público precisa garantir a preservação de grandes agremiações, responsáveis por históricos desfiles e sambas, mas que perderam a força com o passar dos anos. Também é necessário pesquisar, identificar e preservar os perímetros culturais no entorno dos berços das escolas, a fim de que seja a face material, geográfica e sentimental do samba como Patrimônio Imaterial do Rio do Janeiro.


Retorno do projeto original do sambódromo – O fim das frisas (ou, pelo menos, de um lado delas), transformando-as, como no projeto original, em uma grande “geral”, com preços populares. A ideia é combater a frieza dos desfiles e reaproximar o carioca do espetáculo.


Concorrência da transmissão televisiva – O fim da exclusividade na transmissão televisiva condicionaria diferentes formas de narração, aumentando as possibilidades de apresentação do espetáculo para o público de casa. Como resultado, o aumento do conteúdo jornalístico disponível aos espectadores e uma saudável disputa pelo melhor “olhar” sobre a festa.


TV Educativa e carnaval – Em caso de quebra do monopólio televisivo, em um novo contrato discutido pelo poder público, que haja uma cláusula que permita às Tevês Educativas a transmissão sem a necessidade de pagar pelos direitos.

Assinam este manifesto:


Adílson Bispo, Alberto Mussa, Alexandre Medeiros, Anderson Baltar, André Albuquerque, Carlos Linhares, Dudu Botelho, Edgar Filho, Eduardo Gonçalves, Eduardo Silva, Emiliano Tolivia, Evandro Vargas, Fábio Fabato, Fábio Pavão, Fábio Silva, Felipe Damico, Fernando Pamplona, Fernando Peixoto, Freddy Ferreira, Gustavo Melo, João Máximo, Lilian Rabello, Luis Carlos Magalhães, Luise Campos, Luiz Antonio Simas, Luiz Carlos Máximo, Luiz Fernando Reis, Marcelo Moutinho, Marco BTU, Mariana Cesário, Marianna Tavares, Maurício Castro, Paulo Renato Vaz, Pedro Simões, Rachel Valença, Rafael Marçal, Renato Raposo, Ricardo Delezcluze, Ricardo Dias, Roberto Vilaronga, Rogério Rodrigues, Thiago Carvalho, Thiago Gomes, Thiago Lepletier, Tiago Prata, Tiãozinho da Mocidade, Vagner Fernandes, Vera de Sá Braz, Vicente Almeida, Vicente Magno, Vinicius Ferreira, Wanderlei Monteiro, Toninho Nascimento.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Reino Unido como "estado canalha"


Por Atilio Borón*

A partir de fins do século passado, ganhou crescente aceitação na opinião pública internacional a expressão "estado canalha". Incentivado pela máquina propagandística norte-americana, o conceito tinha como objetivo satanizar os países hostilizados por Washington, com a evidente intenção de justificar as agressões do império.

Nesta lista estavam inclusos Afeganistão, Coreia do Norte, Cuba, Iraque, Irã, Líbia, Sérvia-Montenegro, Sudão e Síria. Atualmente, a listagem se reduziu a cinco países, porque graças às políticas de promoção de "mudanças de regime" (eufemismo para evitar dizer "intervenção aberta dos EUA"), Afeganistão, Iraque, Líbia e Sérvia-Montenegro foram incorporados à categoria de nações democráticas. O Sudão, por sua vez, foi dividido em dois e a região rica em petróleo se converteu em Sudão do Sul. O resto continua sendo um "estado canalha".


Porém, as reviravoltas da história ou a "astúcia da razão" hegeliana fizeram com que hoje esse termo se volte contra seu criador. Os estigmatizados o eram por sua pretensa violação aos direitos humanos, seu apoio ao terrorismo e suas armas de destruição maciça constituíam ameaças letais à comunidade de nações. Cuba, a maior exportadora mundial de professores e médicos permanece nessa lista da infâmia até os dias de hoje! Em síntese, eram governos que violavam a legalidade internacional e, por isso mesmo, a obrigação dos Estados Unidos e seus aliados era acabar com esse flagelo. No entanto, fora dois eminentes intelectuais norte-americanos, Noam Chomsky e William Blum, e um cineasta, Oliver Stone, que desconstruíram o argumento da Casa Branca ao fundamentar as razões pelas quais o principal "estado canalha" do planeta e a maior ameaça terrorista à paz mundial não era outro senão os Estados Unidos.


O Reino Unido não fica atrás como "estado canalha". Nos últimos tempos fez mais que o suficiente para dividir o pódio com seu descendente do outro lado do Atlântico. A evidência é espantosa e se algo faltava às suas reiteradas manifestações de desprezo perante a legalidade internacional, representada pelas resoluções da Assembleia Geral e o Comitê de Descolonização das Nações Unidas, no caso das Ilhas Malvinas (bem como em mais outros 9 casos, totalizando 16), a atitude de Londres em relação à Julian Assange acaba com qualquer dúvida sobre o assunto. Seria possível afirmar que, com a gestão de David Cameron, o Reino Unido se converteu em um autêntico "violador em série" de leis e tratados internacionais.

