sábado, 17 de dezembro de 2011

Imagine quem vem lá de Japeri.

E o Júlio o que acha disso?




Mais sobre o tumulto dessa semana:


E o Secretário?

Privataria Tucana, Coisa do Brasil?

Vamos afundar abraçados, nosso amor é lindo

A vitória parcial é dos “doidos” e “sujos”: CPI da Privataria Tucana vem aí!


por Rodrigo Vianna
A “Folha” levou uma semana para falar no livro de Amaury. Talvez esperasse as orientações do “comitê central”. As orientações parecem ter chegado sem muita clareza. O jornal da família Frias, num texto opaco que nenhum jornalista teve coragem de assinar, levanta suspeita não contra Serra e sua turma de especialistas em “offshore” – mas contra o premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.
A “Folha” não se preocupou com a “ficha” do Bob Jefferson antes de noticiar o chamado “Mensalão”. O que importava ali era a denúncia. Bob falou e a mídia correu para “provar” o roteiro que ele indicou (sem nenhuma prova, diga-se). Havia verdades na fala de Bob, mas tambem alguns exageros. O “Mensalão” propriamente dito (que a Globo tentou transforma no “maior escândalo da história”) não existia no sentido de um pagamento mensal a deputados governistas. Mas havia, sim, um esquema subterrâneo, que o PT parece ter herdado dos tucanos de Minas. 
Da mesma forma, a “Folha” não se preocupou em saber se o homem que denunciava o Ministro Orlando Silva era ou não um bandido. Valiam as acusações, sem provas. O roteiro estava pronto. O ministro que provasse a inocência.
Com Amaury e a Privataria Tucana, há provas aos montes. Há documentos no livro. Mais de cem páginas. E há o currículo de um repórter premiado. Mas a “Folha” faz o papel de advogada do diabo. Quem seria o “coiso ruim” que a “Folha” quer defender?
Outro dado curioso. Lula foi ao poder e jamais investigou as privatizações. Havia um acordo tácito (e tático) para não promover caça às bruxas. Na Argentina, no México, na Bolívia, a turma dos privatas foi demolida. Aqui no Brasil, eles dão consultoria e palestras. Coisas do Brasil. Feito a jabuticaba.
Dez anos depois, a história das privatizações ressurge, pelo esforço e a coragem de um jornalista que alguns consideram “doido”, por mexer com “gente tão poderosa”. Amaury tem aquele jeito afobado, e o olhar injetado que só os sujeitos determinados costumam mostrar. Agora, querem desqualificá-lo. Covardia inútil.
Até porque um outro sujeito chamado de “doido”, o delegado e deputado federal Protógenes, botou o livro debaixo do braço e saiu coletando assinaturas para a CPI da Privataria. Nessa quinta-feira, dia 15 de dezembro, Protógenes anuncia ter atingido mais de 171 assinaturas.
A CPI da Privataria vem aí. Contra a vontade de Otavinho, Ali Kamel, Civita e dos colunistas histéricos que servem a essa gente. Meia dúzia de blogueiros sujos (obrigado, Serra) avisou o público: há um livro sobre as privatizações na praça. A brava “CartaCapital” – de Mino Carta, Sergio Lirio e Leandro Fortes – publicou 12 páginas sobre o livro. E os leitores nas redes sociais espalharam a notícia.
Verdade que setores da grande imprensa furaram o bloqueio – a notícia saiu na Record, Record News, Gazeta, Portal Terra… Mas e na Globo e na CBN que convocam “marchas contra a corrupção”? Silêncio dos cemitérios sicilianos.
Não importa. O barulho foi feito pelos blogs, pelas redes sociais e pelos poucos jornalistas que não se renderam ao esquemão do PIG. É uma turma que colegas mais bem estabelecidos costumam chamar de “gente doida da internet”.
Pois bem. A conexão dos “doidos” e “sujos” ganhou o primeiro round nesse episódio da Privataria. Como já havia ganho no caso da bolinha de papel em 2010.
Vejam bem. Não foi o PT, nem a máquina petista (parte dela, aliás, sai mal do livro - por conta do acordo na CPI do Banestado, e da guerra interna no comitê petista em 2010 narrada por Amaury) que fez barulho. Não. Foi a turma aqui da internet.
O Serra levou outra bolinha na testa. Essa deve ter doído de verdade. Serra chamou o livro de “lixo”. De fato, as operações narradas por Amaury cheiram mal. A Privataria cheira mal. E o livro é pesado, recheado de documentos.
Será que Kamel convocará o perito Molina para provar que o livro não existe? O problema será convencer os leitores dos blogs e os quase 200 deputados que já assinaram o pedido da CPI. A primeira – em muitos anos - que pode vir sem ter sido precedida de campanha movida pela velha mídia.
Essa CPI, se vingar (e ainda há armadilhas no caminho), virá contra a velha mídia. Será a vitória dos sujos e doidos contra o bloco dos hipócritas.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Eu sou Júlio Lopes, o Secretário Estadual de Transportes do Rio de Janeiro

Oi muito prazer,

Meu nome é Júlio Lopes, por mais que pensam que eu não exista, eu sou o atual Secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro. Eu tenho salário pago com os impostos do cidadão fluminense para NÃO fiscalizar as constantes quebras dos trens da SuperVia, para NÃO fiscalizar os atrasos e a superlotação do Metrô, para NÃO apurar os acidentes com vítimas das Barcas, para NÃO apurar o acidente com mortes do bonde de Santa Teresa, para NÃO gerenciar as concessões dos ônibus intermunicipais que estão caindo aos pedaços e para NÃO controlar os absurdos dos pedágios da rodovias estaduais.
É muita coisa para eu NÃO fazer, né? Mas eu sou assim, não gosto de aparecer diante dos problemas, não gosto de resolve-los, mas de quatro em quatro anos eu peço o seu voto e depois meu padrinho Governador me coloca numa Secretaria com orçamento bem gordo para eu administrar. Eu sou um SUCESSO! OBRIGADO e muito prazer, pra mim lógico.

