segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os "milagres econômicos" da Guerra Fria por José Luís Fiori




A lógica da Guerra Fria pesou decisivamente na origem dos "milagres econômicos" na Alemanha, Japão, Itália e Coreia, e na transformação posterior desses países em peças centrais da engrenagem econômica do poder global dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70.


Por José Luís Fiori

Salvo engano, foi o jornal The Times que falou pela primeira vez - em 1950 - de "milagres econômicos", referindo-se à países com prolongados períodos de altas taxas de crescimento econômico sustentado. Depois, esta expressão foi utilizada para caracterizar o crescimento da Alemanha, Itália, Japão, Coréia e Brasil, entre as décadas de 50 e 80, período áureo da Guerra Fria. Entre 1950 e 1973, o produto nacional da Republica Federal Alemã, cresceu à uma taxa média anual de 5,05%; no mesmo período, a Itália cresceu 5,68%; o Japão, 9,29%; e a Coréia do Sul, 9.85%. No Brasil, as taxas foram mais altas e descontínuas, com uma média de 8%, entre 1955 e 1960, 11%, entre 67 e 73, e 6,4% entre 74 e 80, mas com uma queda significativa no período 61/67. Assim mesmo, depois de 1980, a taxa de crescimento de todos estes países caiu de forma desigual mas permanente.

Agora bem, a despeito de suas grandes diferenças históricas e políticas, Alemanha, Japão, Itália e Coréia foram derrotados e destruídos - na II Guerra Mundial ou na Guerra da Coréia - e depois foram ocupados e transformados em "protetorados militares" dos EUA. Logo depois da guerra, a ideia americana era desmontar as antigas estruturas econômicas destes países. Mas depois do começo da Guerra Fria e do fim da Guerra da Coréia, este projeto inicial foi substituído por uma política diametralmente oposta de estimulo ao crescimento econômico, com forte dos governos locais, e dos próprios agentes econômicos e instituições privadas do pré-guerra. Por isto, se pode dizer com toda certeza que a lógica da Guerra Fria pesou decisivamente na origem dos "milagres econômicos", e na transformação posterior daqueles países, em peças centrais da engrenagem econômica do poder global dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70.

No caso do Brasil - que foi aliado dos EUA na II Guerra - o caminho foi diferente, mas também se pode falar de um "convite" que foi aceito - depois do Acordo Militar Brasil-EUA, de 1952 - e que transformou o Brasil no pivot central da estratégia desenvolvimentista norte- americana, para a América Sul. A nova política foi experimentada primeiro com o governo JK - inteiramente alinhado com os EUA e com o colonialismo europeu - e só depois, a partir de 1964, sob comando direto do regime militar.

Depois de quase três décadas de "milagre econômico", entretanto, este processo foi interrompido pela "crise americana" da década de 70, e pela nova mudança da política internacional dos EUA. Tudo começou com a reaproximação da China, no início da década de 70, que levou à derrota/saída americana do Vietnã, e ao redesenho do equilíbrio do poder, no sudeste asiático. Foi neste mesmo contexto que os EUA decidiram abandonar Bretton Woods, liberando sua moeda e iniciando a desregulação do seu mercado financeiro, com a lenta construção de um novo sistema monetário internacional, baseado no dólar, mas sem base metálica. 

A nova estratégia permitiu o cerco e desconstrução final da URSS e o fim da Guerra Fria, mas ao mesmo tempo, ela desativou ou esvaziou o papel econômico que fora ocupado pela Alemanha e pelo Japão, e secundariamente, pelo Brasil, durante as primeiras décadas da Guerra Fria. O crescimento econômico médio anual da Alemanha caiu para 2,10%, entre 1973 e 1990; o do Japão, caiu para 2,97%; o da Itália, para 1,76; o da Coréia, para 6,77; enquanto o Brasil entrava num longo período de estagnação. No mesmo tempo em que a China se transformou no novo milagre econômico" do sistema capitalista mundial, enquanto a Alemanha e o Japão seguiam na sua condição de gigantes industriais e tecnológicos, mas com "pés de barro", ainda na condição de protetorados militares dos EUA e sem dispor de recursos naturais essenciais, além de serem igualmente dependentes do ponto de vista alimentar e energético. 