Bravatas, como o envio do destróier Dauntless às Malvinas, empalidecem diante da denúncia do chanceler equatoriano Ricardo Patiño afirmando que o governo britânico transmitiu a Quito uma "ameaça expressa e por escrito de que poderiam assaltar nossa Embaixada do Equador em Londres caso não entregassem Julian Assange". O Secretário de Assuntos Estrangeiros do RU ratificou, posteriormente, essa ameaça que viola a Convenção de Viena, onde se estabelece a inviolabilidade das sedes diplomáticas (extensiva à residência dos embaixadores, automóveis das embaixadas e às bagagens diplomáticas), coisa que nem os sanguinários ditadores como Jorge R. Videla e Augusto Pinochet atreveram a desrespeitar. Basta lembrar que o ex-presidente Héctor Cámpora ficou refugiado na embaixada do México em Buenos Aires durante cinco anos e, quando obteve asilo político, saiu do país sem ser molestado. No entanto, Londres assegurou, ainda que o Equador já tenha concedido o asilo a Assange, não o deixará sair da embaixada.


Assim, transgride o que explicitamente estabelece a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados que o próprio RU assinou, descumprindo na prática com sua desobediência. É que o delito cometido por Assange tornou-se imperdoável ao tornar pública a corrupção e os crimes cometidos e mantidos em segredo pelo império. Em consequência, os Estados Unidos vem mobilizando suas forças a nível mundial para acossá-lo, ainda que seja violando todas as leis e tratados internacionais e atropelando todas as liberdades e direitos humanos, para dar a ele o castigo que merece.

A imprensa hegemônica de todo o mundo aplaude a "coragem de Londres". É que o RU é um dócil peão da estratégia imperial, como também o é o atual governo sueco e, pior ainda, o da Austrália, país do qual é oriundo Assange e que, de maneira escandalosa, ignorou o caso. Claro, em novembro de 2011, Barack Obama anunciou que enviaria uma tripulação de 2.500 marines a uma nova base a ser inaugurada em Camberra, na Austrália, como primeiro passo de uma estratégia muito mais ambiciosa para conter o "expansionismo chinês" nesse país. Diante disso, como poderia o governo australiano preocupar-se com a sorte do atualmente mais famoso de seus cidadãos?

*Sociólogo, professor universitário, argentino.


Fonte: Diário da Liberdade

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Adeus às bandeiras?

BWA quer tirar as faixas, para tornar bem visível… a publicidade



Em novo capítulo da mercantilização do esporte, concessionária que administrará estádios da Copa quer proibir torcedores de exibir seus símbolos
Por Irlan Simões*
O futebol brasileiro foi fortemente pressionado, nos últimos anos, para “reorganizar-se”. Partia-se de um argumento razoável: a “farra dos cartolas”, à fragilíssima estrutura, os negócios suspeitos e a obscuridade do mundo do futebol. Mas este discurso foi apropriado por setores cujos objetivos não eram nem democracia, nem transparência, nem organização.
A campanha consistiu em dar ao futebol Brasileiro um toque mais europeizado, chamado por muitos como “moderno”: clubes-empresas que seriam os vetores de um grande negócio, atletas popstars, venda de naming rights: a identificação de campeonatos e principalmente das novas arenas – já reformadas e organizadas comoshopping-centers – com as marcas dos patrocinadores.
Esses “ideais” cruzavam-se com interesses privados. O ímpeto de organizar o futebol brasileiro e torná-lo mais “ético” não passaria por sua transformação em um negócio. Pelo contrário, o que se vê hoje no Brasil é que a medida em que se privatizam todas as peças das imensas engrenagens do futebol, mais suspeito e comprometido esse esporte vem se tornando. Com graves efeitos negativos, principalmente para os torcedores.
Estádio público, propriedade privada.
O caso BWA ilustra muito bem essa realidade. A empresa de propriedade de Bruno Balsimelli é hoje a maior “concessionária” do futebol brasileiro. O grupo já tem investimentos nas mais diversas áreas do futebol e vem inovando, a cada ano, em seu cardápio, sempre apresentando suas “propostas” como único caminho viável para uma modernização saudável.
A BWA começou sua aventura oferecendo serviços de confecção e comercialização de ingressos para jogos, aplicando um modelo próximo aos de grandes espetáculos musicais. Hoje, já tem contratos para assumir o controle da entrada de torcedores nos estádios, do planejamento de vendas de ingressos (melhor dizendo, especulação sobre ao valor dos “espetáculos”) e porcentagem em passe de jogadores. Aproveitando a Copa do Mundo de 2014, investiu pesado e já obteve concessão para gerir a maior parte dos estádios públicos brasileiros.
Por um lado, a BWA aproveitou-se da chamada “falta de profissionalismo” de determinados clubes, ganhando o direito de arrancar uma fatia da renda dos jogos e da venda de espaços publicitários. Para obter a gestão dos estádios públicos (que assumirá apenas após a conclusão das obras das novas arenas para a Copa), a empresa recebe aval das antigas “superintendências”, que administravam os imensos estádios do país.
Foi dessa forma que a BWA tornou-se uma das grandes donas do futebol nacional. Ainda que seu nome estivesse envolvido em casos bem obscuros.
Profissionalismo sem lei
Em 2009, foi desbarato, em estádios cujas catracas eram administradas pela BWA, um esquema de ingressos falsos. A empresa não tinha conhecimento da irregularidade. Segundo noticiaram (poucos…) meios da imprensa esportiva nacional, no entanto, ela estaria acobertando e se beneficiando em acordos com cambistas, além de cobrar altas taxas de serviço aos clubes. Tudo isso, sem qualquer melhora na agilidade e comodidade da venda de ingressos – as grande justificativas dos seus contratantes e dos defensores dessa modalidade de negócio.
Como toda grande empresa no Brasil, a BWA passou por cima desse problema com muita bajulação. Emplacou, no meio de todo o alvoroço, uma matéria na revista Istoé Dinheiro, que exaltava sua “criatividade empreendedora”. Era outro caso de jornalismo publicitário, no mercado editorial “de negócios” brasileiro.
Mas a BWA não mostrou seu poder de influência apenas na formação de opinião e na capacidade de sair ilesa de grandes escândalos. Com o controle total de tudo que se passa dentro dos estádios, a empresa tem mobilizado as forças de segurança para controlar ao máximo os movimentos dos torcedores.
Com o controle da Arena Independência, estádio do tradicional América-MG, a BWA tem usado e abusado das mais diversas formas de restrição e controle, para potencializar seus lucros no estádio. Recentemente, proibiu a entrada e exposição das clássicas faixas e bandeirões nos estádios. A justificativa, nas palavras do presidente do consórcio que gere o estádio: Já vendemos espaço para propaganda e precisamos explorar isso. Se o torcedor usar faixas, tampa a publicidade. Por isso, proibimos o uso de bandeiras e faixas no anel intermediário e no superior”.
A medida é parte das grandes polêmicas que envolvem o estádio. Torcedores reclamam de “pontos cegos”. São locais de onde não é possível sequer visualizar todo o campo de jogo – e onde são instaladas, ainda assim, cadeiras, numa agressiva afronta aos direitos do público.
Curiosamente, esse problema tem se repetido nas mais diversas “arenas modernas”. Há uma explicação clara: com a individualização dos assentos e a obrigação de oferecimento de cadeiras, os administradores dos estádios buscam aproveitar ao máximo o espaço físico, com o menor custo.
O fim do “torcedor”
Os torcedores mineiros sofrem hoje um processo denunciado há muito, quando os torcedores europeus em condições de frenquentar os estádios queixavam-se de como um novo modelo pasteurizado e higienizado de arena estava tirando “toda a diversão”.
Não bastasse a celeuma inicial com os bandeirões, tempos depois a BWA queixou-se de que alguns torcedores tinham “incomoda postura de assistir aos jogos em pé”, e a mania de chegar “em cima da hora” dos jogos. Com isso, a empresa buscou justificar o problema das filas e dos pontos cegos no estádio.
O mais curioso, no entanto, é perceber como esse ideal de “modernização” tem força mesmo num país acostumado com imensos estádios abarrotados de integrantes das classes populares. Diante da polêmica da Arena Independência, o Ministério Público pronunciou-se, afirmando que caberia à concessionária fazer… uma “campanha de conscientização” para mudar essa tal “postura do torcedor”.
Não bastasse a BWA ter a carta-branca e se reivindicar “dona” do estádio, agora cumpriria o papel de ser dona do próprio “torcedor”? Na lógica do futebol-negócio, sim. Foi por isso que a empresa desenvolveu – mais uma das suas grandes sacadas – acatraca com câmera para identificação visual.
Perspectivas futuras para o futebol brasileiro
O exemplo da BWA pode se repetir, nos próximos anos. Na medida em que as arenas criadas, reformadas ou remodeladas para Copa do Mundo estiverem prontas, a BWA, que obteve a concessão da maioria, tentará submeter centenas de milhares de torcedores a processos parecidos de controle e restrição. Pela lógica de “modernização” que está sendo imposta, a proposta é bem simples: entra quem pode “consumir”.
É um dos resultados de algo paradoxal: as arenas terão seu planejamento de lucratividade e gestão executados por uma empresa privada, ainda que tenham sido construídas com verba pública. E para que se mantenham lucrativas (“viáveis”… ) o Estado será acionado novamente outras vezes, entrando com os recursos, enquanto as empresas concessionárias se limitarão a buscar novos espetáculos. É provável que esta lógica leve os clubes que já possuem seus próprio estádios a utilizar essa nova, cara e antidemocrática estrutura.