Fatos, Não Palavras! Os Direitos Humanos em Cuba.

Excelente documentário que mostra como é falacioso os discursos moldados para se criticar a Liberdade e a Democracia Cubana.




quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A direita que nunca pode dizer que é direita

Guilherme Riscali: A direita que nunca pode dizer que é direita
por Guilherme Riscali
Ciclope: E você, estranho, diga‑me o nome pelo qual devo lhe chamar.
Odisseu: Ninguém. E que vantagem vou ganhar para lhe agradecer?
(Eurípides, Ciclope, vv.549‑50)

Já ganharam o DCE na UFRGS, venceram na UnB, agora na UFMG e estão crescendo na USP. Novos grupos aparecem no cenário do movimento estudantil (ME) por todo o país. Suas propostas se dizem revolucionárias, embora tenham tremuras diante de qualquer menção da palavra ‘revolução’. Ótimo – poderíamos dizer – a diversidade política é uma vitória para a capacidade de formulação e de atuação dos movimentos dos estudantes. Mas será que esses grupos estão prontos para se admitirem como parte de uma diversidade política?

Muito já se falou sobre sua ligação com setores abertamente conservadores da política do país. O que talvez ainda falte escrutinar é o que está por trás da insistência, apesar dessas ligações claras, de um discurso do apartidarismo, que é lugar comum entre esses grupos emergentes.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que, de fato, a atuação partidária no movimento estudantil tem tido dificuldades para operar em sincronia com as reivindicações e mobilizações dos estudantes. É claro que existem problemas surgidos do fato de que certas correntes – ligadas ou não a partidos – frequentemente parecem confundir os interesses coletivos com os de seus coletivos e colocar à frente do movimento pautas que nem sempre são o desejo da maioria. Ninguém que já tenha participado de alguns dos fóruns principais do ME seria capaz de negá‑lo. Todos reconhecem os problemas, mais ou menos abertamente, e muitos (inclusive correntes partidárias) estão seriamente empenhados em superá‑los.
Sem dúvida é mais fácil, diante disso, colocar‑se à parte dos problemas, apontar, condenar, e prometer um mundo novo. É uma estratégia de fácil cooptação política e arrecadação de votos. Surpreende, porém, a veemência com que seus membros negam sua óbvio relação com organizações políticas conservadoras, e a preocupação enorme que têm em desligar seus nomes daqueles de partidos políticos tradicionais da direita (como PP, DEM e PSDB). Por que esses grupos insistem no apartidarismo como meio de se distinguir de todo o conjunto do movimento estudantil existente?
Que a imagem dos partidos a que esses grupos se ligam não seja lá das melhores certamente é um bom motivo. Mas algo ainda mais preocupante parece se esconder por trás desse discurso. Há razões para suspeitar de que existe mais aí do que simplesmente tática eleitoral, e que essa insistência provém, isso sim, de uma posição política bastante peculiar.
É preciso pensar, então, no significado amplo de ‘partido’. Esse partido que eles rejeitam, mais do que a instituição política organizada, é a própria ideia de uma partição específica num coletivo social.
“Não se trata aqui de crítica à esquerda ou à direita. A crítica a ser feita é contra a partidarização e  ideologização do movimento estudantil” – dizem, em seu texto de apresentação (1), sempre fazendo questão de ressaltar o seu distanciamento de qualquer inflexão política. Esquerda e direita são conceitos ultrapassados, preocupação de gente rancorosa.

Classes sociais?
Doutrina marxista.

Pretendem um campo social homogêneo, não partido, não dividido, que não discorda sobre as decisões a serem tomadas e que pensa sempre da mesma maneira.

Sua pretensão é a de superar as disputas políticas e aparecer como chapa branca, neutra. Eles engendram, na verdade, “não um discurso político novo, mas o discurso sobre a política como tal, discurso que se circunscreve procurando em si mesmo sua garantia, que aspira à transparência do sentido ao se fazer conhecer por um sujeito universal (ou, melhor dizendo, fingindo não ser o discurso de ninguém, não ser falado de parte alguma e se oferecer a todos)” (2).

É um discurso que, para funcionar, exige a absoluta pacificação do campo do político. Isso porque precisa assumir um político absolutamente liso, sem dobras ou fissuras. É preciso ignorar que existem fraturas irreconciliáveis no campo do social, gerando tensões que não podem ser meramente suprimidas do registro político. Antes de tudo, constroem sua imagem colocando‑se fora do jogo político, negando‑o.

Eles não têm interesses, apenas advogam “defender a Representação Discente livre, soberana e isenta de interesses político‑partidários” (3). Não reconhecem que haja qualquer tipo de interesse político em sua atuação porque não podem aparecer como uma partição, como parciais. Tendo então negado a divisão social e a disputa política, finalmente podem aparecer como um discurso da totalidade, de todos os estudantes, sem partido.
Neutralizados enquanto sujeitos políticos, devidamente transformados em ‘ninguéns’, esses grupos podem aparecer como simples administradores executando a vontade de um conjunto social totalmente apaziguado.
É a partir da negação de sua própria identidade política que armam o seu jogo, e por sua identidade política supostamente vazia se tornam atraentes.
Tornam‑se invólucros sem vontade, a serem preenchidos, sem atrito, sem resistência, pelo rosto desse mítico ‘todos’. São como aqueles antigos cenários de fotos em que podíamos colocar o próprio rosto no corpo de vários tipos de personagens (esse, infelizmente, no corpo de um boneco abraçado ao Maluf).
Em nenhum momento esses grupos se posicionam politicamente num debate que é abertamente político.

