terça-feira, 27 de março de 2012

Venezuela: revolução na saúde pública


260312_saudeAvante! - [Pedro Campos] Se alguma revolução se deu na Venezuela desde 1999 ela foi, sem dúvida alguma, no campo da saúde pública.

Poderíamos escrever sobre a educação ou sobre o investimento social, mas dediquemo-nos hoje às políticas de saúde pública para que se possa entender algumas das razões pelas quais a oligarquia criola aposta forte – e sobretudo feio – contra a revolução bolivariana.
"Chávez politizou a saúde quando trouxe os médicos cubanos" é o que vocifera a oposição reacionária para dizer que o país caiu nas mãos "dos castro-comunistas, que são os que realmente mandam na Venezuela".
Esta demonização da administração chavista começou ao mesmo tempo que a oligarquia e o imperialismo suspeitaram que Hugo Chávez tinha chegado ao poder para cumprir com o que tinha prometido: governar para as grandes maiorias mais pobres do país. No enquadramento da Missão Bairro Adentro, a chegada do primeiro contingente de galenos da ilha deu-se em 2002, depois do golpe de estado de abril do mesmo ano.
Por que foi necessário aceitar a ajuda cubana neste campo? Acaso não há médicos na Venezuela? Claro que sim. Só que, historicamente, esses mesmo médicos – uma grande parte deles – entendem o exercício da medicina como uma forma de enriquecimento pessoal e negaram-se sempre a atender a população dos bairros de lata e das pequenas povoações fora de Caracas e outras grandes cidades.
Dito de uma maneira mais crua, foi necessário aceitar a solidariedade do governo cubano no capítulo da saúde – neste momento há cinco mil consultórios populares atendidos por médicos cubanos – porque de outra forma a grande maioria dos venezuelanos pobres e das zonas marginais continuaria a morrer por falta de assistência sanitária. Se somarmos a esta situação o fato de que as faculdades de medicina das universidades tradicionais não se renovaram no tempo, era óbvio que se tornava imperativo fazer algo de diferente.
Uma nova geração de médicos
A partir desta realidade, a revolução bolivariana começou a desenhar novas políticas de saúde, distintas das dos governos anteriores e nas quais se incluía a criação de um novo modelo de atenção sanitária, baseado fundamentalmente na atenção primária em matéria de prevenção e promoção da atenção oportuna das doenças. Impunha-se, também, mudar o perfil de formação dos novos médicos e assim nasceu o programa nacional de formação em medicina integral, que foi aprovado pelo Conselho Nacional de Universidades e confiado a cinco universidades do país.
Isto causou um enorme burburinho e os Médicos Integrais Comunitários foram imediatamente acusados – como já tinha sucedido com os cubanos – de serem "bruxos e xamãs", e a Academia Venezuelana de Medicina afirmou – sem que a mentira fizesse corar os declarantes – que eram formados apenas em três anos. A verdade é que quem quiser consultar o programa de estudos pode facilmente constatar que os novos médicos estudam durante seis anos durante os quais cumprem 14.084 horas presenciais e práticas, o que vem a ser quase o dobro das 8.500 horas que cursam os estudantes de medicina tradicional! Mas isto não impede que profissionais e estudantes reaccionários se manifestem – livremente! – contra os médicos integrais comunitários, acusando-os de falta de preparação científica e escondendo-se detrás de uma falsa preocupação com o que será da saúde dos venezuelanos se forem tratados por uns "incompetentes" aos quais já classificam de futuros réus de má práxis médica.
Um programa académico exigente
Os três primeiros anos de formação são em módulos de atenção primária: prática de manhã e teoria durante a tarde. No terceiro ano, os alunos são enviados para os Centros de Diagnóstico Integral, onde entram em contato com as patologias mais difíceis. Nos anos seguintes ingressam aos hospitais, onde, tal como no caso dos estudantes tradicionais, praticam serviços básicos nas áreas de pediatria, obstetrícia, ginecologia, medicina interna, traumatologia, dermatologia...
Há pouco mais de um mês saiu o primeiro contingente de 8.500 destes médicos, que, além dos tais seis anos, apresentaram uma prova de certificação final – coisa que não sucede nas universidades tradicionais. Nessa prova o candidato a médico deve demonstrar os conhecimentos adquiridos e que tem as competências diagnósticas e terapêuticas suficientes. São médicos "novos", com um profundo compromisso com a Medicina Social.
Fonte: Avante!

Nenhum comentário:

Postar um comentário