* Irlan Simões é estudante Comunicação Social e escreve para a coluna Futebol Além da Mercadoria.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

As alianças na política brasileira



Por Luiz Werneck Vianna

Na visão do sociólogo Werneck Vianna, a ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. “Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade.
Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe”. Na entrevista que concedeu por telefone para a IHU On-Line, Werneck afirma que o sistema partidário brasileiro “não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira”. E constata: “estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados”.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outros, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obraUma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012) (Graziela Wolfart).



Que espécie de política se desenha em nosso país a partir das alianças que vêm sendo feitas em nome da busca pelo poder?. 


Nossa forma não programática de alianças, que são feitas por meros interesses eleitorais — como o tempo de televisão —, já têm uma certa história. O presidencialismo de coalizão tem tido essa característica entre nós, porque não necessariamente ele deve ser tão arbitrário quanto à orientação programática. Mas o fato é que ele tomou essa característica desde o governo Fernando Henrique Cardoso, porque as alianças têm sido desencontradas. Ao longo dos mandatos do PT, especialmente a partir do segundo mandato do presidente Lula, isso tomou uma proporção imensa. Na verdade, essas alianças não são feitas para que uma determinada orientação seja posta em prática, ou um determinado programa se viabilize, mas apenas para garantir maioria parlamentar para o governante. Aliás, o tema da maioria parlamentar se tornou um espantalho desde o impeachment do governo Collor. Hoje a queda é atribuída, em boa parte de modo verdadeiro, ao fato de ele vir de um partido minoritário e não ter sabido compor uma base congressual. A partir daí, esse espantalho vem dominando o presidencialismo brasileiro. O fato é que, desde que essa política foi sendo vitoriosa, caíram todas as reservas, todas as prudências, formando-se um campo aberto de troca. Esse é o lado nefasto. No entanto, olhando de outro ângulo, essa base larga, essa ampla maioria que hoje o chefe do Executivo tem conseguido lograr no Legislativo tem dado estabilidade à política brasileira. Mas é uma estabilidade que não faculta a aventura, o risco, a descoberta, a inovação. Certas reformas muito necessárias para que o país dê um avanço, um salto, esbarram nessa larguíssima coalizão, que atinge várias dimensões, desde a economia e a política até a sociedade. Os ventos cruzados que se estabelecem no interior da coalizão governamental fazem com que haja um comportamento paquidérmico do governo, que é obrigado a respeitar os limites dados por essa amplíssima base governamental, onde todos cabem e onde tudo cabe. São empates que se sucedem e que têm um consenso muito difícil, e que não dão nenhum bônus, não dão agilidade e limitam a capacidade de uma nação em um momento em que inovar é fundamental. É preciso mudar o repertório da política que está anacrônico já há algum tempo. É evidente que essas alianças, por outro lado, afetam a identidade partidária. Os partidos já são naturalmente enfraquecidos por uma série de circunstâncias sociais que não são atuantes apenas aqui no Brasil, mas com essas acrobacias se tornam ainda mais vulneráveis. Por exemplo, em tese é aceitável, mas é difícil digerir o apoio de Paulo Maluf à candidatura do PT, por causa do histórico de oposição entre eles e pela história pessoal de Maluf, que não é muito recomendável. 