Eles escamoteiam suas críticas, com a ajuda de inúmeros dados técnicos, sob a forma de simples alterações no modus operandi do movimento estudantil, sem nunca deixar claras suas intenções (4).

Baseiam “suas atividades na assistência aos discentes, na defesa da excelência acadêmica e na eficiência em projetos que tenham como foco prioritário a própria comunidade universitária” (5).
Faz parte de seu projeto: o esvaziamento do campo político vem acompanhado da ideia de que tudo se trata de uma questão administrativa, técnica mesmo.
Agora é uma questão de certo e errado ou, com mais argúcia, de eficiente e ineficiente. Está completa a sua ideologia.
Falta‑lhes, por sorte, a astúcia de Odisseu. Esse discurso já não é mais novidade. A ideia de um social homogêneo, a ilusão da política como técnica, a aspiração à totalidade são procedimentos clássicos da ideologia direitista, que podemos prontamente identificar. Procedimentos de uma direita que, para funcionar, não pode nunca dizer que é a direita, e tem necessidade de “disfarçar os traços das condições de sua formação” (6), de apagar suas pegadas (e fotos com o Geraldo Alckmin), e esconder os seus rastros.

Esse é o discurso ideológico, de fato, que precisa ser escancarado se quisermos um debate político – pois é disso que se trata – aberto e efetivo. A diversidade política, de nossa parte, é sempre bem-vinda, desde que ao menos se reconheça que ela existe.

2 Claude Lefort, La naissance de l’idéologie et l’humanisme, p.236.
6 Claude Lefort, Id., p.238

A Alternativa ao Neoliberalismo Se Chama Consciência por Saramago

Espaço aberto para Saramago.


"Tudo se discute nesse mundo, menos uma coisa não se discute: não se discute a Democracia." (José Saramago)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre Democracia Popular