Assim mesmo, no início da segunda década do século XXI, pode ser que o Japão e a Alemanha venham a ser resgatados, uma vez mais, como caminho de saída da crise, para os EUA, e como instrumentos da nova doutrina Obama, que se propõe fazer - desta vez - o cerco econômico e militar da China. O Japão e a Coréia estão sendo pressionados para participar da Trans-Pacific Partenership - TPP, que é hoje a pedra angular da política comercial de Obama, e que se propõe reunir dos dois lados do Pacífico, numa grande zona de livre comércio. 

Ao mesmo tempo em que a Alemanha vem sendo estimulada a liderar um grande pacto comercial transatlântico, entre a UE e os EUA, e há quem proponha que o Brasil se junte à "aliança do pacífico". Neste novo xadrez, entretanto, o Brasil é muito menos desenvolvido que a Alemanha e o Japão, mas dispõe de recursos naturais e é auto-suficiente, do ponto de vista alimentar e energético. Por isto, talvez, só o Brasil tenha hoje condições reais de escolher um caminho que lhe dê maior grau de autonomia estratégica, e maior capacidade de projetar seus interesses e sua influencia, numa escala global.


(*) José Luis Fiori é professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo". (www.poderglobal.net)


Fonte: Carta Maior



Ajuda Financeira Recebida no Plano Marshall

PAÍS
TotalDoaçõesEmpréstimos
República Federal da Alemanha1,390.61,173.7216.9
Áustria677.8677.8--
Bélgica e Luxemburgo559.3491.368.0
Dinamarca273.0239.733.3
França2,713.62,488.0225.6
Grécia706.7706.7--
Holanda (Índia Oriental)a1,083.5916.8166.7
Islândia29.324.05.3
Irlanda147.519.3128.2
Itália (incluindo Trieste)1,508.81,413.295.6
Noruega255.3216.139.2
Portugal51.215.136.1
Reino Unido3,189.82,805.0384.8
Suécia107.386.920.4
Turquia225.1140.185.0
Regionalb407.0b407.0b--
Total para todos os países$13,325.8$11,820.7$1,505.1

Observações:

a) O Plano Marshall de ajuda às Índias Orientais (atual Indonésia) foi extendido à Holanda antes da oficialização da independência das Índias Orientais da Holanda. A ajuda econômica para as Índias Orientais chegaram ao total de 101.4 US$ milhões, recebendo uma doação de 84.2 US$ milhões e um empréstimo de 17.2 US$ milhões.
b) Para o continente como um todo