É possível governar sem alianças políticas em um regime democrático? 

As alianças são absolutamente necessárias. Quanto a isso não resta nenhuma dúvida. Em uma sociedade plural, como a brasileira, pensar que uma tendência ou partido, ou apenas um sistema de orientação dará cabo dos problemas existentes é cair na ilusão, mesma ilusão que o Collor teve, de que a partir de um Executivo forte é possível reformar e reestruturar o país. Essa experiência foi feita também por Jânio Quadros antes de 1964, que governou sem uma base forte de sustentação e isso o levou à crise e à renúncia. 

O problema está nos limites dessas alianças... 

Certamente. O limite deveria ser o programa. Mesmo que não fosse um programa explícito, mas um programa que tivesse certa abrangência, que pudesse admitir parceiros com identidades diversas e que pudesse ser revisado, e não essa “feira” ideológico-político-partidária em que nos encontramos, cujo efeito é o de estimular o decisionismo do Executivo, porque, dado esse empate entre as forças políticas que têm orientação desencontrada, esse poder se sente compelido a agir por sua própria orientação, tentando produzir resultados quase autocraticamente, através desse sistema decisionista, vertical. Este é um efeito muito negativo dessa construção. 

O senhor poderia fazer uma breve análise do atual quadro partidário brasileiro? 

Não é fácil. Se formos tentar trabalhar a partir da clivagem mais ideológica, de velho tipo, teremos os partidos de orientação socialista e os partidos de orientação liberal-burguesa. Num campo teremos o PT, o PCdoB, o PSOL, o PPS de certo modo, que tem até o socialismo no nome, e teremos o PSB. E do outro lado teremos o DEM e outros que de memória não consigo recuperar. Não posso esquecer de mencionar o PDT, que entra no campo doutrinário do socialismo, isso se formos tomar o que é dito e não o que é praticado. Essa linha ideológica se mostra inoperante para recortar o quadro atual. O que temos é agregação de interesses. Temos partidos que agregam os evangélicos, os ruralistas e as corporações, que também se fazem presentes. Elas invadem a vida partidária. Esse sistema partidário não foi feito para que a sociedade encontre formas expressivas de se incluir no mundo da política. Ele está feito para expressar interesses e diferenças regionais; não é um quadro que favoreça a limpeza e a firmeza de identidade. Ele está voltado para uma grande competição eleitoral. Isso certamente não oferece um bom cenário para a democracia política brasileira. Por outro lado, tudo o que existe em nossa sociedade encontra formas de expressão na vida política partidária, o que é uma dimensão saudável. No entanto, isso cria um quebra-cabeça de enorme dificuldade. O presidencialismo de coalizão é uma resposta a isso: é criar certa unidade a partir deste mundo extremamente fragmentário. O problema é que só quem pode estabelecer essa unidade é o Executivo, o que faz com que esse quadro, que é aparentemente ameno e afável de expressão da diversidade existente na sociedade brasileira, contenha elementos autoritários, que favorecem a ação do Executivo, porque só ela é capaz de cimentar e soldar essa multiplicidade de identidades e interesses. Diga-se de passagem que o presidente Lula demonstrou um enorme tirocínio e habilidade em trabalhar diante desse cenário, tirando proveito desse quadro político e colocando-o a seu favor. Essa solda, esse cimento que ele soube instituir não é uma arte de fácil transferência. Essa era uma das características dele, pela sua capacidade de articulação que veio do seu treinamento no mundo sindical. Com a Dilma temos outro quadro na mesma política. Ela imprime outra administração, de alta burocracia do mundo da gestão, o que não quer dizer que ela seja indiferente à política. E não é. Mas ela não tem nem o mesmo gosto, nem o mesmo treino. Além do mais, “o Natal mudou”. O mundo já não é mais aquele de cinco anos atrás. A gravidade da crise econômica atesta isso. A necessidade de se fazer algumas reformas, como a reforma da legislação trabalhista, está se tornando cada vez mais imperativa. No entanto, a coalizão governamental que conhecemos é muito pouco permeável a uma reforma como essa. Basta pensar no PCdoB, que reage a essa reforma, ou no PDT, que é o partido do ex-governador Brizola. É um conjunto de forças que, dentro da coalizão governamental, reage a essa reforma, que parece ser cada vez mais inadiável. Outra questão é esse sistema altamente sensível da previdência. O fator previdenciário que o governo tenta extinguir por medidas de saneamento fiscal, em função da crise que já se abate sobre nós e que tende a se aprofundar, não encontra apoio na sua base governamental, inclusive no próprio PT. Estamos vivendo um momento em que os efeitos dessa política de presidencialismo de coalizão começam a se tornar cada vez mais complicados. Não só porque falta o Lula. Mesmo com ele esse quadro, que agora se exerce sobre a presidente Dilma, estaria presente. 

