sexta-feira, 4 de maio de 2012

Michel Chossudovsky: “Os EUA são piores do que a inquisição espanhola”




Por Sara Sanz Pinto

Presidente e diretor do Centro de Pesquisa em Globalização (Centre for Research on Globalization), Michel Chossudovsky conversou com o ODiário.Info sobre a discussão de uma possível terceira guerra mundial, de que fala no seu livro “Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War”.


Crítico do fortalecimento militar que os Estados Unidos estão construindo em torno da China, o professor canadiano da Universidade de Otava defende que a opinião pública é fundamental para evitar uma guerra nuclear.


ODiário.Info – Diz no seu livro que a guerra com o Irã já começou e que os Estados Unidos estão apenas à espera de um rosto humano para lhe dar. Acredita que os objetivos políticos e geoestratégicos de Washington podem levar-nos a uma guerra nuclear com consequências para toda a humanidade?

Michel Chossudovsky – Não quero fazer previsões e ir além do que aconteceu. Tudo o que posso dizer, e tenho vindo a dizê-lo de forma repetida, é que a preparação para a guerra está a um nível muito elevado. Se será levada a cabo ou não é outro patamar, e ainda não o podemos afirmar. Esperemos que não. Mas temos de considerar seriamente o fato de que este destacamento de tropas é o maior da história mundial. Estamos assistindo o envio de forças navais, homens, sistemas de armamento de ponta, controlados através do comando estratégico norte-americano em Omaha, Nebrasca, e que envolve uma coordenação entre EUA, Otan e forças israelitas, além de outros aliados no golfo Pérsico (Arábia Saudita e estados do Golfo).
Estas forças estão a postos. Isto não significa necessariamente que vamos entrar num cenário de terceira guerra mundial, mas os planos militares no Pentágono, nas bases da Otan, em Bruxelas e em Israel, estão a ser feitos. E temos de levá-los muito a sério. Tudo pode acontecer, estamos numa encruzilhada muito perigosa e infelizmente a opinião pública está mal informada. Dão espaço a Hollywood, aos crimes e a todo o tipo de acontecimentos banais, mas, no que toca a este destacamento militar que poderá levar-nos a uma terceira guerra mundial, ninguém diz nada. Isso é um dos problemas, porque a opinião pública é muito importante para evitar esta guerra.
E isso não está a acontecer, as pessoas não estão se organizando para se oporem à guerra. Isto não é uma questão política, é um problema muito maior, e tenho de dizer que os meios de comunicação ocidentais estão envolvidos em atos de camuflagem absolutamente criminosos. Só o fato de se alinharem com a agenda militar, como estão a fazer na Síria, onde sabemos que os rebeldes são apoiados pela Otan, na Arábia Saudita e em Israel, e como fizeram na Líbia, é chocante do meu ponto de vista, porque as mentiras que se criam servem para justificar uma intervenção humanitária. Em vez de uma guerra nuclear, não podemos assistir a um cenário semelhante à Guerra Fria, com os EUA, a União Europeia e Israel de um lado e a China, a Rússia e o Irã do outro?
Esse cenário já é visível. A Otan e os EUA militarizaram a sua fronteira com a Rússia e a Europa de Leste, com os chamados escudos de defesa antimíssil – todos esses mísseis estão apontados a cidades russas. Obama sublinhou em declarações recentes que a China é uma ameaça no Pacífico – uma ameaça a quê? A China é um país que nunca saiu das suas fronteiras em 2 mil anos. E eu sei, porque investigo este tema há muito tempo, que está sendo construída toda uma fortaleza militar em volta da China, no mar, na península da Coreia, e o país está cercado, pelo menos na sua fronteira a sul. Por isso a China não é a ameaça. Os EUA são a ameaça à segurança da China. E estamos numa situação de Guerra Fria. Devo mencionar, porque é importante para a UE, que, no limite, os EUA, no que toca à sua postura financeira, bancária, militar e petrolífera, também estão a ameaçar a UE. Estão por trás da destabilização do sistema bancário europeu.


ODiário.Info – E a colocação de mais tropas em torno da China vai trazer mais tensão à região.