domingo, 30 de dezembro de 2012

Medíocres e perigosos

Por Matheus Pichonelli


O reacionário é, antes de tudo, um fraco. Um fraco que conserva ideias como quem coleciona tampinhas de refrigerante ou maços de cigarro – tudo o que consegue juntar mas só têm utilidade para ele. Nasce e cresce em extremos: ou da falta de atenção ou do excesso de cuidados. E vive com a certeza de que o mundo fora da bolha onde lacrou seu refúgio é um mundo de perigos, pronto para tirar dele o que acumulou em suposta dignidade.
Para ele, tudo o que é diferente tem potencial de destruição
Como tem medo de tudo, vive amargurado, lamentando que jamais estenderam um tapete à sua passagem. Conserva uma vida medíocre, ele e suas concepções e nojos do mundo que o cerca. Como tem medo, não anda na rua com receio de alguém levar muito do pouco que tem (nem sempre o reacionário é um quatrocentão). Por isso, só frequenta lugares em que se sente seguro, onde ninguém vai ameaçar, desobedecer ou contradizer suas verdades. Nem dizer que precisa relaxar, levar as coisas menos a sério ou ver graça na leveza das coisas. O reacionário leva a sério a ideia de que é um vencedor.
A maioria passou a vida toda tendo tudo aos alcance – da empregada que esquentava o leite no copo favorito aos pais que viam uma obra de arte em cada rabisco em folha de sulfite que ele fazia – e cultivou uma dificuldade doentia em se ver num mundo de aptidões diversas. Outros cresceram em meios menos abastados – e bastou angariar postos na escala social para cuspir nos hábitos de colegas de velhos andares. Quem não chegou aonde chegou – sozinho, frise-se – não merece respeito.
Rico, ex-pobre ou falidos, não importa: o reacionário clássico enxerga em tudo o que é diferente um potencial de destruição. Por isso se tranca e pede para não ser perturbado no próprio mundo. Porque tudo perturba: o presidente da República quer seu voto e seus impostos; os parlamentares querem fazê-lo de otário; os juízes estão doidos para tirar seus direitos acumulados; a universidade é financiada (por ele, lógico) para propagar ideias absurdas sobre ideais que despreza; o vizinho está sempre de olho na sua esposa, em seu carro, em sua piscina. Mesmo os cadeados, portões de aço, sistemas de monitoramento, paredes e vidros anti-bala não angariam de todo a sua confiança. O mundo está cheio de presidiários com indulto debaixo do braço para visitar familiares e ameaçar os seus (porque os seus nunca vão presos, mesmo quando botam fogo em índios, mendigos, prostitutas e ciclistas; índios, mendigos, prostitutas e ciclistas estão aí para isso).
Como não conhece o mundo afora, a não ser pelas viagens programadas em pacotes que garantem o translado até o hotel, e despreza as ideias que não são suas (aquelas que recebeu de pronto dos pais e o ensinaram a trabalhar, vencer e selecionar o que é útil e o que é supérfluo), tudo o que é novo soa ameaçador. O mundo muda, mas ele não: ele não sabe que é infeliz porque para ele só o que não é ele, e os seus, são lamentáveis.
Muitas vezes o reacionário se torna pai e aprende, na marra, o conceito de família. Às vezes vai à igreja e pede paz, amor, saúde aos seus. Aos seus. Vê nos filhos a extensão das próprias virtudes, e por isso os protege: não permite que brinquem com os meninos da rua nem que tenham contato com ideias que os retirem da sua órbita. O índice de infarto entre os reacionários é maior quando o filho traz uma camisa do Che Guevara para casa ou a filha começa a ouvir axé e namorar o vocalista da banda (se ele for negro o infarto é fulminante).
Mas a vida é repleta de frestas, e o tempo todo estamos testando as mais firmes das convicções. Mas ele não quer testá-las: quer mantê-las. Por isso as mudanças lhe causam urticárias.
Nos anos 70, vivia com medo dos hippies que ousavam dizer que o amor não precisava de amarras. Eram vagabundos e irresponsáveis, pensava ele, em sua sobriedade.
Depois vieram os punks, os excluídos de aglomerações urbanas desajeitadas, os militantes a pedir o alargamento das liberdades civis e sociais. Para o reacionário, nada daquilo fazia sentido, porque ninguém estudou como ele, ninguém acumulou bens e verdades como ele e, portanto, seria muito injusto que ele e o garçom (que ele adora chamar de incompetente) tivessem o mesmo peso numa urna, o mesmo direito num guichê de aeroporto, o mesmo lugar na fila do fast food.
O reacionário vive com medo. Mas não é inofensivo. Foto: Galeria de GorillaSushi/Flickr