Sobre a Ditatura da Democracia Popular

Mao Tse-Tung

1949



A 1º de julho de 1949, o Partido Comunista da China completa 28 anos. Da mesma forma que o ser humano, os partidos passam pela infância, adolescência, maturidade e senilidade. O Partido Comunista da China já não é um menino, nem tão pouco um jovem menor de 20 anos. Alcançou a maturidade. Quando o homem chega à velhice, morre. O mesmo acontece com o Partido. Quando tiverem desaparecido as classes, os instrumentos da luta de classes — os partidos políticos e o aparelho estatal — perderão, por causa disso, sua razão de ser, deixarão de ser necessários e desaparecerão gradualmente, depois de cumprir sua missão histórica. O desenvolvimento da humanidade terá então atingido um grau superior.
Nosso Partido se diferencia radicalmente dos partidos políticos da burguesia. Estes, temem falar do desaparecimento das classes, do poder estatal e dos partidos. Mas nós declaramos abertamente que travamos uma luta pertinaz exatamente para criar condições para a liquidação de todos esses fatores. O Partido Comunista e o poder estatal da ditadura popular criam, precisamente, essas condições. Quem não admite essa verdade não é comunista. É possível que jovens camaradas, que ingressaram no Partido há pouco tempo e não leram os fundamentos do marxismo-leninismo, não compreendam essa verdade. Devem compreende-la para adquirir uma acertada concepção do mundo. Devem compreender que toda a humanidade percorrerá o caminho do desaparecimento das classes, do poder estatal e dos partidos; isto é apenas questão de tempo e de condições. Em todo o mundo os comunistas são homens mais desenvolvidos que a burguesia. Compreendem as leis do surgimento e desenvolvimento dos fenômenos. Compreendem a dialética e vêem longe à sua frente. Esta verdade não agrada à burguesia, já que não quer ser derrubada pelo povo. Para ela é duro e doloroso pensar que pode ser derrubada, como nós estamos derrubando os reacionários do Kuomintang e como, há pouco tempo, derrubamos o imperialismo japonês em cooperação com os povos de vários países. Para a classe operária, o povo trabalhador e os comunistas, não existe o problema de serem derrubados. O problema que se coloca para eles é o de realizar um árduo trabalho no sentido de criar as condições para o desaparecimento e natural das classes, do poder estatal e dos partidos políticos, a fim de que a humanidade entre no caminho do comunismo no mundo inteiro.
A Arma do Marxismo-Leninismo
REFERIMO-NOS aqui às perspectivas do desenvolvimento da humanidade para elucidar as seguintes questões. Nosso Partido completou 28 anos. Todo mundo sabe que esses anos não transcorreram pacificamente, mas em meio a dificuldades. Tivemos de lutar contra os inimigos de dentro e de fora do país, dentro do Partido e fora dele.
Agradecemos a Marx, Engels, Lênin e Stálin que nos deram uma arma.
Essa arma não é a metralhadora, mas o marxismo-leninismo. Em seu livro "A doença infantil do "esquerdismo" no comunismo", escrito em 1920, Lênin fala de como os russos buscavam a teoria revolucionária. Depois de vários decênios de dificuldades e provações chegaram, finalmente, ao marxismo. A China tem vários pontos comuns e parecidos com a Rússia de antes da Revolução. Em ambas imperava o mesmo jugo feudal. Os dois países eram atrasados do ponto de vista econômico e cultural, sendo a China ainda mais atrasada do que a Rússia. Os homens progressistas travavam uma luta difícil procurando a verdade revolucionária para realizar o ressurgimento nacional; era um traço comum aos dois países.
Em 1840, quando a China perdeu a guerra do ópio, os chineses avançados passaram por inúmeras dificuldades procurando a verdade nos países ocidentais. Hun Siui-Tchuan, Kan-Iu-Vei, Ian-Fu e Sun Yat Sen representavam o grupo de homens que se esforçavam por encontrar a verdade no Ocidente, quando ainda não havia nascido o Partido Comunista da China. Então, os chineses que desejavam o progresso, liam todos os livros das novas doutrinas ocidentais. Era muito grande o número de pessoas que iam estudar no Japão, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França e na Alemanha. Tudo se fez para aprender com o Ocidente. Foi abolido o velho sistema de exames para ocupar postos no aparelho estatal e aumentou-se o número de escolas. Durante a minha juventude, também estudei essas coisas. Era a cultura da democracia burguesa do Ocidente, também chamada de nova escola, e compreendia as doutrinas da sociologia e das ciências naturais desta época, opondo-se à cultura do feudalismo chinês, chamada de velha escola.
Durante muito tempo, os homens que adquiriram os novos conhecimentos, acreditavam firmemente que a nova escola salvaria a China.
Com exceção dos representantes da velha escola, pouquíssimos representantes da nova escola tinham dúvidas a esse respeito. Na sua opinião, o único meio de salvar o país era realizar reformas, para o que necessitavam aprender com as potências estrangeiras. Naquela época, as únicas potências estrangeiras progressistas eram os países capitalistas ocidentais. Esses países haviam criado um Estado burguês moderno. Os japoneses conseguiram bons resultados aprendendo com o ocidente, e os chineses queriam agora aprender com os japoneses. Para os chineses, a Rússia era nesta época um país atrasado e muito poucos queriam aprender com ela. Foi assim que os chineses aprenderam com os Estados estrangeiros, entre 1840 e começos do século XX. A agressão imperialista destruiu o sonho dos chineses de aprender com o Ocidente.
Não é realmente estranho que os mestres vivessem invadindo a casa dos alunos? Os chineses haviam aprendido muito com o Ocidente, mas nada do que aprenderam podia ser posto em prática. Seus ideais não puderam ser realizados. Muitas vezes a luta terminava em derrota, inclusive o movimento nacional que foi a revolução de 1911. A situação do país piorava dia a dia, até que a vida se tornou impossível para o povo. Surgiram dúvidas, que foram ganhando corpo.
A Luz da Revolução de Outubro