Michel Chossudovsky – Quanto a isso não tenho dúvidas, porque os EUA estão aumentando a sua presença militar no Pacífico, no oceano Índico e estão tentando ter o apoio das Filipinas e de outros países no Sudeste Asiático, como o Japão, a Coreia, Singapura, a Malásia (que durante muitos anos esteve reticente a juntar-se a esta aliança). Portanto, Washington está formando uma extensão da Otan na região da Ásia-Pacífico, direcionada contra a China. Não há dúvidas quanto a isto. E não se vence uma guerra contra a China. É um país com uma população de 1,4 bilhões de pessoas, com um número significativo de forças, tanto convencionais como estratégicas. Por isso, com este confronto entre a Otan e os EUA, de um lado, e a China, do outro, estamos num cenário de terceira guerra mundial. E toda a gente vai perder esta guerra. Qualquer pessoa com um entendimento mínimo de planejamento militar sabe que este tipo de confronto entre superpotências – incluindo o Irã, que é uma potência regional no Médio Oriente, com uma população de 80 milhões de pessoas – poderá levar-nos a uma guerra nuclear. E digo isto porque os EUA e os seus aliados implementaram as chamadas armas nucleares tácticas – mudaram o nome das bombas e dizem que são inofensivas para os civis, o que é uma grande mentira.


ODiário.Info – Mentira porquê?

Michel Chossudovsky – Está escrito em todos os documentos que a B61-11 [arma nuclear convencional] não faz mal às pessoas e planeiam usá-la. Tenho examinado estes planos de guerra nos últimos oito anos, e posso garantir que estão prontos a ser usados e podem ser acionados sem uma ordem do presidente dos EUA. Olhe para o que eles designam “Nuclear Posture Review” de 2001, um relatório fulcral que integra as armas nucleares no arsenal convencional, sublinhando a distinção entre os diferentes tipos de armas e apresentando a noção daquilo que chamam “caixa de ferramentas”. E a caixa de ferramentas é uma coleção de armas variadas, que o comandante na região ou no terreno pode escolher, onde estão estas B61-11, que são consideradas armas convencionais. Se quiser posso fazer uma analogia, é a mesma coisa que dizer que fumar é bom para a saúde. As armas nucleares não são boas para a saúde, mudaram o rótulo e chamaram–lhes bombas humanitárias, mas têm uma capacidade destruidora seis vezes superior à de Hiroxima.


ODiário.Info – Mas a maior parte das pessoas não parece consciente da gravidade do cenário…

Michel Chossudovsky – A ironia é que a terceira guerra mundial pode começar e ninguém estará sequer a par, porque não vai estar nas primeiras páginas. Na verdade, a guerra já começou no Irã. Têm forças especiais no terreno, instigaram todo este tipo de mecanismos para desestabilizar a economia iraniana através do congelamento de bens. Há uma guerra da moeda em curso – isto faz parte da agenda militar. Desestabilizando-se a moeda de um país desestabiliza-se a sua economia, bloqueiam-se as exportações de petróleo, e isto antecede a implementação de uma agenda militar. Se eles puderem evitar uma aventura militar contra o Irã e ocupar o país através de outros meios, fá-lo-ão. É isso que estão a tentar neste momento. Querem a mudança de regime, o colapso das petrolíferas, apropriar-se dos recursos do país, e têm capacidade para fazer isto tudo sem uma intervenção militar, embora alguma possa vir a ser necessária. Mas o Irã é considerado uma das maiores potências militares da região e basta olharmos para as análises da sua força aérea, a sua capacidade em mísseis, as suas forças convencionais que ultrapassam um milhão de homens (entre ativo e reserva), o que permite que de um dia para o outro consiga mobilizar cerca de metade, ou até mais. Tendo em conta estes números, os EUA e os seus aliados não conseguem vencer uma guerra convencional contra o Irã, daí a razão pela qual estão a tentar fazer a guerra com outros meios, e um desses meios é o pretexto das armas nucleares.


ODiário.Info – Acha que o Ocidente pode lançar um ataque preventivo contra o Irão mesmo sem provas?

Michel Chossudovsky – Claro que sim! Olhe para a história dos pretextos para lançar guerras. Olhe para trás, para todas as guerras que os EUA começaram, a partir do século XIX. O que fazem sistematicamente é criar aquilo que chamamos incidente provocado para começar a guerra. Um incidente que lhes permite justificar o início de um conflito por motivos humanitários. Isto é muito óbvio. Em Pearl Harbor, por exemplo, sabe-se que foi uma provocação, porque os EUA sabiam que iam ser atacados e deixaram que tal acontecesse. O mesmo se passou com o incidente no golfo de Tonkin, que levou à guerra do Vietnã. E agora são vários os pretextos que emergem contra o Irã: as alegadas armas nucleares são um, outro é o alegado papel nos atentados 11 de Setembro, pois desde o primeiro dia que acusam o país de apoiar os ataques, a afirmação mais absurda que podem fazer, pois não existem quaisquer provas. Mas os media agarram nestas coisas e dizem “sim, claro”.