Para não dividir espaços cativos, frutos de séculos de exclusão que ele não reconhece, eleva o tom sobre tudo o que está errado. Sabendo de seus medos e planos de papel, revistas, rádios, televisão, padres, pastores e professores fazem a festa: basta colocar uma chamada alarmista (“Por que você trabalha tanto e o País cresce tão pouco?”) ou música de suspense nas cenas de violência (“descontrolada!”) na tevê para que ele se trema todo e se prepare para o Armagedoon. Como bicho assustado, volta para a caixinha e fica mirabolando planos para garantir mais segurança aos seus. Tudo o que vê, lê e ouve o convence de que tudo é um perigo, tudo é decadente, tudo é importante, tudo é indigno. Por isso não se deve medir esforços para defender suas conquistas morais e materiais.
E ele só se sente seguro quando imagina que pode eliminar o outro.
Primeiro, pelo discurso. No começo, diz que não gosta desse povinho que veio ao seu estado rico tirar espaço dos seus. Vive lembrando que trabalha mais e paga mais impostos que a massa que agora agora quer construir casas em seu bairro, frequentar os clubes e shoppings antes só repletos de suas réplicas. Para ele, qualquer barberagem no trânsito é coisa da maldita inclusão, aqueles bárbaros que hoje tiram carta de habilitação e ainda penduram diplomas universitários nas paredes. No tempo dele, sim, é que era bom: a escola pública funcionava (para ele), o policial não se corrompia (sobre ele), o político não loteava a administração (não com pessoas que não eram ele).
Há que se entender a dor do sujeito. Ele recebeu um mundo pronto, mas que não estava acabado. E as coisas mudaram, apesar de seu esforço e sua indignação.
Ele não sabe, mas basta ter dois neurônios para rebater com um sopro qualquer ideia que ele tenha sobre os problemas e soluções para o mundo – que está, mas ele não vê, muito além de um simples umbigo. Mas o reacionário não ouve: os ignorantes são os outros: os gays que colocam em risco a continuidade da espécie, as vagabundas que já não respeitam a ordem dos pais e maridos, os estudantes que pedem a extensão de direitos (e não sabem como é duro pegar na enxada), os maconheiros que não estão necessariamente a fim de contribuir para o progresso da nação, os sem-terra que não querem trabalhar, o governante que agora vem com esse papo de distribuir esmola e combater preconceitos inexistentes (“nada contra, mas eles que se livrem da própria herança”), os países vizinhos que mandam rebas para emporcalhar suas ruas.
Muitas vezes o reacionário se torna pai e aprende o conceito de família. Vê nos filhos a extensão das próprias virtudes, e por isso os protege: não permite que brinquem com os meninos da rua nem que tenham contato com ideias que os retirem da sua órbita
O mundo ideal, para o reacionário, é um mundo estático: no fundo, ele não se importa em pagar impostos, desde que não o incomodem.
Como muitos não o levam a sério, os reacionários se agrupam. Lotam restaurantes, condomínios e associações de bairro com seus pares, e passam a praguejar contra tudo.
Quando as queixas não são mais suficientes, eles juntam as suas solidões e ódio à coletividade (ironia) e passam a se interessar por política. Juntos, eles identificam e escolhem os porta-vozes de suas paúras em debates nacionais. Seus representantes, sabendo como agradar à plateia, são eleitos como guardiões da moralidade. Sobem a tribunas para condenar a devassidão, o aborto, a bebida alcoolica, a vida ao ar livre, as roupas nas escolas. Às vezes são hilários, às vezes incomodam.
Mas, quando o reacionário se vê como uma voz inexpressiva entre os grupos que deveriam representá-lo, bota para fora sua paranóia e pragueja contra o sistema democrático (às vezes com o argumento de que o sistema é antidemocrático). E se arma. Como o caldo cultural legitima seu discurso e sua paranoia, ele passa a defender crimes para evitar outros crimes – nos Estados Unidos, alvejam imigrantes na fronteira, na Europa, arrebentam árabes e latinos, na Candelária, encomendam chacinas e, em QGs anônimos, planejam ataques contra universitários de Brasília que propagam imoralidades (leia mais AQUI).
O reacionário, no fim, não é patrimônio nacional: é um cidadão do mundo. Seu nome é legião porque são muitos. Pode até ser fraco e viver com medo de tudo. Mas nunca foi inofensivo.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Joaquim Barbosa