Quais são os cenários possíveis de mudança nos próximos anos, levando em conta que, apesar de todas as fragilidades e incongruências, permitiu-se que vivamos o maior período de regime democrático? 

A democracia política tende a se aprofundar. Por exemplo, no julgamento do chamado processo do mensalão foram levados a tribunal líderes políticos do partido hegemônico da coalizão governamental. Não há registro na nossa história dessa autonomia das instituições, em que o judiciário, com independência do poder político, obedece aos procedimentos e leva a julgamento pessoas ligadas ao vértice do sistema de poder. Esse é um sinal. Não importa o resultado do julgamento, importa ver essas pessoas lá no tribunal, onde a questão é técnico-jurídica. Do ponto de vista político, importa que personalidades e figuras participantes do poder vão a julgamento e a sociedade participa desse processo apenas como observadora, como comentarista, sem que haja nenhuma comoção maior nas ruas. Não há nenhum assédio físico no Supremo Tribunal Federal. Isso é uma novidade, um avanço extraordinário das nossas instituições. Além disso, registre-se que, desde agora, com as eleições municipais, as fraturas desse sistema estão mais do que denunciadas. Basta ver o processo eleitoral em Fortaleza, no Ceará; em Recife, em Pernambuco; e em Belo Horizonte, Minas Gerais. Isso para mencionar apenas casos muito fortes, em que se observa que a coalizão governamental não consegue operar da mesma forma que estava acostumada, isto é, impondo ao local, ao municipal o seu programa de ação política. Isso mostra como a maturação da sociedade está pondo em xeque essa forma verticalizada de administração da política, que é o presidencialismo de coalizão. Tudo isso é muito favorável à vida democrática. O que se pode arguir é que é difícil construir um quadro político mais ordenado com essa pluralidade de partidos ou pelo menos com essa legislação que permite a partidos sem nenhuma expressividade terem acesso aos recursos do fundo partidário, ao tempo de televisão, dando a eles um poder de troca que, na verdade, favorece apenas às oligarquias que comandam as suas legendas. Estamos, por ora, condenados a fazer política num cenário em que as linhas de força vão todas no sentido da fragmentação e que a unificação disso depende de uma ação externa, que é o governo. Então, fica essa marca autoritária, da dominação da dimensão vertical sobre a horizontal, que só uma reforma adicional pode dar conta. De modo que temos que aprender a trabalhar com esse quadro e superar as dificuldades que ele impõe à política. É um quadro caótico que só faz sentido no fim. Só o resultado da ação faz sentido, porque não faz sentido na articulação de cada parte, pois cada uma entra nisso pelo seu motivo particular. Isso dá um mapa desencontrado, que só pode fazer algum sentido por uma ação externa, de um outro, superposto a esses interesses desencontrados, que consegue estabelecer uma linha em que todos possam ser minimamente atendidos. 

Na política brasileira hoje quem é antagonista de quem? 

Há antagonismos, mas nem sempre com a lógica do amigo e inimigo. Há uma lógica “adversarial”, mais do que de confronto, que vise levar à eliminação de um polo. Nós temos mais lutas agônicas do que lutas antagônicas. A política está se tornando, entre nós, mais um campo adversarial. Inclusive porque os dois principais partidos políticos brasileiros — PT e PSDB — têm muitas afinidades de fundo. Ambos estão com as raízes fincadas na social-democracia. 

Em entrevista concedida a nossa revista em março deste ano, o senhor apostava no ressurgimento da política nos próximos anos com muita força, apontando que “não há mais possibilidade de segurar a sociedade com esse jogo de manter os contrários em permanente equilíbrio” . Como avalia essa declaração hoje, quatro meses depois? 

Confirmo-a inteiramente. Só que, quando me refiro aos “contrários”, não falo das concepções antagônicas do mundo como, por exemplo, concepções socialistas e concepções liberal-capitalistas. Eu estava me referindo a interesses. O que eu estava dizendo é que o governo Lula foi capaz de trazer para o seu interior múltiplos interesses divergentes como a agricultura familiar e o agronegócio. Eu dizia que essa operação tinha um prazo de validade e que no governo Dilma tenderia a se derruir. E vejo que está se derruindo diante dos nossos olhos. Nós podemos dizer que a política volta agora de forma muito clara. As eleições municipais estão deixando isso manifesto. A pluralidade da sociedade está procurando formas expressivas como independência dessa forma política do presidencialismo de coalizão. 

Qual é o balanço que o senhor faz do governo Dilma Rousseff? Algo ameaça uma possível reeleição da presidente? 