A primeira guerra mundial abalou todo o mundo. Os russos fizeram a Revolução de Outubro, criando o primeiro Estado socialista do mundo. Sob a direção de Lênin e Stálin, a energia revolucionária do grande proletariado russo e do povo trabalhador, até então oculta e invisível para os estrangeiros, irrompeu subitamente, como um vulcão. Toda a humanidade, inclusive os chineses, reagiu de modo diferente em relação aos russos. Foi então, e somente então, que os chineses que trabalhavam na esfera da ideologia entraram numa era completamente nova. Os chineses, por eles mesmos, encontraram a verdade universal do marxismo-leninismo, aplicável em todos os lugares, e o aspecto da China começou a se modificar. Os chineses ficaram conhecendo o marxismo quando ele foi aplicado pelos russos. Antes da Revolução de Outubro, os chineses não conheciam Lênin e Stálin, nem tão pouco Marx e Engels. As salvas da Revolução de Outubro trouxeram-nos o marxismo-leninismo. A Revolução de Outubro ajudou os elementos progressistas do mundo e da China a aplicar a doutrina proletária para determinar os destinos do país e fazer a revisão de seus próprios problemas. Seguir o caminho dos russos; esta foi a conclusão.
Em 1919 a China presenciou o movimento do "4 de Maio", e, em 1921, foi fundado o Partido Comunista da China. Quando Sun Yat Senjá havia perdido todas as esperanças é que se realizou a Revolução de Outubro e foi criado o Partido Comunista da China. Sun Yat Sensaudou a Revolução de Outubro, saudou a ajuda dos russos aos chineses e colaboração do Partido Comunista da China com ele.
Sun Yat Sen morreu e Chiang Kai Shek chegou ao poder. Em 20 anos, Chiang Kai Shek submergiu a China numa situação de desesperada miséria. Durante esse tempo ocorreu a segunda guerra mundial antifascista, na qual a União Soviética atuou como força principal, foram derrotadas três grandes potências imperialistas, duas outras foram debilitadas e apenas um país imperialista no mundo, os Estados Unidos não sofreu perdas. Entretanto, a crise interna nos Estados Unidos tem um caráter muito sério. Os Estados Unidos querem escravizar o mundo. Ajudaram a Chiang Kai Shek, armando-o para que exterminasse vários milhões de chineses.
Sob a direção do Partido Comunista, e depois de expulsar os imperialistas japoneses, o povo chinês travou durante três anos uma guerra de libertação nacional e obteve uma grande vitória. Assim, a civilização da burguesia ocidental, a democracia burguesa e a república burguesa fracassaram aos olhos do povo chinês. A democracia burguesa cedeu seu lugar à democracia popular, dirigida pela classe operária, e a república burguesa cedeu seu lugar à república popular. Torna-se assim possível alcançar o socialismo e o comunismo através da república popular, torna-se possível liquidar as classes e chegar ao comunismo mundial. Kan Iu Vei escreveu um livro sobre o comunismo mundial, sem todavia descobrir o caminho que leva a ele. A república burguesa existia nos Estados estrangeiros, mas não podia existir na China, porque a China era um país oprimido pelos imperialistas. O único caminho de suprimir as classes, de chegar ao comunismo mundial, passa pela república popular, dirigida pela classe operária. Todos os outros meios já foram experimentados e todos fracassaram. Os que adotaram outras doutrinas ou foram derrotados, ou reconheceram seus erros, ou mudaram de convicções. Os acontecimentos se desenvolveram com tal rapidez que muita gente acha que a mudança foi brusca e que precisam reaprender as coisas. Esse estado de espírito é compreensível. Aplaudimos esse afã de estudar de novo. A vanguarda do proletariado chinês estudou o marxismo-leninismo depois da Revolução de Outubro e fundou o Partido Comunista da China. Entrou então na luta política e durante 28 anos percorreu caminhos sinuosos antes de alcançar a vitória.
Partindo da experiência de 28 anos, podemos chegar à mesma conclusão a que Sun Yat Sen se referia em seu testamento e tirada da "experiência de quarenta anos":
"É preciso acreditar firmemente que, para conseguir a vitória, devemos despertar as massas do povo e unirmo-nos, na luta comum, aos povos do mundo que nos consideram uma nação igual em direitos".
Sun Yat Sen professava uma concepção do mundo diferente da nossa e se colocava em outro ponto de vista de classe ao examinar e resolver os problemas, mas, no que se refere à luta contra o imperialismo no século XX, chegou a uma conclusão que corresponde, no fundamental, às nossas.
Estamos do Lado do Socialismo
TRANSCORRERAM 24 anos da morte de Sun Yat Sen e, sob a direção do Partido Comunista da China, a teoria e a prática revolucionárias chinesas deram um gigantesco passo à frente que mudou radicalmente a fisionomia da China. Atualmente, o povo chinês tomou consciência de duas coisas fundamentais:
1.            — Da necessidade de despertar as massas populares do país. Isto significa a união da classe operária, do campesinato, da pequena burguesia e da burguesia nacional numa frente única, dirigida pela classe operária e a criação do Estado da ditadura da democracia popular, dirigido pela classe operária e baseado na aliança dos operários e camponeses.
2.            — Da necessidade de unir-se, na luta comum, com os países do mundo que nos tratam em pé de igualdade e com os povos de todos os Países. Isto significa aliança com a URSS, aliança com os países de democracia popular da Europa e aliança com o proletariado e as massas populares dos demais países, para formar uma frente única internacional.
Dizem-nos: "Vocês se inclinam para um dos lados".
É verdade. Os quarenta anos de experiência de Sun Yat Sen e os 28 anos de experiência do Partido Comunista nos convenceram firmemente de que, para conseguir e consolidar a vitória, devemos pender para um dos lados. É impossível ficar entre os dois — não existe terceiro caminho. Combatemos a camarilha reacionária de Chiang Kai Shek, que se inclina para o lado do imperialismo; igualmente, somos contra a ilusão de um terceiro caminho. No mundo inteiro, e não só na China, está-se necessariamente ou do lado do imperialismo ou do lado do socialismo. A neutralidade é uma camuflagem e não existe terceiro caminho.
Dizem-nos: "A conduta de vocês é provocadora em excesso".
Sim, trata-se da conduta que seguimos em relação aos reacionários chineses e estrangeiros, isto é, os imperialistas e seus cães de fila, e não em relação aos outros homens. Quanto aos reacionários estrangeiros e chineses não se coloca a questão de atitude provocadora, uma vez que se trata de reacionários. Só traçando uma linha de demarcação entre reacionários e revolucionários, denunciando os objetivos e as conspirações dos reacionários, mantendo a vigilância nas fileiras revolucionárias e elevando nossa própria moral é que poderemos isolar, subjugar e esmagar os reacionários. Diante de uma fera não se deve manifestar o menor temor. Devemos aprender com U Sun (um dos 108 heróis da celebre obra histórica "Todos os homens são Irmãos") que matou um tigre com as mãos na ponte de Tsinian. U Sun achava que o tigre da ponte de Tsinian devoraria qualquer pessoa, quer fosse ou não provocado. É preciso escolher: ou matar o tigre ou ser devorado por ele.