ODiário.Info – Pode explicar às pessoas de uma forma simples a relação entre guerra contra o terrorismo e batalha pelo petróleo?

Michel Chossudovsky – A guerra contra o terrorismo é uma farsa, é uma forma de demonizar os muçulmanos e é também a criação, através de operações em segredo dos serviços secretos, de brigadas islâmicas, controladas pelos EUA. Sabemos disso! Estas forças, ligadas à Al-Qaeda, são uma criação da CIA de 1979. Por isso a guerra contra o terrorismo é apenas um pretexto e uma justificação para lançar uma guerra de conquista. É uma tentativa de convencer as pessoas de que os muçulmanos são uma ameaça e de que estão a protegê-las e para isso têm de invadir países perigosos, como o Irã, o Iraque, a Síria e a Coreia do Norte, que perdeu 25% da sua população durante a Guerra da Coreia, mas, no entanto, continua a ser tida como uma ameaça para Washington. É absurdo! Os americanos são um pouco como a inquisição espanhola. Aliás, piores! O que mais me choca é que os EUA conseguem virar a realidade ao contrário, sabendo que são mentiras e mesmo assim acreditando nelas. A guerra contra o terrorismo é uma mentira enorme, mas todas as pessoas acreditam e o mesmo se passava com a inquisição espanhola – ninguém a questionava. As pessoas conformam-se com consensos e quem assume a posição de que isto não passa de um conjunto de mentiras é considerado alguém em quem não se pode confiar e provavelmente perderá o emprego. Por isso esta guerra é contra a verdade, muito mais séria que a agenda militar. Contra a consciência das pessoas – parece que ninguém está autorizado a pensar. E depois vêm dizer-nos “Ah, mas as armas nucleares são seguras para os civis”. E as pessoas acreditam.



ODiário.Info – Será Israel capaz de atacar Irã sem o apoio dos EUA?

Michel Chossudovsky – Não. Eles podem enviar as suas forças, por exemplo para o Líbano, mas o seu sistema está integrado no dos EUA e, como o Irã tem mísseis, têm de estar coordenados com Washington. É uma impossibilidade em termos militares. Em 2008, o sistema de defesa aérea de Israel foi integrado no dos EUA. Estamos a falar de estruturas de comando integradas. Quer dizer, Israel pode lançar uma pequena guerra contra o Hezbollah ou até contra a Síria, mas contra o Irã terá de ser com a intervenção do Pentágono. Embora tendo uma fatia significativa de militares, Israel tem uma população de 7 milhões de pessoas e não tem capacidade para lançar uma grande ofensiva contra o Irã.



Fonte: ODiário.info

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A nova dança de Sérgio Cabral


Por Edgard Catoira e Piero Locatelli

Cabral e Cavendish na festa de Paris: se o governador fluminense for convocado à CPI, terá que explicar o origem da verba da festa. Foto: Blog do Garotinho
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), foi filmado dançando funk na favela do Vigário Geral, zona norte do Rio, em janeiro de 2009. A cena era constrangedora: o político tentava imitar, sem sucesso, dançarinos do grupo Afroreggae que faziam uma coreografia.
No último fim de semana veio a público um vídeo do mesmo ano com outra dança do governador. Sérgio Cabral está abraçado com a primeira dama, Adriana Ancelmo, em um show do U2 em Paris.
O constrangimento no novo vídeo de Cabral não é mais a sua dança, agora discreta, mas a companhia de Fernando Cavendish, dono da construtora Delta e acusado de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Os vídeos e imagens de Cabral na Europa foram todos divulgados desde o último fim de semana pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) em seu blog.
Há outros momentos vexatórios, como fotos que mostram o governador a dançar no meio de um restaurante e imagens de seus amigos com guardanapos pendurados na cabeça. Em outra foto, a primeira-dama mostra, com as amigas, sapatos de sola vermelha da caríssima marca Christian Louboutin.
De Paris à CPI?
Cavendish já havia declarado ter uma grande amizade com o governador. E Cabral também já fez o mesmo. Mas as imagens levam a relação a outro patamar.
Leia também:

Não é crime ser amigo de um empresário ou dançar em restaurantes europeus. Mas, se for à CPI, Cabral ainda terá que explicar como pagou suas viagens, os sapatos e os ingressos para o show do U2.
Com a divulgação dos vídeos, Cabral torna-se o terceiro governador a se complicar nos recentes escândalos de Cachoeira e da Delta, depois de Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
Deputados já pediram a convocação de ambos para a CPI de Cachoeira, mas os requerimentos ainda devem ser votados nos próximos dias. Os tucanos no Congresso já disseram que vão tentar levar Cabral à comissão.
Em seu blog, o deputado Garotinho usa um tom agressivo e diz ter mais a mostrar. “Tudo o que já mostrei e o que ainda vou revelar aqui no blog é aperitivo perto do que vou levar para a CPI”.
Garotinho, agora em tom de paladino da compostura, diz que vai pressionar para que haja uma investigação rigorosa, em Brasília. É preciso não esquecer que essa investigação deve passar, também, pelas ligações dele próprio, Garotinho, com Cavendish e seu séquito de amigos no poder. Mas, Garotinho mesmo, em texto postado neste dia 3 de maio em seu blog, afirma que “as relações promíscuas de Cabral com Fernando Cavendish, da Delta, são maiores do que as suspeitas e indícios que atingem os governadores Marconi Perillo (GO) e Agnelo Queiroz (DF). Se pouparem Cabral de ir à CPI, não terão argumentos para convocar Marconi Perillo e Agnelo Queiroz. E se fizerem isso acabou a CPI e o Congresso Nacional estará desmoralizado.”
O pano de fundo: as eleições à prefeitura do Rio
Pai da candidata a vice-prefeita da chapa de Rodrigo Maia, o dep. Anthony Garotinho atira pedras na vidraça de Cabral. Foto: Agência Brasil
Garotinho é pai de Clarissa Garotinho, a futura candidata a vice-prefeita do Rio, na chapa encabeçada por Rodrigo, filho de Cesar Maia (DEM). Como político e pai, ele atira pedras no telhado do vizinho e não vai brincar em serviço na campanha que também tem Cabral (PMDB) apoiando a reeleição de Eduardo Paes, cujo secretário de Urbanismo, Sérgio Dias, estava na festa de Paris.
Já Cabral optou pelo silêncio. Sua única aparição pública desde então ocorreu no palácio da Guanabara nesta quarta-feira 2, onde não falou sobe o assunto. Ao mesmo tempo, no Congresso Nacional, ocorria a seção da CPI mista que investiga o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Ele limitou-se a divulgar notas através de sua assessoria de imprensa nos últimos dias: “Nunca neguei minha amizade com o empresário Fernando Cavendish. Jamais imaginei e, muito menos tinha conhecimento, que a sua empresa fizesse negócios com um contraventor no Centro-Oeste brasileiro”, diz Cabral em uma das notas.
O ex-prefeito Cesar Maia, agora aliado de Garotinho – de quem foi grande inimigo – é reconhecido economista. Tem grande conhecimento em áreas de estatísticas e comunicação social. Mas, neste momento, está quieto. Também no seu ex-blog, enviado diariamente a seus assinantes, já famosos por conter textos informativos, só nesta terça 1º, ele, sem alarde, mas com ironia, postou números do governo:
2009    FOI O ANO DAS FOTOS E DA INTIMIDADE LÚDICA DE CABRAL COM A DELTA!
  1. Contratos da Delta com o Governo do Estado do Rio:
2001 – R$ 47 milhões / 2002 – R$ 61,8 milhões / 2003 – R$ 15,1 milhões / 2004 – R$ 76,1 milhões / 2005 – R$ 142,8 milhões / 2006 – R$ 163,9 milhões / 2007 – R$ 67,2 milhões / 2008 – R$ 126,8 milhões / 2009 – R$ 243,4 milhões / 2010 – R$ 554,8 milhões / 2011 – R$ 358,5 milhões / 2012 – 138,4 milhões** Valor empenhado até 11 de abril.