Essa é uma questão muito delicada e perturbadora para o cenário político atual. Nós estamos diante de um quadro em que há uma dualidade de representação. Quem detém, de fato, o poder: o governo ou o seu partido e a coalização que esse partido montou? Qual o papel aí do ex-presidente Lula como que representando o poder real, afastado por circunstâncias do calendário eleitoral, mas para o qual se espera uma volta triunfal em 2014? Esse é um quadro que cria muita instabilidade. Os movimentos e os partidos devem calcar a sua orientação pelo governo Dilma ou pela expectativa do retorno “sebastianista” do ex-presidente Lula? Isso tudo, essa dualidade, afeta o quadro atual, introduz nele elementos de instabilidade e tira força e capacidade de coesão dessa forma de presidencialismo de coalizão ao qual fomos acostumados nos dois governos de Lula. Essa é uma ambiguidade que atua de forma escondida na cena atual e não favorece o assentamento das forças políticas atuantes. O próprio partido hegemônico, o PT, se questiona a quem obedecer: ao governo ou ao seu líder maior, apenas contingentemente fora do governo, mas que logo voltará a ele? E Dilma poderá ou deverá se afirmar uma liderança nova, o que significa candidatar-se à reeleição desde agora? As incertezas quanto a isso favorecem a perda de controle que hoje está estabelecida por parte do centro do poder político sobre a sociedade e as forças políticas envolvidas. 

O senhor acredita na volta de Lula à presidência em 2014? Dilma cederia espaço para ele? 

É difícil prever. O fato é que não faz bem ao governo dela, agora, abdicar da reeleição. Ela precisa do horizonte da reeleição para ter mais força hoje, especialmente em um momento em que o país está na iminência de viver perturbações derivadas da situação econômica. Nesse sentido, deverão existir forças orientadas a robustecer Dilma agora porque é preciso um presidente forte na hora da crise. E um presidente forte agora significa um presidente que vai lutar para a reeleição. Se isso viola o sistema de lealdades de Dilma com Lula é difícil de dizer, pois é uma questão subjetiva. No entanto, do ponto de vista da situação presente, o fato é que o país vive a necessidade de uma presidência forte por causa da crise.




Fonte: IHU On-Line & Gramsci e o Brasil.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Futebol: segurança ou controle social?

São Paulo, 5/7: na madrugada, a PM atira contra corintianos que
comemoravam, na Avenida Paulista, o título da Libertadores