Dizem-nos que "necessitamos ter atividades comerciais".
Perfeitamente. Precisamos de atividade comercial. Limitamo-nos a ser contra os reacionários nacionais e estrangeiros que nos impedem de ter atividade comercial, mas não somos contra mais ninguém. É preciso que se saiba que são precisamente os imperialistas e seus lacaios, a camarilha reacionária de Chiang Kai Shek, que nos impedem de comerciar com as potências estrangeiras e estabelecer relações diplomáticas com elas. Quando tivermos mobilizado todas as forças, no país e no estrangeiro, para aniquilar os reacionários chineses e estrangeiros, haverá atividade comercial e será possível estabelecer relações diplomáticas com as potências estrangeiras em base de igualdade, de vantagem mútua de respeito recíproco da soberania territorial.
Pertencemos ao Campo Anti-Imperialista, Dirigido Pela União Soviética
DIZEM-NOS: "A vitória é possível mesmo sem ajuda internacional".
É uma opinião falsa. Na época do imperialismo, uma verdadeira revolução popular, em qualquer país, não pode triunfar sem ser ajudada de diversos modos pelas forças internacionais. Mesmo se a vitória é obtida, é impossível consolidá-la sem essa ajuda. Foi assim que se obteve e consolidou a vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro, como Stálin há muito nos disse. Foi precisamente assim que foram derrotadas três potências imperialistas e criados os países da nova democracia. É precisamente assim que a questão se apresenta hoje e se apresentará no futuro para o povo da China. Reflitamos: Se não existisse a União Soviética, se não se tivesse conseguido a vitória na segunda guerra mundial contra o fascismo, se — o que é singularmente importante para nós — o imperialismo japonês não tivesse sido derrotado, se na Europa não tivessem surgido os países de nova democracia, se não se tivesse reforçado a luta dos povos oprimidos do Oriente, se não se desenvolvesse a luta das massas populares nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Alemanha, na Itália, no Japão e nos outros países capitalistas contra a camarilha reacionária dominante, se não existissem todos esses fatores, a pressão das forças reacionárias internacionais seria, é claro, muito mais forte do que agora. Teríamos podido alcançar a vitória em tais circunstâncias? Certamente que não. Do mesmo modo seria impossível consolidar a vitória depois de a termos obtido. O povo chinês tem disso uma grande experiência. A declaração feita por Sun Yat Sen antes de morrer, sobre a união com as forças revolucionárias internacionais, foi, há muito tempo, expressão dessa experiência.
Dizem-nos que "necessitamos da ajuda dos governos inglês e norte americano".
No presente, este é um raciocínio pueril. Na Inglaterra e nos Estados Unidos de hoje, são os imperialistas que governam. Prestariam eles ajuda a um Estado popular? Se mantivéssemos relações comerciais com estes países, e considerássemos que estão dispostos a nos fornecer dinheiro em condições vantajosas para ambas as partes, qual seria a causa disso? Isto não aconteceria porque os capitalistas desses países quisessem ajudar ao povo chinês, mas porque eles querem enriquecer, porque os banqueiros querem receber juros para aliviar a crise. Os Partidos Comunistas, assim como os partidos e grupos progressistas desses países lutam atualmente pelo estabelecimento de relações comerciais e mesmo diplomáticas conosco. É uma boa intenção, é uma ajuda, e não se pode colocar esses atos no mesmo plano que os da burguesia desses países. Sun Yat Sen dirigiu-se muitas vezes aos países imperialistas para obter ajuda. Todos os seus apelos foram vãos e em lugar de ser auxiliado, foi atacado impiedosamente. No decorrer de toda a sua vida, Sun Yat Sen só recebeu ajuda internacional uma vez, e ela provinha da URSS. O leitor pode consultar o testamento de Sun Yat Sen, onde ele recomenda ao povo que não peça auxilio aos países imperialistas. Concitava o povo a "unir-se com os povos do mundo que nos consideram uma nação igual em direitos". O dr. Sun Yat Sen tinha experiência, pois havia sido enganado. Devemos lembrar de suas palavras e não nos deixarmos enganar de novo.
Do ponto de vista internacional pertencemos à frente antiimperialista dirigida pela União Soviética, e devemos voltar nossas esperanças para uma ajuda verdadeiramente amistosa dessa frente e não da frente imperialista.
Democracia Para o Povo e Ditadura Para a Reação
DIZEM-NOS: "Vocês instauram a ditadura".
Sim, caros senhores, tendes razão. Com efeito, instauramos a ditadura. A experiência acumulada pelo povo chinês durante vários decênios nos fala da necessidade de instaurar a ditadura da democracia popular. Isto quer dizer que os reacionários devem ser privados do direito de expressar sua opinião e que só o povo tem o direito de voto, o direito de manifestar sua opinião. Quem é o "povo"? Na etapa atual o povo da China é integrado pela classe operária, a classe camponesa, a pequena burguesia e a burguesia nacional. Sob a direção da classe operária e do Partido Comunista, estas classes se uniram para formar seu próprio Estado e escolher seu próprio governo, a fim de instaurar a ditadura sobre os lacaios do imperialismo — a classe dos latifundiários e o capital burocrático —, a fim de esmagá-los e só tolerar sua atuação dentro de certos limites, a fim de não permitir que passem desse limite, nem em palavras, nem em atos. Se em suas palavras e em seus atos tentarem passar desse limite, isso lhes será proibido e serão imediatamente castigados. O sistema democrático deve ser aplicado entre o povo, dando a este a liberdade de palavra, de reunião e de organização. O direito de voto é concedido unicamente ao povo, e não aos reacionários. Estes dois aspectos, de democracia para o povo e de ditadura para os reacionários, é que constituem em si a ditadura da democracia popular. Por que deve ser precisamente assim? É bastante claro que se não fosse assim, a revolução seria derrotada, a desgraça cairia sobre o povo e o Estado acabaria por sucumbir.
Dizem-nos: "Então vocês não querem destruir o poder estatal?".