Joaquim Barbosa (Foto: Fellipe Sampaio / STF)

Por Marilson Santana

Aplaudi e aplaudo a existência de um Negro no Supremo Tribunal Federal. Sempre defendi as ações afirmativas. Está na minha história de vida tal defesa e não posso apagá-la mesmo que a borracha do inconsciente me assoprasse outras letras. O Ministro Joaquim Barbosa não foi escolhido pelo Ex-Presidente Lula só por isso, mas, principalmente, por sua competência e notório saber jurídico, atestado tanto acadêmico, quanto profissionalmente. A presença de um negro de origem popular na maior Corte Jurídica do País atinge, fortemente, também, as confortáveis posições de setores racistas de nosso mundo jurídico, acadêmico, político e social, posições estas contra as quais nós combatemos todos os dias. Setores aqueles, que observei e observo bem de perto, costumavam derramar piadas grosseiras e palavras de baixo calão contra ele só pelo fato de ser negro e ao mesmo tempo assumir uma posição de destaque no cenário jurídico e do poder judiciário brasileiro. Setores aqueles que hoje, de uma maneira enviesada e distorcida, aplaudem-no nas Ruas do Leblon ou do Plano Piloto, mas não o convidariam para tomar um café no bar da esquina se fosse o porteiro do prédio ou vizinho de porta e só pelo fato de ser ele negro. Na minha simplória significância no quadro de tais setores, rebati, oportunamente, e rebato sempre que posso esta “gentalha” racista e preconceituosa. Continuarei rebatendo sem piedade.
São ainda raros os negros nas nossas salas de aula de Direito e nos Tribunais, especialmente, negros originários das classes populares como o ilustre Ministro. Contudo, devemos protegê-lo e proteger a sua forte e guerreira imagem das capas de revistas manifestamente contrárias à adoção de cotas raciais na universidade e de jornais de São Paulo que aceitam dentre os seus colunistas pessoas assumidamente racistas, capazes de remontar argumentos neo-darwinistas para rebater as cotas. Certo jornal carioca que hoje o homenageia com “pompas e circunstâncias” abrigou em seus editoriais e por meio de seus articulistas uma campanha implacável contra as ações afirmativas e as mudanças sociais redistributivas nestes pais. Não se pode negar que ele foi escolhido por uma política de ação afirmativa do Governo Lula. Antes disso era um notável Procurador da República e professor de direito. E ponto. Impossível “embranquecer” este fato. O movimento negro foi importante nessa escolha ao pressionar o governo neste sentido, mas não opinou no nome. Até porque Joaquim Barbosa nunca foi quadro do movimento negro ou de qualquer movimento político e muito menos tinha uma atuação de esquerda dentro do Ministério Público. Como ele mesmo diz, foi um encontro ao acaso com Frei Beto e, como se sabe, o conhecimento de pessoas do meio jurídico em Brasília que pavimentou este caminho.
A imprensa brasileira, a quem o Excelentíssimo Ministro chamou outrora de “branca e conservadora”, todavia, esteve do lado dele o tempo inteiro neste julgamento da Ação 470. Continuo, como algumas vozes, na “livre cadeia de comunicação” das redes sociais, informando, “a contrario sensu” de muitos, ter ele se confundido e “derrapado” na bainha da toga por vários motivos em sua decisão. Motivos estes que basta um conhecimento jurídico mediano para saber muito bem deduzir que houve a busca de regras e teorias ex post facto. Ele mesmo fez a “mea culpa”, assumindo que, como foi membro do Ministério Público Federal, gosta de