Eurocopa e Olimpíadas de Londres revelam: elitização do esporte e restrições à manifestação dos torcedores são tentativa de impor metrópoles militarizadas
Por Irlan Simões
Na última edição da coluna, examinamos em detalhes a tentativa de impor, no futebol brasileiro, uma “reforma” que visa torná-lo elitizado e segregador. Também debatemos o papel que cumpre a mídia esportiva, na concretização deste passo. Vale discutir agora o que há de real por trás dos argumentos que pedem “assegurar a segurança nos estádios”.
Para disso, é preciso, antes de tudo, resgatar o caráter e o pensamento que hegemoniza as instituições de segurança. Elas retrocedem para uma perspectiva cada vez mais retrógrada do combate violento e destrutivo aos fenômenos que supostamente contestam a ordem vigente.
O que grande parte da sociedade ainda não compreende é que uma instituição como a Policia Militar, responsável por garantir eventos como jogos de futebol, não é – e nem pretende ser – neutra. Ela cumpre um papel político claro e serve ao interesse do grupo e da ideologia que comanda o Estado.
Isso parte principalmente do caráter militarizado da corporação. Essa particularidade, já superada em diversos países no mundo, mantém-se viva no Brasil carregando em si “um modelo de polícia que ainda está fortemente atrelado à defesa do Estado, e não à defesa do cidadão”, nas palavras de Luis Antônio Francisco de Souza, da Unesp.
Para o professor e deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), famoso por sua formulação sobre esse tema, a “lógica que impera é a da necessidade de proteção da sociedade em situação de guerra”.Essa concepção demonstra a incapacidade das instituições policiais para lidar com uma ordem democrática. É a partir disso que ele afirma: um dos efeitos dessa lógica é “a suspensão dos direitos e o estancamento das liberdades para reassegurar a ‘segurança’ e legitimar a militarização das ações governamentais”.
Outro elemento levantado por Freixo, ainda na caracterização da Policia Militar brasileira, é a tendência de “produção do inimigo público e difusão do medo popular em relação ao grupo social criminalizado”. A partir desses dois pontos, deslocando o debate para o futebol, é possível compreender o tratamento dado às torcidas organizadas.
Uma vez que há um projeto de reestruturação e re-significação do torcedor – agora definitivamente transformado em consumidor –, as “organizadas” seriam um elemento indesejável e incompatível com este processo. É por isso que se torna tão importante para os interessados no “futebol-negócio” (dirigentes, “donos” de clubes, anunciantes, patrocinadores, mídia esportiva comercial etc) demonizar estas torcidas. Inclusive, sem fazer qualquer esforço em mostrar a diferenciação entre instituições e seu integrantes – um assunto já discutido nesta coluna.
Experimentações assombrosas
Acontece que uma “política de segurança pública” concretiza-se por meio de de ações práticas. Na medida em que são colocadas no plano do real, estas concepções vão se mostrando seu caráter. Não atingem apenas os grupos eleitos como “inimigos públicos”. Voltam-se principalmente contra os setores empobrecidos e críticos ao sistema – que passam a ser caracterizado como inimigos.
Eis um caso que chamou muita atenção para o grau de “criatividade” que os órgãos responsáveis pela segurança nos estádios já atingiram. Aconteceu na Polônia, uma das sedes da Eurocopa de 2012, que lançou mão de uma verdadeira obra da engenharia militar moderna: o tanque ultra-sônico.
Perceba que ele poderia, em termos gerais, ser considerado “uma arma não-letal”. Talvez até seja “tão pouco letal” quanto os teasers, armas de choque que causam ataques cardíacos, ou os sprays de pimenta que cegam. O tanque de som pode ensurdecer o alvo, mas estaria designado, supostamente, a servir de instrumento de dispersão dos hooligans durante o torneio internacional.
Segundo Jonas Gabler, estudioso da cultura futebolística na Alemanha, o futebol é historicamente usado como tubo-de-ensaio para políticas de segurança pública, das mais brandas às mais violentas, que posteriormente serão aplicadas de forma mais ampla.
Durante a Eurocopa, houve grande preocupação com a possibilidade do encontro entre ultras e hooligans de diferentes origens e motivações para conflitos. Mas nada impede dizer que essas “inovações” tenham fins muito mais amplos (agradeço aqui a informação de Fred Elesbão, companheiro do velho “TorcidaGanhaJogo.blogspot.com” que sempre traz notícias do Velho Mundo das velhas ideias, e acompanha de perto a vida dos Ultras europeus).
Quem também compartilha dessa percepção é Juliana Machado, integrante do coletivo Desentorpecendo a Razão e do Comitê Popular da Copa. Segundo ela, “a Copa do Mundo é um elemento-chave desse processo de militarização das cidades”. Juliana cita o livro “Cities Under Siege – The New Military Urbanism” [“Cidades sitiadas – o novo urbanismo militar], de Stephen Graham, autor que estuda a relação entre urbanismo e militarização.
A pesquisadora elenca alguns exemplos para embasar sua posição: a colocação de mísseis em tornos das praças esportivas em Londres, nas Olimpíadas; o sistema de segurança por videomonitoramento em estádios brasileiros para identificar “ameaças à segurança”; a contratação, pelas cidades-sede dos megaeventos esportivos, de empresas privadas de segurança de Israel. Tais exemplos já são ou serão vivenciados em breve no Brasil.
Adestramento e limpeza social
Recentemente a FIFA resolveu bater o martelo numa discussão que envolveu países europeus e o Brasil. Proibiu-se o uso de sinalizadores e todo tipo de fogos de artifício em estádios.
Apesar de soar como medida ínfima, diante de medidas muito mais graves, a proibição da pirotecnia é mais um dos aspectos do processo de reformatação do publico assistente/consumidor nos estádios. Assim como na Europa, o Brasil vem caminhando para um modelo de torcida que se resume ao “sentar-comer-bater palma-e partir”.
Isso acontece porque a “segurança pública” não se resume meramente à violência física. A transformação cultural do “torcer” é fundamental nesse processo. No Brasil, ela se arrasta desde a proibição do uso de bandeiras e faixas em São Paulo. Toma corpo na instrução de assistir sentado aos jogos e na setorização dos estádios. Vem adquirindo feições cada vez mais agressivas, como os jogos com torcida única e a proibição das torcidas organizadas.
No Rio de Janeiro, como afirmou Marcos Alvito, integrante da Associação Nacional dos Torcedores, o Grupo Especial de Policiamento em Estádios, (GEPE) instrui as empresas de transporte público a frota que leva usuários de bairros pobres aos estádios. Imagine então o que será do acesso ao Maracanã, após a Copa do Mundo.
Isso tudo demonstram que o futebol-negócio é um projeto excludente – mas necessita, para ir adiante, de intervenções diretas por parte do Estado. A ação coordenada entre grupos empresariais que tiram proveito do esporte, “cartolas”, corporações policiais e governantes vem consolidando o processo.
Qual a saída?
A luta para reverter esse processo pode assumir diversas feições: garantia de áreas populares nos estádios, luta pela meia entrada, cobrança de planos de fidelidade mais baratos, ou recuos das “reformas”.
Acontece que os clubes brasileiros ainda possuem estruturas arcaicas e não são elemento de resistência ao processo que afasta os torcedores. Muito ao contrário, suas direções desejam o modelo de futebol-negócio.
Uma mudança verdadeira só poderá começar com os torcedores. São único setor ligado ao futebol hoje capaz de enxergar as consequências do processo e enfrenta-lo. Serão os mais atingidos, caso avance a elitização. Talvez possam resistir a ela. São os mais interessados em democratizar os clubes, descentralizar as federações, exigir acesso facilitado aos estádios, lutar pela cultura torcedora – o que inclui impedir a elitização e a padronização das formas de se manifestar.
O torcedor poderá dizer que política de segurança deseja para os dias de jogos. Isso estende-se para a garantia de segurança nos bairros – onde ocorrem os conflitos entre torcedores violentos, de “organizadas” ou não – transporte público condizente com a demanda da torcida, programas de associação compatíveis com as faixas sócio-econômicas dos torcedores etc.
Ainda há tempo de evitar a “europeização” do futebol brasileiro. Não na perspectiva da qualidade do futebol jogado dentro de campo – mas do modelo, do sistema-futebol ali instalado. Uma vez superada a ameaça, será preciso consolidar uma nova concepção de futebol, de clube e principalmente de vida.
*Irlan Simões é estudante de Comunicação Social e torcedor do Esporte Clube Vitória. Atua no Movimento Somos Mais Vitória, na Associação Nacional dos Torcedores, na Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social e acha que o futebol deve ser jogador pela ala esquerda.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

EUA mantêm arbitrariamente Cuba na lista de países terroristas


200812 bloqueocubaHá três décadas, o governo dos Estados Unidos persiste em incluir Cuba, arbitrária e unilateralmente, na lista de países patrocinadores do terrorismo, procurando intensificar o cerco que impõe à ilha há meio século.Com esta medida, que Washington faz questão de manter desde 1982, o vizinho do Norte demonstra que não renuncia sua velha política de estrangular economicamente a Revolução Cubana.

Esta prática do Departamento de Estado norte-americano não é nova e vem-se aplicando sistematicamente desde 29 de dezembro de 1979, com um grupo de países que, coincidentemente, não compartilham os postulados ideológicos pautados nas terras do Tio Sam.