Sim, queremos, mas não imediatamente. Não podemos destruir o poder estatal atualmente. Por que? Porque o imperialismo ainda existe, porque no país ainda existem os reacionários e as classes. Nossa tarefa, hoje em dia, consiste em fortalecer o aparelho do Estado popular. Isto se refere principalmente ao exército popular, à polícia popular, à justiça popular, à defesa nacional e à proteção dos interesses do povo. Eis aí a condição indispensável para que a China possa se desenvolver ininterruptamente sob a direção da classe operária e do Partido Comunista, para que ela possa se transformar de país agrário em país industrial, e passar da nova democracia à sociedade socialista e comunista, para que ela possa finalmente suprimir as classes e realizar o comunismo mundial.
O exército, a polícia e a justiça do Estado são uma arma de classe para oprimir outras classes. Para as classes hostis, o aparelho estatal é uma arma de opressão. É um instrumento de violência e não de "benevolência".
Democracia Popular e as Classes Exploradoras
DIZEM-NOS: "Vocês não são benevolentes".
É certo. Somos resolutamente contra o poder benevolente em relação a atos reacionários, aos reacionários ou classes reacionárias. Só exercemos uma administração benevolente em relação ao povo, e não em relação aos reacionários, aos reacionários e às classes reacionárias que não pertencem ao povo. O Estado popular defende o povo. Só no Estado popular pode o povo utilizar métodos democráticos em escala nacional e educar-se e reeducar-se plenamente a fim de se libertar da influência dos reacionários de seu país e do estrangeiro (no momento, esta influência ainda é muito grande, persistirá por multo tempo e não pode ser liquidada com rapidez); a fim de se despojar dos maus costumes e das ideologias absurdas adquiridas na velha sociedade e não seguir o caminho errôneo apontado pelos reacionários, mas continuar avançando e se desenvolvendo rumo ao estabelecimento da sociedade socialista e comunista.
Os métodos que nós aplicamos nesse domínio são democráticos; recorremos, de fato, aos métodos de persuasão e não de coação. Os que infringem a lei serão punidos, recolhidos à prisão ou mesmo condenados à morte. Mas não passam de casos isolados que se distinguem, em principio, da ditadura exercida sobre a classe reacionária como classe.
Quando o regime político dos reacionários tiver sido derrubado, serão concedidas terras, trabalho e meios de existência mesmo às classes reacionárias e à camarilha reacionária, com a condição de que não recorram à motins, à destruições e à sabotagens, para que se reeduquem trabalhando. Se não quiserem trabalhar, o Estado Popular às obrigará. Alem disso, será feito entre elas um trabalho político, de propaganda e de educação, como fizemos com os oficiais prisioneiros. Isto também pode ser chamado de administração benevolente. Mas realizaremos isso por meio da coerção contra as velhas classes hostis e não se pode colocar esse trabalho no mesmo plano de nosso trabalho educativo entre o povo revolucionário. Essa reeducação das classes reacionárias só pode ser levada a cabo num Estado de ditadura da democracia popular.
Se este trabalho for bem feito, as principais classes exploradoras da China — a classe dos latifundiários e a classe do capital burocrático e a classe do capital monopolista — terminarão por ser liquidadas. No concernente à outra classe exploradora, a burguesia nacional, pode-se na etapa atual realizar um grande trabalho educativo em seu seio. Quando o socialismo for realizado, isto é, depois da nacionalização das empresas privadas, a burguesia nacional poderá continuar a se educar e reeducar. O povo dispõe de um poderoso aparelho estatal e não teme a sublevação da burguesia nacional.
Sun Yat Sen e a Democracia
UM problema importante é a educação dos camponeses. As explorações camponesas são dispersas. A julgar pela experiência da União Soviética, a socialização da agricultura requer muito tempo e muito trabalho. Sem socialização da agricultura não pode haver socialismo pleno e sólido. Para socializar a agricultura é imprescindível desenvolver uma indústria poderosa, constituída principalmente por empresas do Estado. O Estado de ditadura da democracia popular deve resolver paulatinamente o problema da industrialização do país. Como este artigo não pretende tratar a fundo dos problemas econômicos, não entraremos aqui em pormenores.
O primeiro Congresso Nacional do Kuomintang, celebrado em 1924 sob a direção pessoal de Sun Yat Sen e do qual participaram os comunistas, aprovou um manifesto que se tornou famoso. Dizia-se no manifesto:
"O chamado sistema democrático nos países contemporâneos é com freqüência monopolizado pela classe burguesa e transformado num instrumento de opressão do povo. Mas a democracia do Kuomintang é patrimônio comum de todo o povo e não o patrimônio privado de uma minoria".
Se deixarmos de lado a questão de quem deve dirigir e de quem deve ser dirigido, a democracia acima mencionada, do ponto de vista de um programa político geral, corresponde à democracia popular ou nova democracia de que falamos.
Se ao sistema estatal que é patrimônio comum de todo o povo e não patrimônio privado da burguesia, acrescentarmos a direção da classe operária, esse sistema de Estado será a ditadura da democracia popular.
Chiang Kai Shek traiu Sun Yat Sen e utilizou a ditadura do capital burocrático e dos latifundiários como arma de opressão do povo chinês. Essa ditadura contra-revolucionária campeou durante vinte e dois anos e acaba de ser derrubada pelo povo chinês, sob nossa direção.
Os reacionários estrangeiros que nos criticam por nossa "ditadura" e "totalitarismo", são justamente os que exercem a ditadura e o totalitarismo de uma classe, a burguesia, contra o proletariado e o resto do povo. São precisamente os homens de quem Sun Yat Senfalava como sendo a classe burguesa que oprime o povo nos países contemporâneos.
Chiang Kai Shek copiou sua ditadura contra-revolucionária de seus cúmplices reacionários. Tchu Si, o filósofo da dinastia dos Sung, escreveu muitos livros e pronunciou muitos discursos que já esquecemos. Entretanto, tem uma frase que recordamos:
"Conduze-te com os outros da mesma forma que eles se conduzem para contigo".
É exatamente o que fazemos agora. Isto quer dizer: age com os imperialistas e seus lacaios, a camarilha reacionária de Chiang Kai Shek, da mesma forma que eles agiram com os demais. Desta e não de outra forma.
A ditadura revolucionária e a ditadura contra-revolucionária têm características opostas. A primeira aprendeu com a segunda. Este ensinamento é muito importante, pois se o povo revolucionário não aprendesse os métodos de dominar sobre os contra-revolucionários, não poderia manter seu regime que seria derrubado pela camarilha reacionária chinesa e estrangeira. A camarilha reacionária da China e do estrangeiro restabeleceria então o seu domínio na China e traria a desgraça ao povo revolucionário.