acusar. Juízes não acusam, Meritíssimo. Juízes julgam como é notório e óbvio. Esperei esse julgamento como meu sobrinho adolescente espera o jogo do Flamengo em decisão do campeonato brasileiro. Ou seja, não como advogado ou professor de direito, mas como cidadão . Claro que sou um jurista mediano e nem pretendo bancar, como uma grande amiga carinhosamente me acusou aqui, o legalista exegético ou dogmático de plantão. Ao contrário, o direito constitucional é o território onde a teoria jurídica pode se mostrar no seu explendor popular e se curvar para política sem nela se transformar. É o lugar em que o saber especializado do direito também se curva aos princípios sociais da democracia e da republica convertidos em direito.Ali vi até republicanismo, mas também o sofrimento de princípios constitucionais e direitos fundamentais caros ao processo democrático. O que fazer de um republicanismo sem democracia ? E não estou falando de neoconstitucionalismo não. Estou falando de um lugar em que se acredita num constitucionalismo mais próximo de uma neoinsurgência do direito, como prática social converdita em direito de baixo para cima da qual Joaquim poderia ser porta-voz. Mas infelizmente não foi.
A escolha da “Folha de São Paulo” , órgão da imprensa oficial da oposição não só ao Partido dos Trabalhadores como aos movimentos sociais, que ele fez para dar a primeira entrevista pós-julgamento é sintomática. No mínimo, é algo a se compreender com cuidado. Dar entrevistas à “imprensa branca e conservadora” – friso que são palavras dele- no meio de um processo eleitoral, com um processo jurídico em andamento, para o qual se terminou de conceder a relatoria, não é o que se espera de um magistrado imparcial que promete um julgamento supostamente técnico? É? Uma coisa é se dirigir aos destinatários dos direitos fundamentais no Brasil, outra coisa é se alimentar da flama de uma opinião pública mobilizada por uma disputa contagiante, porque local, como é a da eleição municipal. O risco da vingança privada se reinstalar tal como exceção ou linchamento não era tão pequeno. O julgamento político do PT foi feito nas urnas. Isso não quer dizer que não se deva condenar o sistema eleitoral brasileiro, colonizado mais pelo sistema do mercado do que pelo sistema burocrático. Isso não quer dizer também que tal partido não tenha errado no processo político recente do país, desconsiderando até mesmo algumas expectativas de sua própria base partidária, forjada nas lutas sindicais e do movimentos populares. Mas quando o judiciário se usa da fúria da política vestida com a estátua cega da justiça a catar resto de dogmática para produzir condenação, pode-se cometer excessos. O Supremo Tribunal Federal não é um Tribunal Penal, mas Constitucional. Estava em jogo não só quadrilhas e corruptos do mercado, infestados na coisa pública, mas a possibilidade de se estabelecer um marco institucional definitivo provocador de uma reforma política radical no país. Nada disso foi tratado. O tema de financiamento público de campanha sequer foi lembrado com destaque. A isonomia de tratamento com o mensalão tucano vai ser “destratada” agora ou recebida com o clima de paz, harmonia e o “dia do domingo” tocado na guitarra de um Ministro no dia de posse do mencionado Ministro Negro. Azeredo pode ser condenado, mas num clima de tranquilidade, sem eleição ou qualquer movimento do tipo.