Cuba não é a única nação que sofre esta patranha. Líbia, Iraque, Iêmen do Sul, Coreia do Norte e Síria também estão sob a observação escrutadora dos "especialistas" norte-americanos.

Os argumentos que os Estados Unidos dão contra Cuba para manter sua acusação de que a maior das Antilhas patrocina atos terroristas são tão discutíveis e carentes de evidências, que provocaram a crítica de importantes personalidades, incluídos militares, acadêmicos e jornalistas, quem veem o sul com visão solidária.

Por três décadas, Cuba denuncia as manobras do governo norte-americano e conta com o apoio incondicional de muitos países, agrupamentos e indivíduos que apoiam o trabalho internacionalista e humanitário do povo e governo cubano com os mais necessitados do mundo.

Em dezembro de 2011, as organizações não governamentais norte-americanas Latin American Working Group e The Center for International Policy exigiram ao Departamento de Estado que Cuba fosse tirada da lista de países terroristas.

Em março, o brigadeiro geral John Adams, ex-representante militar dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), num artigo assinado junto ao cabildero federal David W. Jones, e publicado no jornal The Hill, pediram à Casa Branca retirar Cuba da lista e pôr fim a sua política contraproducente para Havana.

Adams e Jones consideram, em seu comunicado, que essa atitude se converte em um anacronismo que tirava os esforços de Washington em sua luta contra o terrorismo.
A esta reclamação se uniram, em maio, os integrantes da Oficina Acadêmica Cuba-Estados Unidos (TACE), integrado por nove acadêmicos estadunidenses da American University, e oito cubanos da Universidade de Havana.

Neste encontro, Philip Brenner, professor da American University, sugeriu que a luta contra o terrorismo é um área onde poderia haver uma abordagem construtiva entre ambos países.

A 31 de julho, o Departamento de Estado estadunidense deu a conhecer sua nova lista de países patrocinadores do terrorismo e uma vez mais incluiu Cuba, sob a acusação de uma suposta falta de medidas no sistema bancário cubano para enfrentar a lavagem de dinheiro e as transações financeiras vinculadas ao terrorismo. As reações não se fizeram esperar.

O professor cubano-americano Arturo López-Levy, investigador sócio da Escola de Estudos Internacionais Josef Korbel, da Universidade de Denver, expressou que incluir Cuba na lista é uma mostra mais de que a política norte-americana para Havana é um cemitério para a ética e as estratégias racionais.

"Cada vez que os Estados Unidos afirmem que pedem colaboração na guerra contra o terrorismo, a inclusão de Cuba na lista de países terroristas os envergonhará", enfatizou o professor López-Levy.

O acadêmico expressou ainda que esta ação constitui outro jogo politiqueiro mais com a segurança nacional do país, pois um mecanismo que deve ser não-partidário e profissional está manipulado por uma minoria recalcitrante da comunidade cubano-americana.

López-Levy agregou que o tema da inclusão de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo é particularmente danoso às relações entre Havana e Washington.

No sentido desta manipulação -acrescentou o professor cubano-americano- geraram-se julgamentos impensáveis nos quais se obvia a doutrina do ato do Estado e se assume que Cuba só tem imunidade limitada, o que é uma violação do direito internacional e da soberania cubana.

De Miami, coração da comunidade cubana emigrada nos Estados Unidos, também expressou-se Elena Freyre, presidente da Fundação pró Normalização das Relações entre Estados Unidos e Cuba (FORNORM), quem qualificou de vergonhosa e hipócrita a inclusão de Cuba nesta lista do Departamento de Estado.

"Os Estados Unidos são o mesmo país que permite que os verdadeiros terroristas passeiem impunemente pelas ruas de Miami, enquanto perseguem, prendem ou mantêm retidos longe de suas famílias cinco homens cubanos que só trataram de defender a seu país destes ataques", afirmou Freyre.

A presidente da FORNORM ressaltou que há muito tempo que se sabe que esta inclusão está muito relacionada à satisfação dos interesses desses "mal chamados" cubanos extremistas de Miami e nada a ver com a realidade cubana.

Também se manifestou a este respeito Edmundo García, comentarista radial cubano-americano, quem conduz o espaço vespertino "La tarde se mueve" na emissora 1450 AM de Miami.

É uma hipocrisia mais - afirmou García -, uma falácia contra Cuba que nem eles mesmos se creem, e só demonstra a prepotência e falta de escrúpulos por parte dos Estados Unidos.

Washington tem um duplo discurso quando se refere ao tema da luta contra o terrorismo, pois enquanto acusa publicamente Cuba com calúnias fabricadas, oculta que Havana rende informação veraz e exata periodicamente aos mecanismos apropriados das Nações Unidas sobre estes temas e outros referidos à luta contra o terrorismo, segundo uma recente declaração emitida pela Chancelaria cubana.

O documento, dado a conhecer aos meios de imprensa depois de ser conhecida a decisão dos Estados Unidos de reiterar sua acusação contra Cuba, revela que em fevereiro de 2012 a ilha renovou a proposta de acordar um programa bilateral de combate ao terrorismo, à qual a Casa Branca ainda não respondeu.

Cuba tem sido uma vítima do terrorismo de Estado de Washington e empregado como uma arma política que custou ao povo da ilha 3.478 mortos e 2.099 incapacitados, e muitos dos terroristas que executaram suas ações criminosas contra Cuba, hoje desfrutam da proteção das leis norte-americanas.


Fonte: Diário da Liberdade