Fernando Gabeira, do PV, também resolveu repercutir as denúncias de Garotinho. Ele não toma partido do deputado nem de Cabral, mas se vinga por ter perdido, em 2010, seu programa partidário, que foi tirado do ar pelo Tribunal Regional Eleitoral depois de ele ter comentado a amizade de Cabral com Cavendish. Ele sustenta que o centro real de suas denúncias era a “corrupção na Saúde, com Toesas e Locantys, botando para quebrar”.
Ele prossegue contando que, inexplicavelmente, a imprensa se calou. E, assim, o governo fingiu que não era com ele.
Gabeira afirma que os fatos, “durante a campanha e agora, em 2012, revelam que a corrupção na Saúde continuou”. E desabafa:
Sadala é o novo personagem da trama Cavendish-Cabral, aponta Fernando Gabeira. Foto: blog de Anthony Garotinho
“Sérgio Côrtes com a toalha na cabeça e sua mulher exibindo sapatos caros em Paris me indignam porque ele comanda a  saúde no Rio. Um estado que convive alegremente com a corrupção na Saúde, enquanto os responsáveis pelo setor festejam em Paris, chegou a um ponto de degradação interna que só um grande movimento popular pode superar.”
Também nesta quarta, dia 2, ele posta mais um recado – para estressar mais ainda o meio político: conta quem é o personagem que estava na festa com Cabral e Cavendish. Diz que era “George Sadala, o homem que tem a concessão do Poupa Tempo, em Minas e no Rio”. Muita gente queria saber quem era o homem de copo na mão que posava perto das mulheres exibindo sapatos Christian Loboutin.
Gabeira conta que ele “é amigo de Cabral e também de Aécio Neves que foi seu padrinho de casamento”, e no qual o filho de Cabral foi pagem.
Sadala é dono de uma factory chamada Lavoro. Ela compra dividas que as empreteiras têm a receber do governo. Em seguida, ele recebe o dinheiro do governo.
Terminando esse texto, ele adverte, em tom de editor:
”Sadala é o novo personagem. Se a imprensa não se interessar por ele, tudo bem. Os fatos acabarão aparecendo e todo esse período será esclarecido um dia. Ele não aparece com um guardanapo branco branco na cabeça, entre secretários de estado, por acaso.”

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O discreto preconceito dos intelectuais

domestica-e

Ser escritora, pesquisadora ou artista é socialmente mais relevante que faxineira? Problema está na profissão ou nas condições de trabalho?
Por Marília Moschkovich, na coluna Mulher Alternativa
Sexta-feira (27) foi Dia Nacional da Trabalhadora Doméstica. Começa pelo gênero – “trabalhadora doméstica”, no feminino. A profissão não é fechada aos homens, mas historicamente em nossa sociedade a limpeza tem sido um tipo de trabalho delegado às mulheres. Inclusive profissionalmente. Mais do que isso, a origem do trabalho pago de limpeza no Brasil está diretamente associada à herança da escravidão e à pobreza. São majoritariamente negras as mulheres que fazem este tipo de serviço.
Enquanto algumas correntes da esquerda e do feminismo almejam um mundo em que não exista trabalho doméstico pago e outros grupos políticos defendam que ele exista e continue sendo mal pago e uma “exceção” no mercado de trabalho (em termos de direitos e garantias das trabalhadoras e trabalhadores), pessoalmente me alinho com a luta pela regulamentação em regime CLT, com piso salarial, férias, 13º, fundo de garantia, licença-maternidade (e por que não, paternidade?), etc. O trabalho de limpeza, me parece, não é necessariamente mais ou menos degradante, exigente, etc. do que outros tipos de trabalho. Tudo depende das condições em que é realizado.
Me lembro de conhecidas e conhecidos que buscam/buscaram empregadas domésticas para dormir no serviço. Isso significa morar com a família que emprega (portanto deixar a sua própria em segundo plano) e estar à disposição, em maior ou menor grau, 24 horas por dia. Gostaria, sinceramente, de perguntar a elas/eles se aceitariam tais condições de trabalho – independente do salário. Que tal se o chefe ligasse dizendo que a partir de segunda-feira você teria que dormir no escritório, tomar banho no escritório, comer no escritório etc. com o mesmo salário? Em tese, você não estaria trabalhando mais horas, só ajudando com um telefonema ou outro, uma urgência ou outra. Sabem como é. O fato é que muitas das pessoas que vivem reivindicando atitudes “profissionais” e comportamento “ético” no próprio espaço de trabalho não hesitam em tratar o trabalho doméstico como “uma ajuda”, pagá-lo mal e tratar empregadas e empregados de forma desumana como jamais fariam com um colega de equipe – e como jamais gostariam que seus chefes fizessem consigo.
Este tipo (horroroso) de condição de trabalho também pode ser regulamentado. Há casos em que a distância de casa e a insalubridade são “compensadas”, em tese, com bônus. Trabalhadores de plataformas de petróleo, por exemplo, têm períodos longos de descanso antes de embarcarem novamente, recebem diversas bonificações. Na cabeça de algumas pessoas, há um outro fator que faria com que trabalhadores de plataformas de petróleo merecessem ganhar mais do que empregadas domésticas que dormem no trabalho: eles estudaram mais anos e executam um trabalho mais especializado. Parte-se do pressuposto que qualquer um pode fazer a faxina. Oras, então por que não a fazem? Ao mesmo tempo, se todas as pessoas tivessem a mesma oportunidade e o mesmo acesso à formação especializada, igualmente qualquer um poderia realizar o trabalho nas plataformas de petróleo, certo? Se os bens simbólicos fossem distribuídos entre as pessoas de forma homogênea, qualquer um a princípio poderia ser um intelectual, médico, engenheiro… Não há nada, inato na pessoa em ou na profissão em si, que faça de alguns mais apropriados para certos tipos de trabalho do que outros.
Não é fácil, porém, desconstruir o mito da meritocracia. Mesmo as pessoas que mais criticam o status quo, que querem transformar a situação das empregadas domésticas (seja através da regulamentação de sua profissão ou através da extinção), não pensam duas vezes antes de concordar que quem estuda mais anos deve receber mais dinheiro. Não se lembram de que o status de um profissão não está apenas relacionado ao dinheiro, nem aos anos de estudo e nem apenas à relevância social que lhe é atribuída. Ignoram que este pensamento é uma forte ferramenta de dominação – afinal, os recursos simbólicos e a educação não são distribuídos igualmente entre as pessoas, e a competição é absolutamente injusta desde a largada, o que nos leva a deduzir erroneamente que quem nasceu em condições privilegiadas “merece” continuar em posições privilegiadas.
Portanto, antes de defender que o trabalho doméstico seja uma “exceção” em termos da regulamentação e direitos trabalhistas, reflita se o seu trabalho também poderia ser uma exceção. Antes de defender que esta profissão deixe de existir, pergunte-se: por que te parece que uma médica, executiva, escritora ou pesquisadora é socialmente mais relevante que uma empregada doméstica?