Por outro lado, ele- Nosso Ministro Negro Presidente- ter afirmado voto em Lula e Dilma nada tem a ver com julgamento de direito de uma Corte Constitucional .Só desviou o foco da discussão naquele momento. Quando algumas pesquisas já demonstravam, expresso ou implicitamente, que o “suposto mensalão” não iria influenciar o futuro das eleições municipais de 2012, ficou fácil dar entrevista aliviando a barra, não?. Nessas condições, ninguém “é besta para tirar onda de herói” e agora pouco importa, no jogo político, se Dirceu foi condenado ou não. Suponho que, enquanto Ministro da Casa Civil, este não queria o nosso Ministro Negro na Corte Suprema. Sua ida para o STF, como se disse acima, se deveu a um quadro de articulação da Igreja e a um advogado que compunha o atual “esquadrão” de defesa dos réus. Senti um cheiro de vingança e raiva naquela posição tão raivosa contra o ex-dirigente petista. Mas tudo isso faz parte do passado e é matéria para psicanalistas e não para análise política. Afinal, até ontem, era outro o interesse no capítulo da novela “Avenida Brasil”, hoje já tem gente achando a vingança da Nina ou Carminha uma chatice desbotada. O caso do goleiro Bruno do Flamengo nem de longe desperta o interesse da nossa nação para o direito. O interesse popular no direito se arrefeceu depois das eleições…Por que será?
Torço para que a sua Presidência da Casa seja exitosa. Torço mesmo. E prometo não torrá-los mais na paciência com longas postagens por um tempo, entretanto, convido a todos também para observar este poder judiciário de baixo para cima e de cima para baixo sem racismo e sem preconceitos de qualquer natureza. Ele – o primeiro Ministro do Supremo Negro na história deste país- não deve ser o principal alvo, talvez seja mesmo uma vítima dessa situação toda. A proteção da “orelha grande” está em outro lugar. Mas nisso ninguém toca, nem sequer dá um peteleco. A fonte da “Cachoeira” continua a céu aberto e sabemos que ela não nasce no cerrado de Goiás. Nasce numa floresta com Tucanos e jararacas perto de uma fazenda já quase no Pantanal. O nosso Ministro Presidente já quis cutucar o cão com vara curta na época do julgamento de um Habeas Corpus que levantou polemica sobre o uso de algemas, mas recuou. Viu que o liberalismo do outro não funcionava sempre. No julgamento do mensalão,estavam do mesmo lado, ainda que sem querer. Quando o lobisomem apareceu atrás da moita, viram os dois que faziam parte da mesma fauna de juristas e o susto foi grande.
Espero sinceramente que ele- “O Senhor Presidente , – não fique incensado com as benesses do Diário Oficial da Casa Grande. Conheci filhos de faxineiros e lavadeiras que não tiveram a mesma sorte. Não se pode esquecer, contudo, que foi um trabalhador tão criticado por não ter um dedo em uma das mãos que o indicou. Foi aquele primeiro a reconhecê-lo para tal destino. Faça, Eminente Ministro, da casa do STF um quilombo de resistência, capaz de expulsar os porta-vozes dos Senhores de Engenho e não um albergue disfarçado e enganoso para quem sempre foi contra o abolicionismo.
Abolicionismo posto aqui em todos os sentidos. A essa altura tenho até saudades de Rui Barbosa que defendia o quilombo do Leblon contra as investidas da monarquia, mas passou para história do senso comum como quem rasgou e queimou os arquivos da escravidão. A história pode ser recontada. É uma questão de tempo.
*[N.E.] Texto publicado originalmente como postagem no Facebook. Publicado sem alterações com autorização do autor.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