O Papel Dirigente da Classe Operária e Sua Aliança com o Campesinato
A base da ditadura da democracia popular é a aliança da classe operária, do campesinato e da pequena burguesia urbana e, principalmente, a aliança da classe operária com o campesinato, que constituem de 80 a 90 por cento da população chinesa. O imperialismo e a camarilha reacionária do Kuomintang foram derrubados, fundamentalmente, pela força da classe operária e do campesinato. A passagem da nova democracia ao socialismo dependerá principalmente da aliança dessas duas classes. A ditadura da democracia popular deve ser dirigida pela classe operária, pois só ela é a mais esclarecida, justa, desinteressada e conseqüente do ponto de vista revolucionário. A história de toda a revolução evidencia que, sem a direção da classe operária, a revolução está condenada ao fracasso. Mas, com a direção da classe operária a revolução triunfa. Na época do imperialismo, nenhuma outra classe, em nenhum país, é capaz de levar a verdadeira revolução à vitória. Assim o demonstrou claramente o fato de que a pequena burguesia e a burguesia nacional chinesa, que estiveram por diversas vezes à frente da revolução, sempre fracassaram.
Na etapa atual, a burguesia nacional tem uma grande importância. Continuamos a ter o imperialismo pela frente e trata-se de um inimigo feroz. A China precisará de muito tempo para realizar a verdadeira independência econômica. Só quando a indústria chinesa se tiver desenvolvido e quando o país não mais depender economicamente das potencias estrangeiras, é que a China poderá atingir uma independência plena e verdadeira. O peso específico da indústria moderna chinesa na economia nacional é ainda pequeno. Não dispomos ainda de estatísticas precisas, mas, de acordo com certos dados, podemos considerar que a indústria moderna fornece apenas dez por cento da produção industrial global da economia do país. Para diminuir a pressão dos imperialistas e fazer com que sua economia atrasada dê um passo à frente, a China deve aproveitar todas as empresas capitalistas urbanas e rurais que forem vantajosas para a economia nacional e que não prejudiquem o nível de vida do povo. Deve unir a burguesia nacional na luta comum. Nossa política atual consiste em limitar o capitalismo e não em destruí-lo.
Entretanto, a burguesia nacional não pode desempenhar um papel dirigente na revolução, da mesma forma que não pode ocupar uma posição dirigente no Estado, porque a situação social e econômica da burguesia nacional determina sua debilidade, sua falta de visão e de audácia. Disso decorre, também, o medo das massas que manifestam muitos de seus representantes. Sun Yat Sen conclamava a "despertar as massas" ou a "ajudar aos camponeses e operários". Quem deve despertá-los e ajudá-los? De acordo com Sun Yat Sen, a pequena burguesia e a burguesia nacional. Contudo, isso é irrealizável na prática. Por que terminaram em derrota os quarenta anos de trabalho revolucionário de Sun Yat Sen? Porque na época do imperialismo a pequena burguesia e a burguesia nacional não podem dirigir com êxito nenhuma verdadeira revolução. É inteiramente outra nossa experiência de 28 anos. Acumulamos uma experiência preciosa, na qual os três fatores principais são os seguintes:
Aprender com o Partido Bolchevique
·                     Um Partido disciplinado, armado com a teoria de Marx, Engels, Lênin e Stálin, que utiliza o método da auto-critica e é estreitamente lidado às massas;
·                     um exército, dirigido por esse Partido;
·                     uma frente única das diversas camadas e grupos revolucionários da sociedade, dirigidos por esse Partido.
É o que nos diferencia de nossos antecessores. Baseando-nos nesses três fatores obtivemos a vitória principal, percorremos um caminho difícil e lutamos contra as tendências oportunistas de direita e de esquerda no seio do Partido. Quando cometíamos erros graves, a revolução sofria reveses. Os erros e reveses nos formaram, nos tornaram mais sábios de forma que pudemos dirigir melhor nosso trabalho. Os erros são inevitáveis em cada Partido, em cada individuo, mas exigimos que sejam cometidos menos erros. Quando se comete um erro é necessário corrigi-lo, e quanto mais rápida e completamente se faça isso, melhor. Nossa experiência pode ser sintetizada da seguinte forma: ditadura da democracia popular, baseada na aliança dos operários e camponeses e dirigida pela classe operária (por meio do Partido Comunista). Esta ditadura deve unir-se a todas as forças revolucionárias internacionais. Esta é a nossa formula, nossa experiência fundamental, nosso programa fundamental.
Durante estes vinte e oito longos anos de existência, nosso Partido só fez uma coisa: obtivemos a principal vitória na luta revolucionária. Convém destacá-la porque é a vitória do povo e a vitória num país tão grande quanto a China. Entretanto, muito trabalho está ainda por fazer. O que foi feito até agora é apenas o primeiro passo de uma longa marcha de 10.000 li. Devemos ainda liquidar os restos do inimigo e temos pela frente a dura tarefa da construção econômica. Cedo teremos superado o trabalho a que estamos habituados e teremos de empreender trabalhos que desconhecemos. Nisto residem as dificuldades. Os imperialistas nos julgam incapazes de levar a bom termo o trabalho no domínio da economia; nos espreitam e esperam nosso fracasso. Devemos superar as dificuldades e aprender o que ainda não sabemos. Devemos aprender com todos (seja quem for) a trabalhar na esfera da economia. Devemos reconhecê-los como mestres e aprender com eles. Não devemos fingir saber tudo, se ignoramos alguma coisa. Não devemos nos converter em burocratas. É preciso pôr mãos à obra e, afinal de contas, aprenderemos a fazer esse trabalho em alguns meses, em um ou dois anos, em três ou cinco anos.
A principio, muitos comunistas da União Soviética também não sabiam trabalhar no domínio da economia, e os imperialistas também esperavam o seu fracasso. No entanto, o Partido Comunista da União Soviética venceu. Sob a direção de Lênin e de Stálin, não só pôde realizar um trabalho revolucionário, mas um trabalho construtivo. O Partido Comunista da União Soviética é o melhor mestre com quem podemos aprender. A situação internacional e nacional nos é propicia. Podemos confiar inteiramente na arma que é a ditadura da democracia popular para unir todo o povo do país, com exceção dos reacionários, e avançar inflexivelmente rumo ao objetivo que nos fixamos.