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dia do Trabalhador: Trabalhadores protestam mundo afora


Milhares de pessoas, principalmente comunistas, participaram nas manifestações em Atenas e outras cidades da Grécia ©AFP / Louisa Gouliamaki
MADRI (AFP) – Milhares de pessoas se manifestaram nesta terça-feira em vários países neste 1 de maio para celebrar o Dia do Trabalho ou protestar contra as políticas de austeridade realizada pelos governos.
Os manifestantes saíram às ruas de Madri para criticar os cortes sociais e a reforma trabalhista realizada pelo governo conservador espanhol
Exibindo uma enorme faixa com os dizeres “Querem acabar com tudo. Trabalho, dignidade, direitos”, os trabalhadores percorreram o centro de Madri, da Praça de Netuno até a conhecida Porta do Sol, onde acontecerá um comício de líderes sindicais.
As centrais sindicais aproveitaram o Dia do Trabalho para dar um passo a mais em sua estratégia de mobilização contra a reforma trabalhista e os cortes principalmente na educação e saúde decretados pelo governo de Mariano Rajoy.
Outros milhares de pessoas, principalmente comunistas, participaram nas manifestações em Atenas e outras cidades da Grécia, um país em que o Dia do Trabalho é celebrado tradicionalmente como o Dia da Greve Geral no setor privado e no público.
Estas manifestações acontecem a cinco dias das eleições legislativas de 6 de maio na Grécia, cujo resultado é incerto devido a uma queda da popularidade dos dois principais partidos, a direita Nova Democracia, que parte como favorito, e os socialistas do Pasok, acusados pelo rigor imposto ao país há dois anos pressionados por seus credores, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, em troca de empréstimos para evitar a falência.
Segundo a polícia, mais de 8.000 militantes da Frente de Luta dos Trabalhadores (Pame), ligado ao partido comunista, se manifestaram em Aspropyrgos, a 35 km de Atenas, donde está situada a siderúrgica do grupo Hellenic Halyvurgia, cujos funcionários estão em greve há meses.
Outras 1.500 pessoas responderam à convocação dos sindicatos em Atenas, enquanto que 2.000 militantes de grupos de esquerda também se manifestaram no centro de Atenas.
Na Rússia, o presidente eleito Vladimir Putin e o atual chefe de Estado Dmitri Medvedev participaram pela primeira vez em
Putin e Medvedev, que participaram assim pela primeira vez em um desfile pelo Dia do Trabalho, lideraram a passeata com um enorme cartaz que dizia “Somos uma força!”uma grande manifestação de 150.000 pessoas convocadas pelos sindicatos pró-governamentais em uma das principais artérias da capital.
Depois da manifestação, a equipe no poder comemorou a data com peixe seco e camarões em uma popular cervejaria popular do centro da capital.
O continente asiático, um dos mais dinâmicos do mundo, também festejou o dia 1 de maio.
Na Indonésia, 9.000 pessoas saíram às ruas da capital Jacarta para reclamar aumentos de salários e a falta de segurança no emprego.
Quarto país mais povoado do mundo, com 240 milhões de habitantes, a Indonésia conhece um dos crescimentos mais elevados do mundo, com um índice anual superior aos 6% graças, em grande parte, a seus importantes recursos naturais.
No entanto, mais ou menos a metade da população está abaixo do nível internacional da pobreza enquanto o salário médio mensal dificilmente acompanha o custo de vida.
Nas Filipinas, 3.000 pessoas seguiram até o palácio presidencial em Manila exibindo retratos do presidente Benigno Aquino em que ele aparece como um cachorro sob as ordens dos capitalistas estrangeiros.
Em Hong Kong, 5.000 manifestantes pediram uma melhoria das aposentadorias, redução do tempo de trabalho semanal e um aumento da hora de trabalho.
Por outro lado, vinte mil tunisianos se manifestaram pelo emprego e unidade nacional na avenida Habib Burguiba, lugar emblemático da revolução na Tunísia.
“Pão, liberdade e dignidade nacional” e “Trabalho, liberdade, dignidade nacional” eram os principais lemas cantados pelos manifestantes.
Na manifestação também participaram militantes do partido islamita Ennahda e das correntes da oposição.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Relatório expõe fraudes no ECAD