100 livros clássicos para download


Uma compilação com 100 obras, entre autores brasileiros e estrangeiros, escolhidas entre os 10 mil títulos disponíveis no portal Domínio Público. A lista, traz desde livros seminais, formadores da cultural ocidental, como “Arte Poética”, de Aristóteles, até o célebre “Ulisses”, de James Joyce, considerado um dos livros mais influentes do século 20, além de clássicos brasileiros e portugueses. Todo o acervo do portal DP é composto por obras em domínio público ou que tiveram seus direitos de divulgação cedidos pelos detentores legais. No Brasil, os direitos autorais duram setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subsequente à morte do autor. 

A Divina Comédia — Dante Alighieri
Ulysses — James Joyce
A Metamorfose — Franz Kafka
Don Quixote. Vol. 1 — Miguel de Cervantes Saavedra
Don Quixote. Vol. 2 — Miguel de Cervantes Saavedra
Cândido — Voltaire
Uma Estação no Inferno — Arthur Rimbaud
Iluminuras —Arthur Rimbaud
A Esfinge sem Segredo — Oscar Wilde 


Viagens de Gulliver — Jonathan Swift


Poemas — Safo
O Elixir da Longa Vida — Honoré de Balzac
Arte Poética — Aristóteles


Via—Láctea — Olavo Bilac


As Viagens — Olavo Bilac
Contos para Velhos — Olavo Bilac
A Mensageira das Violetas — Florbela Espanca
Poemas Selecionados — Florbela Espanca
Livro de Mágoas — Florbela Espanca
Charneca em Flor — Florbela Espanca
Livro de Sóror Saudade — Florbela Espanca
O Livro D'ele — Florbela Espanca
O Guardador de Rebanhos — Fernando Pessoa


Poemas de Fernando Pessoa — Fernando Pessoa


Poemas de Álvaro de Campos — Fernando Pessoa
Poemas de Ricardo Reis — Fernando Pessoa
Primeiro Fausto — Fernando Pessoa
O Pastor Amoroso — Fernando Pessoa
A Cidade e as Serras — Eça de Queirós
Os Maias — Eça de Queirós
Contos —Eça de Queirós
A Ilustre Casa de Ramires — Eça de Queirós
A Relíquia — Eça de Queirós
O Crime do Padre Amaro — Eça de Queirós
Vozes d'África — Castro Alves
Os Escravos —  Castro Alves
O Navio Negreiro — Castro Alves
Espumas Flutuantes — Castro Alves
Eu e Outras Poesias — Augusto dos Anjos
Eterna Mágoa — Augusto dos Anjos
Os Sertões — Euclides da Cunha
Canção do Exílio — Antônio Gonçalves Dias 


Dom Casmurro — Machado de Assis


Esaú e Jacó — Machado de Assis
Quincas Borba — Machado de Assis
Contos Fluminenses — Machado de Assis
O Alienista — Machado de Assis
As Academias de Sião — Machado de Assis
Memorial de Aires — Machado de Assis 


Romeu e Julieta — William Shakespeare


A Comédia dos Erros — William Shakespeare
A Megera Domada — William Shakespeare
Macbeth — William Shakespeare
Hamlet — William Shakespeare
Otelo, O Mouro de Veneza — William Shakespeare
O Mercador de Veneza — William Shakespeare
Antônio e Cleópatra — William Shakespeare
Ricardo III — William Shakespeare
Os Lusíadas — Luís Vaz de Camões
Redondilhas — Luís Vaz de Camões
Canções e Elegias — Luís Vaz de Camões
A Carta — Pero Vaz de Caminha
Fausto — Johann Wolfgang von Goethe
Lira dos Vinte Anos — Álvares de Azevedo
Noite na Taverna — Álvares de Azevedo
Obras Seletas — Rui Barbosa
Odisseia — Homero
Iliada — Homero
História da Literatura Brasileira — José Veríssimo Dias de Matos
Utopia — Thomas Morus
A Carne — Júlio Ribeiro
Édipo—Rei — Sófocles
Memórias de um Sargento de Milícias — Manuel Antônio de Almeida
A Dama das Camélias — Alexandre Dumas Filho
A Dança dos Ossos — Bernardo Guimarães
A Escrava Isaura — Bernardo Guimarães
A Orgia dos Duendes — Bernardo Guimarães
Seleção de Obras Poéticas — Gregório de Matos
Contos de Lima Barreto — Lima Barreto
Diário Íntimo — Lima Barreto
O Livro de Cesário Verde — José Joaquim Cesário Verde
Brás, Bexiga e Barra Funda — Alcântara Machado
Schopenhauer — Thomas Mann 


A Capital Federal — Artur Azevedo


Antigonas — Sofócles
A Poesia Interminável —  Cruz e Sousa
Antologia — Antero de Quental
A Conquista — Coelho Neto
As Primaveras — Casimiro de Abreu
Carolina — Casimiro de Abreu
A Desobediência Civil — Henry David Thoreau