CPI sobre órgão que deveria distribuir direitos autorais encerra trabalhos, constata série de irregularidades e pede criação de órgão público para proteger criadores
Por Beatriz Mendes, na Carta Capital
Foi apresentado na terça-feira (24/3) o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava desde junho do ano passado a atuação do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), entidade responsável por gerenciar os rendimentos provenientes de execuções públicas de composições nacionais e estrangeiras no Brasil.
No texto, relatado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ, na foto ao microfone), foram legitimadas as suspeitas que já haviam sido levantadas em público anteriormente pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), presidente da comissão de inquérito. Além de sugerir a criação de um órgão público que fiscalize o Ecad, a CPI determina que a cúpula da instituição e os dirigentes das associações que a compõem sejam alvos de 21 indiciamentos.
Acusações: O foco das denúncias gira em torno de crimes de apropriação indébita de valores, fraude na realização de auditoria, falsidade ideológica, agiotagem, formação de cartel, e enriquecimento ilícito. O órgão também foi acusado de dificultar a integração de novas associações.
De acordo com os senadores, os documentos e depoimentos colhidos pela CPI “revelam, à exaustão, que a Assembleia Geral do Ecad transformou-se em uma confraria de lesa cultura, cujas decisões, tomadas sem critérios e sem transparência, eliminam o elemento negocial na fixação de preços pela utilização dos direitos autorais”.
José Antônio Perdomo Corrêa é o primeiro da lista de indiciados. Ele é superintendente da União Brasileira de Compositores (UBC), a maior associação vinculada ao Ecad. Junto com Roberto Corrêa Mello – o segundo da lista de denúncias e presidente da Abramus, outra associação vinculada ao Ecad -, forma o carro-chefe da entidade.
Além deles, o relatório de Lindbergh pede o indiciamento da superintendente do Ecad, Glória Braga, dos presidentes da Amar (Associação de Músicos, Arranjadores e regentes), Marco Venício Mororó de Andrade, Sbacem (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música), Denis Lobo, Assim (Associação de Intérpretes e Músicos), Marcel Camargo de Godoy, e Sicam (Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais), Chrysóstomo Pinheiro de Faria, e do diretor administrativo e financeiro da Socinpro (Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais), Jorge de Souza Costa.
Órgão controlador: O relatório deixa claro que o Ecad é um órgão importante para preservar os direitos dos artistas brasileiros. Contudo, a principal questão a ser enfrentada a respeito de sua atual administração é a necessidade de que seja fiscalizado e que adote uma postura de maior transparência. Os membros da comissão defendem a criação de uma Secretaria do Direito Autoral e de um Conselho Nacional dos Direitos Autorais dentro do Ministério da Justiça.
O projeto de lei propõe que todas as questões relacionadas à gestão dos direitos autorais no Brasil deixem de fazer parte do Ministério da Cultura e passem a integrar o Ministério da Justiça. De acordo com o relatório da CPI, a mudança é ideal porque a entidade controladora não deve ser economicamente menos expressiva do que o setor a ser fiscalizado – em 2011, o orçamento do Ecad foi aproximadamente 40 milhões de reais superior ao do MinC. Também acrescenta que é na Justiça que estão a Defesa do Consumidor, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o combate à pirataria – portanto, julgam que a pasta apresenta a melhor estrutura para fiscalizar a arrecadação e distribuição.
Ainda, relata que a nova estrutura seria gerida de forma tripartida por representantes do poder público, titulares de direitos autorais e membros da sociedade civil, mediando conflitos e fiscalizando as entidades de gestão coletiva de direitos autorais.
Por fim, os senadores também propõem a criação de um portal de transparência, no qual seriam reunidas todas as informações referentes a receitas e despesas das entidades de direito autoral.
Posição do Ecad: No início de abril, Márcio do Val, gerente de Relações Institucionais do Ecad, procurou CartaCapital para dar esclarecimentos sobre as acusações que o órgão vinha sofrendo. Na ocasião, do Val afirmou que a entidade busca a maior transparência possível, mas suas atividades acabam se mostrando um tanto obscuras por conta da complexidade dos processos que as envolve. “As pessoas não entendem a estrutura do Ecad, por isso tendem a achar que não somos suficientemente claros”, afirmou.
O gerente disse que o Escritório de Arrecadação não dificulta a integração de novas associações, apenas cria requisitos que são essenciais  para a unidade dos grupos. “Antigamente pequenas agências por todo o Brasil faziam parte do Ecad, mas isso mais dificultava nosso trabalho do que ajudava. Isso porque essas pessoas que queriam nos representar nem sempre tinham estrutura para fiscalizar a determinada região do País proposta. Eles não conseguiam nos representar adequadamente e era nossa imagem a afetada”.
Quanto à formação de cartel, disse que é impossível permitir que as associações cobrem preços diferentes de direito autoral porque nem sempre a música é composta apenas por uma pessoa. “O compositor, o letrista, o arranjador e quem mais participou do processo de criação deve receber o mesmo valor por execução de determinada canção. Como nem sempre os envolvidos são filiados de uma mesma associação, as entidades precisam cobrar preços iguais”, argumentou.
Minc e EcadMárcio do Val também falou a respeito do suposto favorecimento do Ministério da Cultura ao Escritório de Arrecadação. Ele comentou a relação da Diretora de Direitos Intelectuais do Minc, Márcia Regina Barbosa, com o Ecad – ela foi indicada para o cargo por Hidelbrando Pontes, advogado da instituição. “O Ecad tem centenas de advogados, nós não temos contato direto com eles. Essa relação não é verdadeira.”
O relatório da CPI não trata do suposto favorecimento ao Ecad durante a gestão de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura. “Quando as acusações foram feitas, a CPI já estava em sua fase final, por isso não investigamos as relações das entidades a fundo”, esclarece Randolfe Rodrigues em entrevista àCartaCapital.
Apesar disso, Ana de Hollanda já havia sido convidada pelo senador para prestar esclarecimentos quanto às acusações feitas à sua administração. Na manhã da terça-feira 24 a ministra falou à Comissão de Educação do Senado. Durante seu discurso, ela defendeu Márcia Regina. “Não há nada que se possa levantar de concreto contra suas atitudes, seus procedimentos. Ela trabalhou no Conselho Nacional do Direito Autoral, assim como o doutor Hildebrando. Se ele defende o Ecad é outra questão”, disse.
A ministra também fez uma apaixonada defesa dos direitos autorais. “Acompanhei as lutas dos anos 60 e 70 de toda a vanguarda cultural a favor do direito à dignidade do artista como profissional e ser humano. Fico assustada quando vejo essa campanha pelo retrocesso. O autor não vive de vento, vive de seu trabalho. Me acusam de ser uma pessoa presa ao passado. Não sou presa ao passado, sou presa aos direitos conquistados com muita dificuldade.”
Por fim, Ana de Hollanda rebateu as acusações feitas pelo blog Farofafá, de que teria favorecido o Ecad através de um parecer técnico enviado ao Ministério Público, depois de pedido do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O novo documento seria antagônico ao emitido por Gilberto Gil durante o governo Lula. “Nós simplesmente respondemos a uma obrigação perante o Ministério Público, que pediu nova manifestação ao MinC. Nosso texto está muito parecido com o anterior, da época do ministro Gil”, defendeu-se.
Para Randolfe Rodrigues, o depoimento da ministra não esclareceu as relações entre as duas organizações. “Ao invés de responder ao argumento e favorecimento ao Ecad, ela preferiu atacar o argumentador.”
O senador acrescentou que se o Minc continuar agindo com atividades opostas às recomendações dadas pela CPI será submetido a investigações. “Por enquanto, julgo que o relatório do senador Lindbergh já um grande avanço para os direitos autorais brasileiros”, concluiu.